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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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ANÁLISE

Rumsfeld estava certo?

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os críticos da maneira como o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, conduziu a Segunda Guerra do Golfo estão tendo que engolir suas palavras, apesar de algumas surpresas no caminho das tropas americanas no Iraque, e da situação ainda fluida em certos pontos do país.
O debate estratégico voltou a se aquecer nos Estados Unidos, pois o que está em jogo é muito mais do que a análise acadêmica do que aconteceu em meras três semanas de combate.
Os resultados de conflitos como os de Kosovo (1999), Afeganistão (2001 em diante) e agora deste servirão para moldar a estrutura as Forças Armadas americanas para o futuro.
Rumsfeld tem defendido a transformação das Forças Armadas dos EUA de modo a deixarem de ser forças lentas e pesadas da "Era Industrial" para se adaptarem os novos tempos de uma nova "Era da Informação".
Essa "Revolução em Assuntos Militares" envolveria ainda mais tecnologia e forças mais móveis e menores, capazes de obter "Dominância Rápida" e produzir "Choque e Pavor".
"O Choque e Pavor" do grande bombardeio pela aviação e mísseis não funcionou instantaneamente, mas a conjugação do poder aéreo com as tropas terrestres fez a guerra terminar bem mais cedo do que muitos previam. Boa parte do "Choque" e do "Pavor" foi obra dos pesadões tanques Abrams de 60 toneladas que Rumsfeld acha jurássicos.
Mesmo iniciada a guerra, a falta de informações precisas fez com que os analistas fizessem previsões muito variadas.
Logo no começo do mês, em 2 de abril, a agência de notícias "Reuters" ouviu 25 especialista em defesa e em Oriente Médio, 19 dos quais deram estimativas entre duas semanas a seis meses para a tomada da capital do Iraque.
Mais sensatos, os outros seis preferiram não se comprometer com prazos. Em pouco mais de uma semana o regime de Saddam Hussein cairia em Bagdá.
"É importante começar com uma admissão de ignorância. A guerra não acabou. Os comandos americano e britânico revelaram bem menos "fatos" sobre essa guerra do que sobre o conflito prévio", escreveu Anthony Cordesman, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington, em um artigo com o título "As "Lições Instantâneas" da Guerra no Iraque" já disponível no site do instituto.
Outro analista, Loren Thomson, do Instituto Lexington, acha que as críticas a Rumsfeld não estão totalmente erradas, mas são caracterizadas por miopia.
Por exemplo, Thomson lembra o general reformado Barry McCaffrey, que afirmou que seria preciso usar mais uma divisão "pesada" (repleta de blindados), do tipo da 3ª Divisão de Infantaria, a unidade que mais suportou o peso da campanha.
Só que o plano já previa o uso de mais uma divisão, a 4ª de Infantaria, que deveria ter atacado pela Turquia. Que a Turquia não tenha permitido sua passagem "não é culpa de Rumsfeld", disse Thomson, que já defendia o secretário da Defesa no último dia 3.
McCaffrey, que comandou uma divisão na Primeira Guerra do Golfo, de 91, chegou a especular que se houvesse resistência, os anglo-americanos poderiam ter cerca de 3.000 baixas. O general foi cauteloso -usou o condicional "se"-, mas hoje seus críticos preferem lembrar a estimativa furada, como os ultraconservadores editores da revista "National Review". O pessoal da revista também fez questão de lembrar o comentário dos colunistas "liberais" que previram lutas difíceis -como os que antes da guerra já a comparavam com derrotas como as da Baía dos Porcos (em Cuba), do Vietnã ou Somália.
O almirante britânico rir Michael Boyce, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Reino Unido, declarou ao historiador militar e jornalista britânico John Keegan que a velocidade foi a chave do sucesso da coalizão, pois desorientou a defesa pouco flexível dos iraquianos.
O percentual de bombas "inteligentes" (isto é, com alguma forma de guiagem eletrônica que não a mera pontaria do piloto) chegou a 90% em dados momentos (contrastando com meros 7% durante a Guerra do Golfo de 1991).
Mas como muitos alvos estavam em campo aberto, longe de áreas civis, puderam ser atingidos por bombas "burras", baixando o percentual para 70% do total de 23.000 bombas lançadas, uma ígnea e brutal cascata.


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