São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Em entrevista coletiva, presidente americano nega comparação com o Vietnã, mas admite enviar mais tropas

Fracasso no Iraque é "impensável", diz Bush

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou ontem que um fracasso no Iraque é "impensável", rejeitou as comparações com a Guerra do Vietnã, reafirmou o calendário da transição iraquiana e disse que seu país está fazendo história: "Estamos mudando o mundo".
Em uma entrevista coletiva convocada em meio a fortes pressões por conta das dificuldades da coalizão liderada pelos americanos no Iraque, Bush admitiu que os soldados dos EUA estão vivendo um período "duro e difícil".
Ele afirmou, porém, que a atual onda de violência não é representativa: "Não é uma guerra civil. Não é um levante popular". Bush responsabilizou "a militância islâmica, os partidários do ex-ditador Saddam Hussein e os terroristas de outros países" pela situação caótica.
O presidente disse que a analogia com o Vietnã é "falsa" e ""passa uma mensagem errada para as tropas e para a sociedade".
A hipótese de uma derrota, a exemplo do que ocorreu no conflito vietnamita (1965-75), foi rechaçada por Bush. "As conseqüências de um fracasso no Iraque seriam impensáveis. Todos os que se opõem aos EUA celebrariam, proclamando nossa debilidade", declarou, referindo-se aos grupos terroristas.
"Os EUA devem estar na ofensiva e vão se manter na ofensiva"", disse Bush sobre a condução das operações no Iraque e sobre a guerra contra o terrorismo -temas que dominaram totalmente a entrevista.
Ele admitiu também que pode reforçar as tropas no Iraque. "Se for necessário o envio de mais tropas, ficarei feliz em fazê-lo", disse.
"Os terroristas no Iraque e em outros lugares atuam com base em uma ideologia fanática. Eles querem armas de destruição em massa e morte em grande escala. Nós e o mundo civilizado estamos dando uma resposta a essa ideologia do terror", disse.
Confrontado com o fato de estar perdendo popularidade por causa das dificuldades no Iraque, Bush disse: "Não tomo decisões baseado em pesquisas, pois o que estamos fazendo mudará o mundo".
Questionado sobre a inexistência, até agora, das armas de destruição em massa iraquianas que justificaram a guerra, Bush afirmou, várias vezes, que Saddam era "uma ameaça" e "um perigo" para os EUA e para o mundo. Ele disse que "todas as informações disponíveis" indicavam a existência das armas. "Saddam tinha a capacidade de produzir armas químicas e biológicas"", disse.

Compromisso moral
Bush reafirmou que os EUA devem entregar a soberania do Iraque para um governo provisório no próximo dia 30 de junho. "Mas nosso compromisso militar e moral no Iraque vai continuar."
Ele disse também que deseja uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU para que outros países se envolvam na transição iraquiana.
Confrontado com as expectativas iniciais de sua própria administração, de que os americano seriam recebidos com "flores e doces" e que a receita do petróleo iraquiano pagaria pelos custos da guerra, Bush afirmou: "O Iraque é hoje um lugar melhor. Sobre o petróleo, eu acreditava que a maior parte dos poços seria destruída durante a guerra. Isso não ocorreu, e o dinheiro do petróleo vai ajudar os iraquianos na reconstrução de seu país".
Bush também teve de responder a uma série de perguntas relativas a uma comissão do Congresso que investiga as ações do governo antes dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Questionado sobre se se sentia de alguma maneira responsável por não ter impedido os ataques, Bush não respondeu. Também tergiversou ao ser indagado se devia desculpas às famílias dos mortos no 11 de Setembro.

Queda de popularidade
A coletiva de Bush, a terceira realizada em horário nobre (às 20h30 em Washington) em seu mandato, teve o objetivo de reverter o crescente quadro desfavorável ao presidente, candidato à reeleição em novembro.
Pesquisa divulgada ontem mostrou que a popularidade de Bush caiu ao nível mais baixo de seu mandato, segundo o Gallup, com uma taxa de aprovação de 50,9% no primeiro trimestre de 2004, contra 55,4% no mesmo período em 2003. Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, esse nível de satisfação chegava a 86%.
Apesar da cuidadosa estratégia para a reeleição montada pelo Partido Republicano, Bush vem sofrendo desgastes contínuos em áreas onde não tem controle, como no Iraque e no andamento das investigações da comissão do 11 de Setembro no Congresso.
Os dois pontos passaram a afetar frontalmente o núcleo do discurso de Bush para a sua campanha, de liderança nas áreas de segurança interna e no combate ao terrorismo internacional.
Uma outra pesquisa, da Associated Press, mostrou um aumento do número de americanos preocupados com o rumo da Guerra do Iraque (de 9% em junho de 2003 para 17% agora) e com ameaças terroristas (de 14% para 21%).


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