São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
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Negros e mulatos eram 30% na FEB

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

As Forças Armadas costumam refletir as atitudes em relação a minorias raciais das sociedades que lhes deram origem, mas nem sempre fielmente. Nesse sentido, o Brasil tem um currículo melhor do que o das Forças Armadas de países europeus ou dos EUA.
A Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi a única grande unidade a combater na Segunda Guerra Mundial da qual se pode dizer que não era racialmente segregada
O contraste estava logo ali ao lado, na mesma frente de combate, o norte da Itália -a 92ª Divisão de Infantaria americana era formada por soldados negros, mas tinha oficiais brancos. A divisão era chamada "Divisão Búfalo", porque era o apelido dos soldados negros, dado por índios americanos no século 19, para quem pele escura e cabelo crespo lembravam o búfalo.
Não se sabe exatamente a proporção de negros e mulatos na FEB. "Não se tem estatística porque uma lei de 1937 proibia documentos oficiais de mencionarem raças, mas o provável é que o número de negros e mulatos estivesse em torno de 30%", diz o veterano da FEB Luiz Paulino Bomfim, que foi oficial de informação e depois oficial de ligação com a 10ª Divisão de Montanha americana.
Essa última era o oposto da 92ª, formada apenas por brancos, e com uma grande proporção de alunos universitários, incluindo o senador e ex-candidato presidencial republicano Robert Dole.
Só na Guerra da Coréia (1950-53) os americanos deixaram de segregar suas unidades, ironicamente antes disso ocorrer nas escolas. O motivo foi a fraca capacidade combativa das unidades segregadas.
"Não poderia haver nenhum oficial negro em posição superior a um branco. O Exército era apenas uma extensão da segregação que tínhamos em casa. Nós éramos como uma colônia dentro dos EUA", afirma um veterano da 92ª, Jehu Hunter, que presidiu a associação de ex-combatentes da divisão.
Os brasileiros tinham unidades mistas desde a Guerra do Paraguai, embora o motivo não fosse assim tão nobre. Os escravos alforriados para combater eram misturados com brancos para que não se amotinassem com tanta facilidade. Antes, havia regimentos de negros e de pardos, os "henriques", em homenagem a Henrique Dias, herói negro da guerra com os holandeses no século 17.


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