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ORIENTE MÉDIO
Líder palestino atende exigência dos EUA e emite comunicado em árabe criticando atentados contra civis
Arafat condena o terror e vê Powell hoje
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
O líder palestino Iasser Arafat
atendeu ontem exigência norte-americana e emitiu comunicado,
em árabe, no qual condena "fortemente todos os ataques que estão
visando civis, dos dois lados, e especialmente o ataque que ocorreu
contra cidadãos israelenses ontem (sexta-feira) em Jerusalém".
O comunicado foi divulgado
pela agência de notícias palestina
Wafa e lido na TV palestina. Teve
como consequência a confirmação oficial do encontro, hoje, entre o secretário de Estado dos
EUA, Colin Powell, e Arafat.
Israel considerou o comunicado insuficiente.
Na véspera, Powell havia condicionado um encontro com Arafat
a uma condenação firme -e em
árabe- do ataque terrorista da
sexta-feira, no qual seis pessoas
morreram, em pleno centro de Jerusalém.
O texto de Arafat contém "elementos positivos e interessantes",
na avaliação de Powell, suficientes
para que ele vá, nesta manhã, a
Ramallah, 16 km ao norte de Jerusalém, onde Arafat está confinado
há 16 dias em seu QG semidestruído pela ofensiva israelense.
Um encontro Powell-Arafat é tido como essencial se os EUA querem mesmo conseguir primeiro
um cessar-fogo e, em seguida, reiniciar as negociações para um
acordo de paz entre israelenses e
palestinos.
Como Arafat também vê a reunião como vital, acabou emitindo
o comunicado pedido por Powell,
embora os palestinos continuem
se queixando de que os Estados
Unidos usam dois pesos e duas
medidas, como diz o ministro da
Informação, Iasser Abed Rabbo:
denunciam a violência contra israelenses, mas silenciam a respeito do que Rabbo chama de "massacres" praticados pelos israelenses durante a reocupação dos territórios na Cisjordânia.
Há fatos que dão certa razão a
Rabbo: Powell pediu, várias vezes,
que Israel se retirasse dos territórios palestinos que começou a
reocupar no dia 29.
Israel não apenas não retirou as
tropas como, ao contrário, avançou ontem sobre três novas localidades palestinas (Arabeh, Hashmiya e Birqin, todas em torno de
Jenin).
Em outras operações, perto de
Nablus, o Exército israelense
prendeu pelo menos dois homens
que estavam na lista dos mais
procurados por Israel. Um é Nasser Arwis, do Tanzim, a milícia do
grupo Fatah, liderado pelo próprio Arafat. O outro chama-se
Mohammed Hader e é apontado
como dirigente importante da
Tanzim em toda a Cisjordânia.
Enquanto isso, a situação humanitária nos territórios torna-se
cada vez mais "severa", conforme
contaram a Powell representantes
da Cruz Vermelha e da UNWRA
(a agência da ONU que cuida dos
palestinos).
O encontro foi ontem pela manhã, no vazio deixado pelo fato de
o secretário de Estado ter adiado o
seu encontro com Arafat, originalmente marcado para ontem.
Rene Kosirnik, chefe da missão
da Cruz Vermelha em Israel, disse
a Powell que o Exército está impondo aos palestinos "uma punição coletiva". Ou seja, civis inocentes estão pagando por pecados
dos grupos armados palestinos.
Kosirnik disse que as condições
são especialmente ruins no campo de refugiados de Jenin, ao qual
Israel impede o acesso não apenas
da Cruz Vermelha mas de outras
organizações humanitárias e de
jornalistas.
É verdade que Powell, no encontro de ontem com a Cruz Vermelha e a UNWRA, anunciou
doações adicionais de entre US$
30 milhões e US$ 80 milhões. Mas
o pessoal das duas instituições reclama que não adianta ter mais
recursos se Israel continuar negando a elas acesso a certas áreas
palestinas nas quais a situação é
mais grave.
O foco principal de inquietações
continua sendo Jenin, 103 km ao
norte de Jerusalém, tanto que a
União Européia emitiu nota para
afirmar que "as notícias a respeito
dos eventos no campo de refugiados de Jenin, se confirmadas, terão sérias consequências".
É alusão às informações dos palestinos de que houve "um massacre" no campo de refugiados, no
qual teriam morrido ao menos
500 pessoas.
Israel admite elevado número
de mortes palestinas, mas nega
que tenham tomado a característica de massacre, mas sim fruto de
duros combates com militantes
armados. "Massacre é o que aconteceu na Páscoa em Netania [alusão ao atentado terrorista que
matou 28 pessoas em celebração
religiosa]. Em Jenin, o que houve
foi uma batalha", diz, por exemplo, o coronel Gal Hirsch, do Comando Central israelense.
Jenin continuava ontem sendo
considerada zona militar fechada,
o que impede a entrada de qualquer pessoa, inclusive jornalistas.
Por extensão, impede uma verificação independente das alegações
das duas partes.
O que é certo é que houve destruição de casas em grande quantidade, a ponto de as organizações
de direitos humanos calcularem
em 3.000 o número de residentes
do campo que ficaram desabrigados. Dá, portanto, 20% do total
estimado de 15 mil moradores antes existentes.
Outro foco de alarme é a situação na Basílica da Natividade, em
Belém (10 km ao Norte de Jerusalém), na qual um grupo de entre
150 e 200 palestinos, a maioria armados, está cercado pelas tropas
de Israel, na companhia de cerca
de 40 padres e freiras.
Powell discutiu também a situação em Belém, com patriarcas dos
três grupos cristãos que têm convento lá -católico, armênio e
grego. Resta saber se, com a confirmação do encontro entre Powell e Arafat, hoje, Israel relaxará
o confinamento do palestino.
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