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ANÁLISE
Rumsfeld estava certo?
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os críticos da maneira como o
secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, conduziu a Segunda Guerra do Golfo estão tendo que engolir suas palavras, apesar de algumas surpresas no caminho das tropas americanas no
Iraque, e da situação ainda fluida
em certos pontos do país.
O debate estratégico voltou a se
aquecer nos Estados Unidos, pois
o que está em jogo é muito mais
do que a análise acadêmica do
que aconteceu em meras três semanas de combate.
Os resultados de conflitos como
os de Kosovo (1999), Afeganistão
(2001 em diante) e agora deste
servirão para moldar a estrutura
as Forças Armadas americanas
para o futuro.
Rumsfeld tem defendido a
transformação das Forças Armadas dos EUA de modo a deixarem
de ser forças lentas e pesadas da
"Era Industrial" para se adaptarem os novos tempos de uma nova "Era da Informação".
Essa "Revolução em Assuntos
Militares" envolveria ainda mais
tecnologia e forças mais móveis e
menores, capazes de obter "Dominância Rápida" e produzir
"Choque e Pavor".
"O Choque e Pavor" do grande
bombardeio pela aviação e mísseis não funcionou instantaneamente, mas a conjugação do poder aéreo com as tropas terrestres
fez a guerra terminar bem mais
cedo do que muitos previam. Boa
parte do "Choque" e do "Pavor"
foi obra dos pesadões tanques
Abrams de 60 toneladas que
Rumsfeld acha jurássicos.
Mesmo iniciada a guerra, a falta
de informações precisas fez com
que os analistas fizessem previsões muito variadas.
Logo no começo do mês, em 2
de abril, a agência de notícias
"Reuters" ouviu 25 especialista
em defesa e em Oriente Médio, 19
dos quais deram estimativas entre
duas semanas a seis meses para a
tomada da capital do Iraque.
Mais sensatos, os outros seis
preferiram não se comprometer
com prazos. Em pouco mais de
uma semana o regime de Saddam
Hussein cairia em Bagdá.
"É importante começar com
uma admissão de ignorância. A
guerra não acabou. Os comandos
americano e britânico revelaram
bem menos "fatos" sobre essa
guerra do que sobre o conflito
prévio", escreveu Anthony Cordesman, do Centro para Estudos
Estratégicos e Internacionais, de
Washington, em um artigo com o
título "As "Lições Instantâneas" da
Guerra no Iraque" já disponível
no site do instituto.
Outro analista, Loren Thomson, do Instituto Lexington, acha
que as críticas a Rumsfeld não estão totalmente erradas, mas são
caracterizadas por miopia.
Por exemplo, Thomson lembra
o general reformado Barry
McCaffrey, que afirmou que seria
preciso usar mais uma divisão
"pesada" (repleta de blindados),
do tipo da 3ª Divisão de Infantaria, a unidade que mais suportou
o peso da campanha.
Só que o plano já previa o uso de
mais uma divisão, a 4ª de Infantaria, que deveria ter atacado pela
Turquia. Que a Turquia não tenha
permitido sua passagem "não é
culpa de Rumsfeld", disse Thomson, que já defendia o secretário
da Defesa no último dia 3.
McCaffrey, que comandou uma
divisão na Primeira Guerra do
Golfo, de 91, chegou a especular
que se houvesse resistência, os anglo-americanos poderiam ter cerca de 3.000 baixas. O general foi
cauteloso -usou o condicional
"se"-, mas hoje seus críticos preferem lembrar a estimativa furada, como os ultraconservadores
editores da revista "National Review". O pessoal da revista também fez questão de lembrar o comentário dos colunistas "liberais"
que previram lutas difíceis -como os que antes da guerra já a
comparavam com derrotas como
as da Baía dos Porcos (em Cuba),
do Vietnã ou Somália.
O almirante britânico rir Michael Boyce, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do
Reino Unido, declarou ao historiador militar e jornalista britânico John Keegan que a velocidade
foi a chave do sucesso da coalizão,
pois desorientou a defesa pouco
flexível dos iraquianos.
O percentual de bombas "inteligentes" (isto é, com alguma forma
de guiagem eletrônica que não a
mera pontaria do piloto) chegou a
90% em dados momentos (contrastando com meros 7% durante
a Guerra do Golfo de 1991).
Mas como muitos alvos estavam em campo aberto, longe de
áreas civis, puderam ser atingidos
por bombas "burras", baixando o
percentual para 70% do total de
23.000 bombas lançadas, uma ígnea e brutal cascata.
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