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GUERRA SEM LIMITES
Parte dos 660 detidos poderá ser libertada, mas os mais "radicais" seguirão presos por tempo indeterminado
EUA decidem rever prisões em Guantánamo
DA REDAÇÃO
Os EUA criarão uma comissão
para analisar os casos de mais de
650 suspeitos de envolvimento
com o terrorismo detidos em sua
base de Guantánamo, em Cuba,
mas pretendem manter parte deles sob detenção por tempo indeterminado.
A comissão ouvirá os argumentos dos prisioneiros e, se for o caso, de seus países de origem e determinará quais deles continuam
a representar uma ameaça para os
EUA e quais podem ser libertados
ou entregues à Justiça de seus países. O objetivo é manter apenas os
suspeitos mais "radicais".
A notícia foi divulgada pelo
"New York Times" e confirmada
pelo secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld.
Os EUA mantêm isolados em
Guantánamo, uma base encravada na ponta sudeste da ilha de Cuba, cerca de 660 suspeitos de ligação com a Al Qaeda, rede terrorista responsável pelos atentados do
11 de Setembro, e com o Taleban,
milícia extremista islâmica que
governava o Afeganistão até 2001,
quando foi deposta pelos EUA.
A maior parte foi detida no Afeganistão, durante a intervenção
militar liderada pelos americanos
após o 11 de Setembro. Há presos
de várias nacionalidades, de afegãos a árabes, incluindo europeus. A maioria é muçulmana.
Eles foram levados para Cuba,
onde estão há cerca de dois anos
sem que tenham sido adequadamente processados e julgados.
Os EUA os consideram como
"combatentes inimigos", e não
como prisioneiros de guerra (o
que lhes garantiria direitos previstos nas Convenções de Genebra).
Há planos para julgá-los em tribunais militares, cujas regras já
foram definidas.
"Reconheço que em nossa sociedade a idéia de deter pessoas
sem acesso a advogados e sem um
julgamento parece inusual", disse
o secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld.
"Temos de estar conscientes de
que essas pessoas não estão presas porque roubaram um carro
ou um banco. São combatentes
inimigos e terroristas detidos por
atos de guerra contra nosso país.
E é por isso que as regras diferentes se justificam", disse Rumsfeld.
O Exército americano, à frente
de uma coalizão internacional e
com ajuda de opositores afegãos,
derrubou o Taleban do poder no
final de 2001 sob o argumento de
que o grupo protegia a Al Qaeda,
que usava o Afeganistão como
um refúgio para treinar terroristas e planejar atentados.
O governo de George W. Bush
tem sido criticado por organizações de defesa dos direitos humanos por deter centenas de suspeitos sem processá-los segundo padrões internacionais. Os presos
estão isolados há milhares de quilômetros de seus países, sem direito a visitas de suas famílias ou
mesmo de um advogado.
Entre os prisioneiros, há cidadãos de países aliados, como Reino Unido e França, cujos governos têm tentado intermediar uma
solução satisfatória. Ontem,
Rumsfeld anunciou a repatriação
de um cidadão espanhol.
Segundo autoridades americanas, as detenções prolongadas
possibilitaram que os EUA reunissem informações vitais que resultaram em prisões importantes.
"A idéia de que um governo
possa manter alguém preso por
tempo indeterminado é repreensível", disse Michael Ratner, presidente do Centro para os Direitos
Constitucionais, baseado em Nova York, ao "Times".
"Como podemos saber, sem um
julgamento, se essas pessoas são
mesmo perigosas? Tudo se baseia
apenas na palavra do Exército",
disse Ratner.
Segundo o governo Bush, os
prisioneiros de Guantánamo não
têm direito às proteções constitucionais americanas porque a base
militar está fora do território dos
EUA. A Suprema Corte deve se
manifestar sobre o tema provavelmente em abril.
No momento, uma nova prisão,
com celas tradicionais e muros reforçados, está sendo construída
em Guantánamo, com capacidade para cerca de cem pessoas.
Nos últimos dois anos, os suspeitos têm sido mantidos em celas
improvisadas, de metal e apenas
parcialmente protegidas do ambiente externo.
Embora os EUA e Cuba, sob regime comunista, tenham uma rivalidade de várias décadas, a base
militar de Guantánamo seguirá
sob controle americano por tempo indeterminado.
Os EUA desembarcaram em
Guantánamo em 1898, quando
Cuba lutava para se tornar independente da Espanha. A independência acabou sendo declarada,
com apoio dos EUA, que, em troca, governaram o país até 1902 e
obtiveram o direito de intervenção no jovem país e de construir
uma poderosa base aeronaval.
Apesar do desejo do regime de
Fidel Castro de retomar o controle sobre a área, os EUA têm direito
de manter seu encrave militar na
ilha pelo tempo que desejar.
Com agências internacionais
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