São Paulo, domingo, 14 de abril de 2002

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Junta teria desrespeitado acordo

DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

O Exército e a Guarda Nacional, duas das quatro forças militares venezuelanas, disseram que a junta provisória que assumiu na sexta-feira não havia respeitado a Constituição nem um acordo feito para que o presidente deposto, Hugo Chávez, deixasse o poder e abrisse caminho para uma sucessão tranquila.
"Não viemos até aqui para dar um golpe de Estado", declarou o inspetor-geral da Guarda Nacional, Carlos Alfonso Martínez. "Queremos manter o elo constitucional e estamos muito preocupados. O presidente Chávez aceitou renunciar em troca de que se garantisse sua renúncia à Assembléia Geral e sua saída do país, bem como a de sua família. Esse acordo não foi cumprido. Estão realizando detenções e há o uso de violência. Estão cometendo os mesmos erros do passado."
Sob um olhar mais atento, a sugestão de Martínez também é preocupante sob o ponto de vista constitucional. Ela sugere que Chávez teve que renunciar para garantir sua integridade, e não por livre e espontânea vontade. No entanto, o inspetor-geral disse que sua intervenção tinha o intuito de garantir a legitimidade do novo governo.
"Deveríamos manter a Constituição atual, a Constituição da República Bolivariana da Venezuela, até que ela seja alterada por uma emenda ou por uma constituinte seguida de um referendo."
Foi uma referência à decisão do governo provisório de dissolver o Legislativo e o Judiciário por decreto e restaurar o nome oficial do país antes da era Chávez -República da Venezuela.
A Guarda Nacional é responsável, entre outras coisas, por manter a ordem interna. Para muitos observadores, os protestos pró-Chávez ocorridos ontem só foram possíveis porque seus integrantes teriam recebido ordens para não combaterem essas manifestações.
O comandante do Exército venezuelano, Efrain Vásquez e um batalhão de pára-quedistas no interior do país também impuseram condições para que o novo governo fosse aceito.
Nenhum desses militares agiu ontem em defesa do governo de Chávez. Aliás, foram os primeiros a se rebelar contra ele na quinta-feira. No entanto, decidiram questionar o novo governo em respeito a um acordo fechado com um colega de corporação (Chávez é tenente-coronel da aeronáutica) e em protesto contra a forma inconstitucional pela qual optou o novo governo.


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