|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Mudanças dependem de luta"
de Londres
Para ativistas pró-minorias étnicas no Reino Unido, serão lentos
os avanços nas relações raciais do
país. "Se não houvesse luta, haveria retrocesso", diz Victor Amokeodo, 33, editor da revista "Black
Perspective" (Perspectiva Negra).
Britânico de nascença, mas de
origem africana, o jornalista diz
que o Reino Unido é um dos países
menos racistas da Europa. Para
ele, o preconceito racial no Brasil,
onde a representatividade da população de origem negra é muito
maior, é bem pior do que o racismo manifestado pela sociedade
britânica.
Folha - O que o senhor acha das
iniciativas que visam treinar as
pessoas, como nas Forças Armadas, contra o racismo? São suficientes?
Victor Amokeodo - Até certo
ponto, são úteis, porque racismo
tem várias razões e uma delas é a
ignorância. Se eles são treinados e
misturados com pessoas de outras
origens, passam a conhecer, a lidar
de forma natural com outras etnias. Há preconceito, no entanto,
que independe de treinamento,
nunca terá fim. O treinamento tem
de ser parte de um pacote, com punições e sanções para quem incorrer em crimes e comportamentos
racistas, especialmente nas Forças
Armadas, uma das últimas áreas
dominadas por homens brancos.
Folha - As Forças Armadas estão
tentando incentivar o recrutamento. O senhor vê mudanças?
Amokeodo - Não tem havido
muita mudança, mas tem havido
muitas tentativas de mudar o comportamento da sociedade. O problema é que não é fácil para uma
organização sempre vista com desconfiança pelas minorias étnicas
convencê-las a se juntar. As Forças
Armadas terão trabalho dobrado
para mudar alguma coisa, mas não
parecem se esforçar o suficiente.
Folha - O senhor acha que este é
um país, por definição, racista?
Amokeodo - O Reino Unido é um
dos países europeus menos racistas, se comparado à Itália e à Espanha. Racismo não é dos grandes
males, especialmente em Londres.
Pessoas de origens diferentes convivem muito bem. O problema é o
racismo institucionalizado, nos
serviços públicos, no atendimento.
Folha - Em países como o Brasil,
preconceitos social e racial se misturam. Que tipo de racismo há no
Reino Unido?
Amokeodo - Pelo que sei do Brasil, o problema racial é muito pior
do que no Reino Unido porque,
aqui, negros ainda são uma minoria, enquanto, no Brasil, uma grande parcela da população tem alguma influência da etnia negra. Se
aqui 5% dos políticos são de minorias étnicas, a cifra corresponde à
representatividade das mesmas
entre a população. No Brasil, não.
Aqui, preconceitos racial e social
também se misturam porque há
um círculo vicioso. Em Londres, os
mais pobres são de minorias étnicas. Minorias têm menos chances,
ficam desempregadas e vão constituir a parte pobre da sociedade.
Folha - Qual a sua expectativa em
relação à recém-anunciada política
de "tolerância zero" do governo
britânico contra o racismo?
Amokeodo - Haverá mudanças,
mas elas serão lentas. Há 40 anos,
havia lugares que não permitiam a
entrada de negros, irlandeses e cachorros. Mas, se nós parássemos
de lutar, haveria retrocesso.
Texto Anterior: Termo racista pode ser vetado Próximo Texto: Negros e mulatos eram 30% na FEB Índice
|