São Paulo, domingo, 14 de abril de 2002

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GOLPE NA VENEZUELA

Manifestações contra a deposição de Chávez em Caracas fizeram nove mortos e 45 feridos, de acordo com o prefeito da capital

Emissoras censuram cenas de protesto

DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Após apoiarem ostensivamente as manifestações que precipitaram a queda do presidente Hugo Chávez, as principais emissoras privadas de TV da Venezuela fizeram ontem um acordo para não exibir nem mencionar os protestos a favor do presidente deposto.
Nove pessoas morreram e 45 ficaram feridas ontem em protestos contra o golpe que derrubou Chávez, segundo o prefeito de Caracas Alfredo Peña, adversário do presidente deposto. Seis delas teriam morrido quando um caminhão esmagou um carro pouco depois de favelados chavistas fecharem a estrada que liga Caracas ao aeroporto Simon Bolívar.
O acordo entre as redes de TV foi justificado por suas direções como uma forma de evitar a propagação da violência. No entanto, a orientação não durou muito. Foi revertida quando chavistas, numa ação coordenada, tentaram invadir e quebraram as vidraças das sedes da Venevision, Globovision e da RCTV (Rede Caracas de Televisão). Ao vivo, jornalistas e funcionários dessas emissoras pediram o envio de tropas da Guarda Nacional.
Quatro emissoras foram proibidas de funcionar na quinta-feira passada por ordem de Chávez, entre elas as três atacadas ontem. O presidente as acusara de incitar o protesto e ordenara a suspensão de suas transmissões por tempo indeterminado. Elas voltaram ao ar pouco tempo antes da queda de Chávez e, desde então, fizeram uma cobertura abertamente favorável ao governo golpista e contrária ao presidente deposto.
Um dos autores de uma tentativa de golpe de Estado em 1992, Chávez dizia que as licenças concedidas às TVs pertencem ao Estado e que, portanto, elas não poderiam desrespeitar as leis. Há uma emissora pública no país, mas mesmo ela divulgou material anti-Chávez nos dias que antecederam o golpe.
O presidente deposto teria ficado especialmente incomodado com a decisão das emissoras de transmitirem seu último pronunciamento oficial à nação em somente metade das telas de TV. Na outra metade, foram colocadas imagens das manifestação contra o presidente e cenas dos mortos e feridos.
Numa entrevista à CNN em espanhol, a mulher de Chávez, Marisabel Rodriguez de Chávez, acusou as redes privadas de parcialidade e de "esconderem a verdade sobre o que ocorreu na Venezuela". (MARCIO AITH)


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