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Intelectuais palestinos lançam manifesto
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Mais de 70 intelectuais palestinos, incluindo nomes como Mahmud Darwich, Rima Tarazi,
Georges Ibrahim, Jamal Salsa, Izzat Ghazzawi e Mazen Saadeh, estão promovendo um manifesto
contra a operação militar israelense nos territórios reocupados e
a favor da criação de um Estado
palestino independente.
"Sitiados, enfrentamos com
nosso povo uma situação dolorosa. Em ameaça permanente, estamos privados de água, eletricidade, comunicação. Só nos restam o
esforço, a determinação e nossa
resistência. A todos os homens livres dos países árabes e do resto
do mundo: precisamos de sua
ajuda e de seu apoio", diz o apelo.
"Nós, escritores, artistas e intelectuais, lançamos este apelo em
solidariedade com os intelectuais
e com o povo palestino que as forças israelenses de ocupação submetem atualmente às práticas
mais infames. A invasão e a reocupação de cidades, vilarejos e
campos de refugiados, a morte de
civis, a destruição de escolas, de
prédios e de centros culturais, de
locais de culto, de toda a infra-estrutura da sociedade palestina; a
prisão de milhares de jovens levados a centros de detenção, abandonados em campo aberto, torturados, aterrorizados, famintos."
Ainda segundo o manifesto, "as
forças israelenses impedem os
hospitais e as equipes médicas de
trabalhar e de cumprir seu dever
humanitário, impedindo as ambulâncias de transportar feridos e
mártires, impedindo os enterros".
"Os necrotérios não têm mais lugar para acolher os corpos. Neste
momento, a situação dentro das
cidades, das aldeias e dos campos
de refugiados é um presságio de
mais tragédias e desastres."
Os intelectuais afirmam que o
apelo se dirige a todos os "irmãos,
homens de cultura e de consciência do mundo inteiro [...], pedindo-lhes que ajam o mais rápido
possível e que façam tudo para
condenar a ocupação, denunciar
suas práticas e revelar a natureza
fundamentalmente terrorista e
xenófoba do governo Sharon".
Poeta palestino
Encabeçando a lista, Mahmoud
Darwich, um dos principais poetas árabes da atualidade, define a
atual operação militar como
"uma guerra em prol da guerra" e
afirma que "os que controlam a
balança internacional do poder
continuam a moldar os eventos
sem respeito algum pelos argumentos intelectuais ou legais".
"Entre um golpe desferido contra um coração ferido e o próximo, nós perguntamos: quanto
tempo vamos continuar o regozijo enquanto Cristo ascende ao
Gólgota?", diz. "Em cada rua, jazem os corpos dos mortos. Em cada parede, há sangue. Os vivos são
privados do direito básico à vida,
e aos mártires se rejeitam túmulos
para um repouso em paz. Acima
de tudo, porém, o que vemos agora é a expressão do desejo de um
povo que não tem outra escolha a
não ser resistir."
Para Darwich, "as forças israelenses, armadas até os dentes com
superstições racistas e equipamentos militares, assediam o direito dos palestinos a uma vida
normal" e "os palestinos querem
viver longe de metáforas no local
onde nasceram. Eles querem liberar o país do peso da mitologia, da
barbárie da ocupação, da miragem de uma paz que não promete
nada além de destruição".
O poeta acredita que "os árabes
ofereceram a Israel a paz coletiva
em troca da retirada israelense de
um quinto de nossa pátria histórica. A resposta de Israel a essa generosa oferta foi declarar uma
guerra total contra o povo palestinos e contra a própria imaginação
dos árabes. [...] Israel nos convidou a levar o conflito a sua origem
e, ironicamente, a rever todas as
etapas por que passamos, quando
nosso conceito de luta mudou. Israel declarou guerra à própria
idéia de paz. O que ameaça a existência de Israel, defendida com
tanta agressão? É a guerra que os
árabes não declararam a Israel?
Ou é a paz que os árabes estão oferecendo?", conclui.
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