São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FORÇA ÉTNICA
Curso ensina oficiais a respeitar diferenças culturais, e Forças Armadas adaptam farda a costumes religiosos
Exército britânico quer atrair minorias

Ministério da Defesa do Reino Unido
Soldado da Guarda Irlandesa do Exército Britânico, que quer aumentar a participação das minorias étnicas


ISABEL CLEMENTE
enviada especial a Shrivenham

As Forças Armadas britânicas lutam para perder o rótulo de segregacionistas em um país que se autoproclama multicultural.
Exército, Aeronáutica e Marinha vêm flexibilizando as regras para admitir minorias étnicas, mulheres e membros de várias religiões.
Aumentar a participação das minorias étnicas nas três Forças é o objetivo de um programa intensivo de reeducação, lançado pelo governo britânico, para civis e oficiais militares de mais alta patente.
Os cursos, obrigatórios, visam remodelar comportamentos em relação a minorias étnicas e mulheres e são ministrados num centro dedicado exclusivamente ao assunto -o primeiro na Europa.
O centro fica em Shrivenham, pequena vila no condado de Wiltshire, a 140 km a oeste de Londres.
Inaugurado no fim de 98, o Centro de Treinamento para a Equalização de Oportunidades, além de ensinar um comportamento etnicamente correto, está engajado na produção em massa de material educativo, para aumentar o grau de conhecimento sobre as diferenças culturais.
Aumentar o recrutamento de minorias étnicas foi um acordo acertado com a Comissão pela Igualdade Racial, em março de 98.
A Comissão pela Igualdade Racial foi estabelecida em 76, por lei. Tem poderes de investigar práticas discriminatórias e de sugerir mudanças e novos códigos de comportamento não discriminatórios.
No Reino Unido, o serviço militar é voluntário. Enquanto as minorias étnicas representam 5,5% da população do país, nas Forças Armadas não passam de 2%. A meta é chegar à mesma proporção da população até o fim de 2002.
O Ministério da Defesa quer que as Forças Armadas sejam representativas da sociedade, estimulando, inclusive, a ascensão profissional desses grupos.
Para tanto, vem flexibilizando as normas para os uniformes e até diversificando o cardápio das unidades militares, de modo a atender os procedimentos religiosos na preparação dos alimentos usados por judeus, muçulmanos e hindus. A idéia é não deixar que religião seja empecilho para o serviço militar.
Muçulmanos podem usar turbantes -respeitadas as regras de segurança-, feriados religiosos não cristãos também estão sendo concedidos, assim como foram criadas áreas para preces até em navios e submarinos.
O programa de reeducação "étnica e sexual" custa, anualmente, US$ 825 milhões para o governo britânico. Outras ofensivas com o mesmo objetivo já mostram um aumento no número de voluntários de minorias étnicas. Em 96, elas eram 1,5% do total de candidatos; subiram para 1,9% em 97 e 2,2%, de abril a dezembro de 98.
Comissões étnicas saem em busca de voluntários em comunidades de diferentes origens para convencê-los de que as Forças Armadas são um bom patrão.
"Ainda levará um tempo até que haja oficiais representantes de minorias étnicas em altos comandos", diz o comandante do centro de treinamento, major Ken Smith.
Desde a inauguração, em setembro, o centro treinou 700 oficiais, em cursos intensivos de cinco dias. As turmas formam conselheiros que deverão levar o mesmo treinamento a suas respectivas unidades.
Seamus McCann, 42, é capitão do Exército e serve na Irlanda do Norte, região onde o preconceito religioso é o principal comportamento segregacionista. "Muitas vezes somos preconceituosos sem perceber", diz. Ele assume que teria dificuldades em aceitar colegas gays nas Forças Armadas. "A luta contra o preconceito não alcança resultados do dia para a noite."


A repórter Isabel Clemente viajou a convite do governo do Reino Unido


Texto Anterior: Reino Unido: Hackers assumem satélite britânico
Próximo Texto: Termo racista pode ser vetado
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.