São Paulo, domingo, 14 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Intelectuais palestinos lançam manifesto

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

Mais de 70 intelectuais palestinos, incluindo nomes como Mahmud Darwich, Rima Tarazi, Georges Ibrahim, Jamal Salsa, Izzat Ghazzawi e Mazen Saadeh, estão promovendo um manifesto contra a operação militar israelense nos territórios reocupados e a favor da criação de um Estado palestino independente.
"Sitiados, enfrentamos com nosso povo uma situação dolorosa. Em ameaça permanente, estamos privados de água, eletricidade, comunicação. Só nos restam o esforço, a determinação e nossa resistência. A todos os homens livres dos países árabes e do resto do mundo: precisamos de sua ajuda e de seu apoio", diz o apelo.
"Nós, escritores, artistas e intelectuais, lançamos este apelo em solidariedade com os intelectuais e com o povo palestino que as forças israelenses de ocupação submetem atualmente às práticas mais infames. A invasão e a reocupação de cidades, vilarejos e campos de refugiados, a morte de civis, a destruição de escolas, de prédios e de centros culturais, de locais de culto, de toda a infra-estrutura da sociedade palestina; a prisão de milhares de jovens levados a centros de detenção, abandonados em campo aberto, torturados, aterrorizados, famintos."
Ainda segundo o manifesto, "as forças israelenses impedem os hospitais e as equipes médicas de trabalhar e de cumprir seu dever humanitário, impedindo as ambulâncias de transportar feridos e mártires, impedindo os enterros". "Os necrotérios não têm mais lugar para acolher os corpos. Neste momento, a situação dentro das cidades, das aldeias e dos campos de refugiados é um presságio de mais tragédias e desastres."
Os intelectuais afirmam que o apelo se dirige a todos os "irmãos, homens de cultura e de consciência do mundo inteiro [...], pedindo-lhes que ajam o mais rápido possível e que façam tudo para condenar a ocupação, denunciar suas práticas e revelar a natureza fundamentalmente terrorista e xenófoba do governo Sharon".

Poeta palestino
Encabeçando a lista, Mahmoud Darwich, um dos principais poetas árabes da atualidade, define a atual operação militar como "uma guerra em prol da guerra" e afirma que "os que controlam a balança internacional do poder continuam a moldar os eventos sem respeito algum pelos argumentos intelectuais ou legais".
"Entre um golpe desferido contra um coração ferido e o próximo, nós perguntamos: quanto tempo vamos continuar o regozijo enquanto Cristo ascende ao Gólgota?", diz. "Em cada rua, jazem os corpos dos mortos. Em cada parede, há sangue. Os vivos são privados do direito básico à vida, e aos mártires se rejeitam túmulos para um repouso em paz. Acima de tudo, porém, o que vemos agora é a expressão do desejo de um povo que não tem outra escolha a não ser resistir."
Para Darwich, "as forças israelenses, armadas até os dentes com superstições racistas e equipamentos militares, assediam o direito dos palestinos a uma vida normal" e "os palestinos querem viver longe de metáforas no local onde nasceram. Eles querem liberar o país do peso da mitologia, da barbárie da ocupação, da miragem de uma paz que não promete nada além de destruição".
O poeta acredita que "os árabes ofereceram a Israel a paz coletiva em troca da retirada israelense de um quinto de nossa pátria histórica. A resposta de Israel a essa generosa oferta foi declarar uma guerra total contra o povo palestinos e contra a própria imaginação dos árabes. [...] Israel nos convidou a levar o conflito a sua origem e, ironicamente, a rever todas as etapas por que passamos, quando nosso conceito de luta mudou. Israel declarou guerra à própria idéia de paz. O que ameaça a existência de Israel, defendida com tanta agressão? É a guerra que os árabes não declararam a Israel? Ou é a paz que os árabes estão oferecendo?", conclui.


Texto Anterior: Israel busca apoio para resistir a pressões
Próximo Texto: "Ação militar de Israel foi erro tático"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.