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Negros e mulatos eram 30% na FEB
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
As Forças Armadas costumam
refletir as atitudes em relação a minorias raciais das sociedades que
lhes deram origem, mas nem sempre fielmente. Nesse sentido, o
Brasil tem um currículo melhor do
que o das Forças Armadas de países europeus ou dos EUA.
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi a única grande unidade a combater na Segunda Guerra
Mundial da qual se pode dizer que
não era racialmente segregada
O contraste estava logo ali ao lado, na mesma frente de combate, o
norte da Itália -a 92ª Divisão de
Infantaria americana era formada
por soldados negros, mas tinha
oficiais brancos. A divisão era chamada "Divisão Búfalo", porque era
o apelido dos soldados negros, dado por índios americanos no século 19, para quem pele escura e cabelo crespo lembravam o búfalo.
Não se sabe exatamente a proporção de negros e mulatos na
FEB. "Não se tem estatística porque uma lei de 1937 proibia documentos oficiais de mencionarem
raças, mas o provável é que o número de negros e mulatos estivesse
em torno de 30%", diz o veterano
da FEB Luiz Paulino Bomfim, que
foi oficial de informação e depois
oficial de ligação com a 10ª Divisão
de Montanha americana.
Essa última era o oposto da 92ª,
formada apenas por brancos, e
com uma grande proporção de
alunos universitários, incluindo o
senador e ex-candidato presidencial republicano Robert Dole.
Só na Guerra da Coréia (1950-53)
os americanos deixaram de segregar suas unidades, ironicamente
antes disso ocorrer nas escolas. O
motivo foi a fraca capacidade combativa das unidades segregadas.
"Não poderia haver nenhum oficial negro em posição superior a
um branco. O Exército era apenas
uma extensão da segregação que
tínhamos em casa. Nós éramos como uma colônia dentro dos EUA",
afirma um veterano da 92ª, Jehu
Hunter, que presidiu a associação
de ex-combatentes da divisão.
Os brasileiros tinham unidades
mistas desde a Guerra do Paraguai,
embora o motivo não fosse assim
tão nobre. Os escravos alforriados
para combater eram misturados
com brancos para que não se amotinassem com tanta facilidade. Antes, havia regimentos de negros e
de pardos, os "henriques", em homenagem a Henrique Dias, herói
negro da guerra com os holandeses
no século 17.
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