São Paulo, quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Jobim promete hospitais de campanha

Ministro da Defesa viaja ao Haiti e ouve dramático relato sobre terremoto de comandantes militares brasileiros no país

Dezenas de haitianos rumam a base brasileira em Porto Príncipe em busca de ajuda, mas só casos mais graves podem ser atendidos


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE (HAITI)

Os comandantes militares brasileiros no Haiti fizeram um drámatico relato ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se comprometeu incialmente a instalar hospitais de campanha militares. Jobim chegou ontem às 17h50 locais ao país, acompanhado do alto comando do Exército e da Aeronautica.
"As prioridades são médico, água e material de engenharia", afirmou o comandante militar da Minustah (missão de paz da ONU), o general brasileiro Floriano Peixoto Vieira Neto, em reunião na principal base brasileira no país. "Temos duas grandes frentes, a segurança, para evitar saques e invasões, e a ajuda humanitária, a parte logística." Segundo ele, foi o pior desastre no país em 200 anos.
O general estava em Miami (EUA) anteontem e foi trazido ao país com a ajuda do Comando Sul americano. O hotel onde morava, o Montana, o mais luxuoso do país, foi um dos prédios mais atingidos -ainda estão desaparecidos nos escombros seu assistente, seu ajudante de ordens e a secretária.
Na base, estão os corpos de 14 militares brasileiros e de Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Igreja Católica.
O local sofreu danos principalmente nas estruturas de alvenaria, danificando o melhor alojamento. Também foram afetados um galpão usado para recreação, a academia de ginástica e caixas d'água.
Floriano Peixoto afirma que uma das principais dificuldades tem sido o acesso aos locais de desmoronamento, já que quase todas as ruas estavam obstruídas pelos destroços.
Jobim e a comitiva foram direto do aeroporto até a base Charles, onde está a maior parte do contingente brasileiro. A reportagem da Folha, que havia chegado cerca de meia hora antes por meio de um voo fretado desde a República Dominicana, acompanhou o trajeto.

Destruição
Pelo caminho, apesar da escuridão, era possível ver a destruição dos prédios, principalmente os que tinham mais de um piso. Também havia alguns corpos cobertos no caminho.
No aeroporto, os voos comerciais deram lugar a aviões de ajuda humanitária de Estados Unidos, França, Canadá e Islândia. Algumas famílias haitianas embarcavam tanto em aeronaves de ajuda com pequenas avionetas, aparentemente fretadas.
Na entrada da base brasileira, dezenas de haitianos feridos se concentravam na entrada na esperança de ter ajuda, mas apenas os casos mais graves foram atendidos -há cerca de 70 feridos com gravidade.
A falta de capacidade hospitalar foi várias vezes apontada como o principal problema neste momento. Os três principais hospitais da cidade desabaram, soterrando médicos, enfermeiros e pacientes.
A Minustah conta com um hospital militar argentino perto do aeroporto, que já está sobrecarregado apenas com o atendimento do pessoal da ONU -a segurança da entrada chegou a ser reforçada por causa das ameaças de invasão.
Os militares brasileiros também estão preocupados com a própria segurança, já que a população sente cada vez mais a necessidade de água e atendimento médico.
"Vamos recolher os feridos e levar para onde? Para o hospital que já está lotado?", afirmou o coronel Bernardes, comandante do contingente brasileiro, que falou depois do general Floriano Peixoto.


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