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PESQUISA
A cada 100 mil abortos, há 330 mortes nas regiões em desenvolvimento; índice cai para 1,2 em países desenvolvidos
Aborto mata 275 vezes mais onde é proibido
MARCELO DIEGO
de Nova York
Mulheres que praticam aborto
em países onde ele não é permitido
têm 275 vezes a mais de chance de
morrer do que em países onde ele é
legalizado.
Vinte e seis milhões de mulheres
praticam aborto, todo ano, em países onde ele é permitido. Nesses lugares, 312 morrem em decorrência
de complicações do ato.
Por outro lado, 20 milhões de
mulheres praticam o aborto em lugares onde ele é ilegal. Desse número, 66 mil morrem por complicações.
A diferença é uma das conclusões do relatório divulgado pelo
pelo Instituto Alan Guttmacher,
uma organização apartidária que
destina recursos para pesquisas na
área da reprodução humana e análises políticas em todo o planeta.
O instituto diz que hoje há cerca
de 1,38 bilhão de mulheres entre os
15 e 44 anos (faixa que compreende a maioria absoluta de grávidas).
Levantamentos mostram que, em
média, 210 milhões mulheres engravidam a cada ano. Cerca de 38%
dos casos acontecem sem planejamento e 22% terminam em aborto.
Os abortos acontecem em maior
parte nos países desenvolvidos
graças à permissão da lei. Segundo
o instituto, 41% das mulheres do
mundo vivem hoje debaixo de leis
que permitem a prática do aborto
sob quaisquer circunstâncias e
sem a necessidade de razão específica. O percentual cresce entre os
países desenvolvidos (71%) e cai
drasticamente nos países em desenvolvimento (33%).
O restante das mulheres (59%)
está dividido entre países com restrições parciais (caso do Brasil, onde a prática só é permitida quando
há risco evidente para a mãe ou
quando a gravidez é originada por
estupro) ou até com proibição total ao aborto.
Mesmo proibido, o aborto continua sendo praticado em alguns
países, elevando o grau de perigo
para a saúde da grávida. Segundo o
relatório, das 600 mil mortes decorrentes de complicação com a
gravidez ao ano, cerca de 11% são
causadas por abortos em condições irregulares.
Em países em desenvolvimento
(com a exceção da China) acontecem 330 mortes a cada 100 mil
abortos. Em países desenvolvidos
o índice de mortalidade é de 1,2 para cada 100 mil abortos. O maior
risco se encontra na África: a cada
100 mil abortos, 680 acabam matando a parturiente.
"Nos países mais pobres, as mulheres estão expostas aos maiores
riscos de complicações e morte por
causa da ilegalidade e das condições de insegurança", diz Jeannie
Rosoff, presidente do Instituto
Alan Guttmacher.
O relatório mostra, em estatísticas, que há sérios problemas decorrentes da prática.
Envelhecimento
Um é o envelhecimento da população. Nos EUA, onde 23 de cada
100 mil mulheres já praticaram o
aborto, esta é uma preocupação do
Congresso, que prevê crescimento
populacional negativo na próxima
década, falta de mão-de-obra e colapso no sistema previdenciário
em 20 anos.
Outro dado importante é que
63% das mulheres norte-americanas chegam aos 18 anos já tendo
praticado sexo. Só na Dinamarca
(72%) e na Islândia (71%) o percentual é maior. O próprio instituto reconhece que parte das mulheres só fazem sexo por saberem que
não terão filhos (seja porque usam
métodos contraceptivos, seja pela
prática do aborto).
Outra conclusão do relatório diz
que as maiores taxas de gravidez
não planejada (49%) e de aborto
(36%) acontecem nos países desenvolvidos. Mas eles englobam
apenas 28 milhões de mulheres
grávidas por ano. Já os países subdesenvolvidos apresentam planejamento melhor (36% dos nascimentos não são previstos) e menos
abortos (20%), embora representem 182 milhões de grávidas.
Os meios de contracepção mais
eficazes que existem são a esterilização (masculina e feminina). Pílulas anticoncepcionais e camisinha têm grande eficácia, segundo a
pesquisa.
Tentar a abstinência costuma falhar: de cada 100 que tentaram não
fazer sexo para evitar filhos, 13 não
seguiram adiante.
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