São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
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No Brasil, falta de informação e assistência são mortais

de Nova York

Desinformação e falta de assistência pública. Os dois itens são aliados mortais na vida das mulheres brasileiras, alerta o relatório do instituto Alan Guttmacher.
Os dados são claros: falta esclarecimento à população. A família brasileira não consegue planejar o seu crescimento. Quando tenta, falha no objetivo.
Para evitar filhos, os métodos mais utilizados no Brasil são a esterilização feminina (18%), a pílula (16%) e o coito interrompido (6%).
Embora 90% das mulheres já tenham ouvido falar em pílula anticoncepcional, somente 23% delas sabem usar corretamente o medicamento. Apenas 5% têm acompanhamento médico.
Com a falta de esclarecimento, vem a gravidez. Entre as que fazem aborto, há três grupos distintos de mulheres, segundo a pesquisa: as pobres rurais, as mulheres pobres urbanas e as mulheres urbanas com renda superior.
Entre as pobres rurais, 73% dos abortos são cometidos por elas mesmas (com práticas como a introdução de agulhas de crochê no útero).
Entre as mulheres pobres urbanas, 57% dos abortos são cometidos por elas mesmas ou por curiosas (parteiras sem habilitação legal) sem treinamento. Os médicos são responsáveis por 79% dos abortos de mulheres urbanas com renda superior.
O "dia seguinte" é previsível: 54% das mulheres pobres rurais apresentam problemas decorrentes do aborto.
O índice de complicações é menor (44%) entre as mulheres pobres urbanas e menor ainda (13%) entre as urbanas com renda superior.
No Brasil, de cada 100 abortos cometidos, 42 terminam com algum tipo de complicação para a mulher. Mas somente 29 mulheres acabam buscando assistência médica. O medo maior é que elas sejam presas por praticarem o aborto ilegal.
As principais causas de aborto no Brasil, segundo o relatório, são: dificuldades financeiras para criação do filho, relação de instabilidade com o companheiro, insatisfação da mãe com uma nova gravidez, gravidez entre adolescentes, ambições profissionais. O relatório diz que poucos abortos são realizados dentro da lei. A legislação brasileira prevê o aborto legal em casos de estupro e de risco à vida da mãe. (MaD)


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