São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
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JUSTIÇA
Juiz considerou que Mori Iijima se enforcou em consequência de jornada de trabalho de 80 horas semanais
Japão indeniza família de suicida

da Redação

A família de um japonês que trabalhava normalmente 80 horas por semana e se suicidou poderá receber indenização do governo.
Um juiz de Nagano, na região central do país, considerou que o suicídio foi motivado pela exaustão causada pela longa jornada de trabalho. A informação foi dada pela rede de TV CNN.
A decisão pode ser um precedente para milhares de outras ações judiciais no país.
Mori Iijima se enforcou na garagem de sua casa em 1985. Segundo a decisão judicial, ele foi levado à depressão por causa do excesso de trabalho em uma loja.
Segundo a legislação japonesa, o cônjuge e os filhos de um trabalhador que venha a morrer em consequência de uma lesão ou doença relacionada ao trabalho pode receber uma pensão de cerca de US$ 17 mil anuais do governo.
O caso de Iijima é apenas o segundo no qual o governo terá de pagar por um suicídio causado por excesso de trabalho.
Em 1996, uma corte determinou o pagamento de indenização para a família de um homem que se matou quando estava fora do país.
A decisão sobre o caso de Iijima, tomada anteontem, é considerada mais significativa porque se refere a uma morte ocorrida em território japonês e deve encorajar outras pessoas que perderam parentes em circunstâncias semelhantes a levar os casos para a Justiça.
"Até agora, o governo vinha adotando a visão de que o suicídio é uma decisão individual e se recusava a ajudar as famílias", disse Fumio Matsumura, advogado da família.
O advogado afirmou que o número de suicídios causados pelo excesso de trabalho está aumentando no Japão. O fenômeno é tão comum que existe até um termo específico para ele: karojisatsu.
Os trabalhadores que se matam geralmente deixam notas pedindo desculpas por sua suposta incapacidade de realizar plenamente as tarefas. Raramente culpam empregadores ou colegas de trabalho.
O Ministério do Trabalho do Japão está estudando o veredicto. Ainda não se sabe se as autoridades vão recorrer da decisão.
Se a decisão final sobre o caso for favorável à família de Iijima, sua mulher e filhos receberão pagamentos retroativos à época de sua morte.
"Lamento muito por meu marido", afirmou Chieko Iijima. "As pessoas começam a trabalhar para sobreviver, para suas famílias, para serem felizes. Por que têm de acabar assim?"


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