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IRAQUE OCUPADO
Em entrevista coletiva, presidente americano nega comparação com o Vietnã, mas admite enviar mais tropas
Fracasso no Iraque é "impensável", diz Bush
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, afirmou ontem que um
fracasso no Iraque é "impensável", rejeitou as comparações com
a Guerra do Vietnã, reafirmou o
calendário da transição iraquiana
e disse que seu país está fazendo
história: "Estamos mudando o
mundo".
Em uma entrevista coletiva convocada em meio a fortes pressões
por conta das dificuldades da coalizão liderada pelos americanos
no Iraque, Bush admitiu que os
soldados dos EUA estão vivendo
um período "duro e difícil".
Ele afirmou, porém, que a atual
onda de violência não é representativa: "Não é uma guerra civil.
Não é um levante popular". Bush
responsabilizou "a militância islâmica, os partidários do ex-ditador
Saddam Hussein e os terroristas
de outros países" pela situação
caótica.
O presidente disse que a analogia com o Vietnã é "falsa" e ""passa
uma mensagem errada para as
tropas e para a sociedade".
A hipótese de uma derrota, a
exemplo do que ocorreu no conflito vietnamita (1965-75), foi rechaçada por Bush. "As conseqüências de um fracasso no Iraque seriam impensáveis. Todos os
que se opõem aos EUA celebrariam, proclamando nossa debilidade", declarou, referindo-se aos
grupos terroristas.
"Os EUA devem estar na ofensiva e vão se manter na ofensiva"",
disse Bush sobre a condução das
operações no Iraque e sobre a
guerra contra o terrorismo -temas que dominaram totalmente a
entrevista.
Ele admitiu também que pode
reforçar as tropas no Iraque. "Se
for necessário o envio de mais tropas, ficarei feliz em fazê-lo", disse.
"Os terroristas no Iraque e em
outros lugares atuam com base
em uma ideologia fanática. Eles
querem armas de destruição em
massa e morte em grande escala.
Nós e o mundo civilizado estamos
dando uma resposta a essa ideologia do terror", disse.
Confrontado com o fato de estar
perdendo popularidade por causa
das dificuldades no Iraque, Bush
disse: "Não tomo decisões baseado em pesquisas, pois o que estamos fazendo mudará o mundo".
Questionado sobre a inexistência, até agora, das armas de destruição em massa iraquianas que
justificaram a guerra, Bush afirmou, várias vezes, que Saddam
era "uma ameaça" e "um perigo"
para os EUA e para o mundo. Ele
disse que "todas as informações
disponíveis" indicavam a existência das armas. "Saddam tinha a
capacidade de produzir armas
químicas e biológicas"", disse.
Compromisso moral
Bush reafirmou que os EUA devem entregar a soberania do Iraque para um governo provisório
no próximo dia 30 de junho. "Mas
nosso compromisso militar e moral no Iraque vai continuar."
Ele disse também que deseja
uma nova resolução do Conselho
de Segurança da ONU para que
outros países se envolvam na
transição iraquiana.
Confrontado com as expectativas iniciais de sua própria administração, de que os americano
seriam recebidos com "flores e
doces" e que a receita do petróleo
iraquiano pagaria pelos custos da
guerra, Bush afirmou: "O Iraque é
hoje um lugar melhor. Sobre o petróleo, eu acreditava que a maior
parte dos poços seria destruída
durante a guerra. Isso não ocorreu, e o dinheiro do petróleo vai
ajudar os iraquianos na reconstrução de seu país".
Bush também teve de responder a uma série de perguntas relativas a uma comissão do Congresso que investiga as ações do governo antes dos atentados de 11 de
setembro de 2001.
Questionado sobre se se sentia
de alguma maneira responsável
por não ter impedido os ataques,
Bush não respondeu. Também
tergiversou ao ser indagado se devia desculpas às famílias dos mortos no 11 de Setembro.
Queda de popularidade
A coletiva de Bush, a terceira
realizada em horário nobre (às
20h30 em Washington) em seu
mandato, teve o objetivo de reverter o crescente quadro desfavorável ao presidente, candidato à reeleição em novembro.
Pesquisa divulgada ontem mostrou que a popularidade de Bush
caiu ao nível mais baixo de seu
mandato, segundo o Gallup, com
uma taxa de aprovação de 50,9%
no primeiro trimestre de 2004,
contra 55,4% no mesmo período
em 2003. Logo após os atentados
de 11 de setembro de 2001, esse nível de satisfação chegava a 86%.
Apesar da cuidadosa estratégia
para a reeleição montada pelo
Partido Republicano, Bush vem
sofrendo desgastes contínuos em
áreas onde não tem controle, como no Iraque e no andamento
das investigações da comissão do
11 de Setembro no Congresso.
Os dois pontos passaram a afetar frontalmente o núcleo do discurso de Bush para a sua campanha, de liderança nas áreas de segurança interna e no combate ao
terrorismo internacional.
Uma outra pesquisa, da Associated Press, mostrou um aumento do número de americanos
preocupados com o rumo da
Guerra do Iraque (de 9% em junho de 2003 para 17% agora) e
com ameaças terroristas (de 14%
para 21%).
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