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Corte militar é injusta, diz advogado de réu
ROSA TOWNSEND
DO "EL PAÍS", EM MIAMI
Michael Mori é comandante e
advogado do Corpo de Fuzileiros
Navais dos EUA. Foi indicado pelo Pentágono para defender um
dos seis presos de Guantánamo
escolhidos pelo presidente George W. Bush para serem julgados
em tribunais militares, também
conhecidos como "comissões".
Seu cliente é David Hicks, um
australiano que foi capturado
quando combatia ao lado do Taleban no Afeganistão. Ele ainda não
foi acusado formalmente.
Mori faz duras críticas aos tribunais militares por considerar
que, diferentemente dos conselhos de guerra, são injustos e
criam um precedente perigoso.
Por isso ele solicitou à Suprema
Corte que autorize as apelações a
tribunais civis dos EUA.
Pergunta - Os tribunais militares
constituem um sistema justo para
julgar os presos de Guantánamo ou
outros suspeitos de terrorismo?
Michael Mori - O sistema de comissões militares não vai garantir
um julgamento justo a Hicks, pois
não tem a independência nem as
garantias do sistema de Justiça
criminal dos EUA.
Pergunta - Os tribunais prevêem
a presunção de inocência e a necessidade de provas de culpa que excluam a dúvida razoável. Trata-se
de garantias suficientes?
Mori - O sistema dos tribunais é
um processo arcaico. A presunção de inocência, o direito de não
testemunhar e as provas que superam a dúvida razoável são promessas sem fundamento. Essas
comissões foram criadas unicamente para julgar os suspeitos de
terrorismo, e a única razão pela
qual alguém pode ver-se submetido a elas é que tenha sido classificado de suspeito de terrorismo. A
única presunção é, portanto, que
a pessoa seja terrorista.
O direito de não depor não faz
sentido num processo em que
uma pessoa pode ser detida por
quase dois anos sem acusação,
sendo interrogada. E com as respostas que dá nos interrogatórios
sendo usadas como prova contra
ela. As provas que excluem a dúvida razoável foram solapadas, na
medida em que o nível das provas
admissíveis foi rebaixado.
Pergunta - O sr. preferiria conselhos de guerra em lugar de tribunais? Quais são as diferenças entre
os dois?
Mori - É isso que Hicks está pedindo, um conselho de guerra
normal. Se existe alguma prova
contra ele, que o julguem dentro
do sistema jurídico estabelecido.
Os conselhos de guerra têm uma
história honrada de mais de 50
anos nos EUA. Contam com um
juiz militar, que é independente
do júri e pode desconsiderar as
acusações feitas ao réu, e, além
disso, permitem a apelação às
cortes civis -desde as federais
até a Suprema Corte.
Pergunta - O sr. vem demonstrando coragem ao desafiar o governo
que paga seu salário e que o indicou para defender Hicks. Pensa que
pode vir a sofrer conseqüências?
Mori - Não acho que eu esteja desafiando o governo. Estou defendendo um processo justo. Como
oficial dos fuzileiros navais, fui
ensinado a fazer o que é certo. E as
comissões militares não são o certo para Hicks.
Esse sistema não seria aceitável
para julgar um soldado ou um cidadão norte-americano. Não é,
portanto, um sistema justo para
julgar um estrangeiro. Penso que
estou cumprindo meu dever, de
acordo com os princípios que me
foram inculcados. E com minha
experiência legal.
Tradução de Clara Allain
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