São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2007

Próximo Texto | Índice

Divórcio é praga contemporânea, diz papa

Texto originado do sínodo de 2005 condena a separação conjugal e o segundo casamento e recomenda volta do latim

Exortação apostólica reafirma a condenação à eutanásia, ao aborto e ao casamento gay, além de propor mudanças na missa

DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O papa Bento 16 divulgou ontem o documento Sacramentum Caritatis (sacramento do amor), que contém reflexões e recomendações do sumo pontífice sobre o sacramento da eucaristia, o momento em que os católicos recebem a comunhão nas missas. O documento de 131 páginas reafirma a oposição da igreja ao divórcio, ao aborto e ao casamento gay e reafirma o celibato dos padres.
Entre os valores católicos fundamentais, para o papa, estão "o respeito pela vida humana e sua defesa da concepção à morte natural; a família que se constrói a partir do casamento entre um homem e uma mulher; a liberdade de educar os filhos; e a promoção do bem comum em todas as suas formas". Esses são valores "não-negociáveis", afirma o texto.
Assim, Bento 16 condena, por exemplo, a prática do divórcio e o segundo casamento, que chama de "praga do ambiente social contemporâneo". Para o papa, "o matrimônio e a família são instituições que devem ser promovidas" e defendidas, pois são fundamentais para a "convivência humana como tal".
Se os esforços para a anulação do casamento fracassam, afirma o papa em referência aos divorciados, e o novo casal continua a viver junto em um novo casamento, "a igreja encoraja esses fiéis a se engajarem num relacionamento (..) como amigos, irmãos, irmãs". Isso porque Bento 16 reforça a determinação de que a eles não será concedida a comunhão.
Também entre as recomendações do papa estão a adoção do latim em partes da missa, bem como do canto gregoriano. Os futuros padres, afirma o documento, devem "compreender e celebrar a missa em latim (...) e utilizar os textos latinos e cantar o canto gregoriano".
No entanto, o papa reafirmou a "influência benéfica" das mudanças no ritual da missa que foram instituídas após o Concílio Vaticano 2º, entre as quais a prática da missa na língua vernácula do país em que ela é rezada. Outro tema da exortação é a questão do celibato clerical. Diz que o celibato clerical é uma "riqueza inestimável" e "representa uma conformidade especial com o estilo de vida do próprio Cristo".
O documento assinado pelo papa Bento 16 é o segundo mais importante de seu pontificado. Perde apenas para a encíclica "Deus é Amor", de 2005, que versou sobre amor e sexo na sociedade contemporânea.
O texto de ontem é uma exortação apostólica pós-sinodal. Na tradição da igreja, uma exortação apostólica é um documento do papa destinado a orientar os fiéis sobre pontos da doutrina: condena o que foi distorcido e pede a retomada de aspectos esquecidos.
É pós-sinodal porque reúne as contribuições de bispos do mundo inteiro reunidos em assembléia, em Roma, a partir de uma pauta definida pelo papa. No caso do documento de ontem, ele mostra os resultados da 11ª Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que ocorreu entre 2 e 23 de outubro de 2005, sobre a eucaristia.
É o segundo mais importante do pontificado porque os anúncios de dogmas e as encíclicas têm mais peso que exortações, na tradição católica.
Como Bento 16 não proclamou nenhum dogma (como a santíssima trindade ou a virgindade de Maria), vale a encíclica - que são cartas nas quais o papa reflete e orienta os fiéis sobre um problema atual.

Repercussão
O papa está pregando uma "ditadura moralista baseada no medo do sexo", afirmou Franco Grillini, parlamentar italiano homossexual e um dos principais ativistas do país. O casamento gay é legalizado em vários países da Europa e hoje os italianos estão divididos.
A questão do celibato já havia sido tratada pela Santa Sé em 2005, na publicação de uma instrução que reafirmava a importância da prática ao mesmo tempo que desrecomendava a adoção nos seminários de pessoas que "praticam o homossexualismo". Não obstante o cardeal Angelo Scola afirmou que não há na Igreja "nenhuma fobia quanto aos homossexuais". Com agências internacionais.


NA INTERNET - Leia a íntegra
www.folha.com.br/070723



Próximo Texto: Saiba mais: Culto em latim ganhou força em Trento
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.