São Paulo, quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

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Sabe-se muito pouco sobre tremores, diz especialista

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

O conhecimento científico acumulado a respeito dos terremotos ainda é pequeno, e cientistas devem continuar se esforçando para entender melhor esses fenômenos e conseguir antecipá-los.
O diagnóstico é do geofísico francês Eric Calais, professor e pesquisador da Universidade de Purdue (EUA). Especialista em fenômenos sísmicos na região do Caribe, Calais disse, em entrevista à Folha por telefone, que pode haver mais réplicas do tremor no Haiti.

 

FOLHA - O que aconteceu no Haiti do ponto de vista geológico?
CALAIS
- Uma fratura vertical de uma centena de quilômetros de cumprimento e dez quilômetros de profundidade se moveu de repente. O deslocamento, que durou apenas alguns segundos, foi de cerca de um metro, um metro e meio. O movimento se deu entre as placas do Caribe, ao sul, e norte-americana, ao norte, que se deslocam em velocidade relativamente alta -cerca de dois centímetros ao ano.
Entre as duas placas, há o que chamamos de fronteira de placa, uma área formada por muitas falhas paralelas. O epicentro do terremoto ocorreu no meio de uma dessas falhas, a de Enriquillo.

FOLHA - Pode haver mais réplicas?
CALAIS
- Devem continuar, na zona epicentral por algumas semanas ou meses, as réplicas no sentido estrito da palavra, que são sismos de menor magnitude, de 5,5 a 5,9. Esses tremores são capazes de causar estrago a construções já abaladas pelo choque principal. Se pode haver outro grande sismo ao longo da mesma falha ou de outra na mesma área? Não é impossível, mas é preciso investigar o caso mais a fundo.

FOLHA - A força de um terremoto tem a ver com a profundidade do seu epicentro?
CALAIS
- Quanto mais superficial for o sismo, quanto mais próxima da superfície terrestre for a zona ruptura, maior será o estrago. Tremores de magnitude 8 a 400 km de profundidade não causam estrago algum. Um tremor de magnitude 7 muito perto da superfície [10 km], como este, têm potencial altamente devastador.

FOLHA - Quais os precedentes de grandes terremotos na região?
CALAIS
- O mais recente grande sismo na região acontecera em 1946, no litoral nordeste da República Dominicana. Teve magnitude 8 e causou um tsunami e milhares de mortos. Em 1842, houve um tremor de magnitude 8 no norte de Haiti.
Em 1751 e 1770 houve terremotos de magnitude 7 e 8 no sul da ilha de Hispaniola, provavelmente na mesma falha que se rompeu no tremor de ontem. Ao longo do tempo os geólogos conseguiram mapear as falhas capazes de provocar sismos da região e geofísicos podem medir a velocidade com a qual essas falhas acumulam energia elástica.
Não se pode dizer quando terremotos acontecerão, mas sabíamos que aquela área estava sujeita a fortes abalos.

FOLHA - Terremotos desta magnitude são previsíveis?
CALAIS
- Nenhum método conhecido conseguiu resistir a todos os testes. Nós, cientistas, temos a obrigação de continuar estudando esses fenômenos para entender melhor os seus mecanismos e, quem sabe, encontrar a chave que permitirá identificar sinais precursores.

FOLHA - Falta muito para entendermos melhor os terremotos?
CALAIS
- O motor dos nossos carros é perfeitamente conhecido e entendido em seus mínimos detalhes. Mas ainda se sabe muito pouco a respeito da mecânica dos terremotos. Enquanto isso não mudar, continuaremos sem saber porque eles começam e terminam.


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