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"Ação militar de Israel foi erro tático"
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A ofensiva militar israelense para pôr fim à "infra-estrutura terrorista" dos palestinos, iniciada
em 29 de março último, constituiu um enorme erro tático
-uma tolice. No entanto, por razões políticas domésticas, ele tinha de ser cometido. Além disso,
os estrategistas militares israelenses tinham, provavelmente, consciência das sérias consequências
que a ofensiva iria acarretar.
A análise é de Edward Atkeson,
ex-subchefe do Estado-Maior das
Forças Armadas dos EUA -responsável por assuntos de inteligência-, pesquisador de questões militares do Oriente Médio
no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (Washington) e autor de, entre outros, "A
Military Assessment of the Middle East" (uma avaliação militar
do Oriente Médio).
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Como o sr. analisa a ofensiva militar israelense iniciada em
29 de março último?
Edward Atkeson - Foi um ato tolo, um enorme erro tático. Contudo, por razões políticas domésticas, ele tinha de ser cometido. A
decisão de invadir os territórios
palestinos não foi tomada por razões militares, mas políticas.
Creio que os estrategistas militares israelenses tivessem consciência de que as consequências de
seus atos seriam gravíssimas.
Porém, do ponto de vista estritamente militar, com novos atentados suicidas sendo cometidos
pelos palestinos, as forças de segurança israelenses deverão intensificar o controle e as revistas
efetuados na população civil e
apertar o cerco nas regiões consideradas mais delicadas, o que deve causar mais mortes.
Folha - Numa região eminentemente civil, como a Cisjordânia,
uma operação militar de tal envergadura é viável?
Atkeson - Isso depende da perspectiva de quem analisa o fato. Do
ponto de vista militar, a operação
é viável, pois não há verdadeiras
limitações físicas para nenhuma
ação que os militares israelenses
queiram empreender.
Por outro lado, se levarmos em
conta as consequências políticas
dessa operação militar, sobretudo
por causa das inúmeras mortes
por ela causadas, concluiremos
que se trata de uma maluquice.
Todavia não podemos esquecer
que muitos malucos ocupam posições de comando em todo o
mundo atualmente.
Folha - O sr. crê que Israel tenha
conseguido minimizar as baixas civis em sua ação militar?
Atkeson - Não acredito que as
autoridades israelenses que realmente controlam o país hoje, como o premiê Ariel Sharon, estejam preocupadas com a morte de
civis. Na atual conjuntura, elas
privilegiam apenas seus objetivos
políticos e "militares".
Já há quem suspeite que quase
500 pessoas tenham sido mortas
durante a ofensiva no campo de
refugiados de Jenin, na Cisjordânia. Assim, quando a crise atinge
o nível de gravidade atual, ninguém mais pensa em minimizar
as baixas civis. Afinal, uma coisa é
certa: a situação está totalmente
fora de controle. Isso no que se refere aos israelenses, aos palestinos
ou aos americanos. Estes talvez
sejam os mais perdidos.
Folha - Que lições Israel pode tirar da ação e de suas repercussões?
Atkeson - Para que alguém possa
tirar uma lição do que quer que
seja, ele tem de ter disposição para
aceitar que há lições a aprender.
Afinal, é necessário entender a lição e interiorizá-la. Não vejo esse
tipo de disposição nos atuais líderes políticos ou militares israelenses. Na verdade, não vejo isso em
nenhum dos dois lados.
Folha - No caso hipotético da deflagração de uma guerra, que tipo
de cenário o sr. imaginaria?
Atkeson - Israel poderia atacar a
Síria se quisesse expandir o conflito, já que Damasco exerce forte
influência sobre o Hizbollah [grupo extremista libanês". Também
poderia atacar o Líbano, uma vez
que os ataques do Hizbollah partem de seu território. Entretanto
não creio que os outros países
árabes queiram entrar num conflito armado contra Israel, pois os
israelenses têm muito mais poder
militar que os árabes.
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