São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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EUROPA

Partido do extremista assassinado Pim Fortuyn dispõe de 18,5% das intenções de voto para a eleição de amanhã

Extrema direita holandesa já está em 2º

DA REUTERS

A popularidade póstuma do líder holandês de extrema direita Pim Fortuyn levou seu partido ao segundo lugar nas intenções de voto nas eleições de amanhã na Holanda, de acordo com uma pesquisa divulgada ontem, a primeira desde que Fortuyn foi morto, na semana passada.
Segundo a pesquisa, conduzida pelo instituto Nipo para o programa de TV 2Vandaag, o Lista de Pim Fortuyn (LPF, que engloba os partidos locais de extrema direita), fundado há três meses, fica atrás apenas do CDA (Partido Democrata Cristão), com 18,5% das intenções de voto, ou 28 das 150 cadeiras do Parlamento. Na pesquisa anterior do instituto, de 1º de maio, o LPF tinha 17% das intenções de voto (26 cadeiras).
O CDA -que saiu do governo em 1994, após mais de 70 anos no poder- teria 20,5% dos votos, ou 31 cadeiras, em comparação a 19,3% na última pesquisa e 18,4% na Câmara Baixa hoje.
Alguns especialistas advertiram que as cédulas podem ser usadas amanhã como "livros de condolências" por holandeses chocados com a morte de Fortuyn, 54, mas outros duvidam da capacidade do LPF de arregimentar eleitores sem seu carismático fundador.
O controverso Fortuyn, sociólogo abertamente homossexual, se opunha à entrada de novos imigrantes na Holanda, chamava o islã de "retrógrado", defendia a tolerância zero em relação ao crime e desprezava um establishment político que classificava de complacente e fora de sintonia com a população.
O LPF -cujos candidatos incluem uma ex-Miss Holanda, um criador de porcos e um apresentador de TV, mas poucos políticos experientes- escolheu um novo líder para substituir Fortuyn.
Esse novo dirigente, Peter Langendam, manteve a tradição polêmica de Fortuyn ontem ao acusar partidos de esquerda de incitar um sentimento de ódio que teria levado a seu assassinato.
"[O líder do partido Esquerda Verde Paul] Rosenmoeller o chamou de racista. [O premiê Wim] Kok disse que Fortuyn semeava a discórdia. Isso só cria uma atmosfera na qual idiotas podem se justificar", disse Langendam ao jornal "Het Parool". "A bala veio da esquerda, não da direita."
Langendam, 53, disse que políticos haviam chorado "lágrimas de crocodilo" por Fortuyn. "Eles negam sua responsabilidade conjunta. Eu não aceito isso. Isso é justificar o assassinato."
Kok, para cuja legenda, o PvdA (Partido Trabalhista), a pesquisa dá 16,5% dos votos -quase metade do que obteve em 1998-, disse que os comentários de Langendam foram longe demais.
"Tive um arrepio na espinha ao ler aquilo", disse Kok. "Eu tinha pedido calma e respeito mútuo. Todos fizeram isso até agora. É assustador que Langendam ponha lenha na fogueira dessa forma."
Advogados de Fortuyn abriram ontem um processo contra vários jornalistas e três políticos dos partidos que formam a coalizão no governo por supostamente incitar o ódio a ele. Segundo os advogados, Gerard Spong e Oscar Hammerstein, Fortuyn lhes pedira que abrissem uma investigação se algo acontecesse a ele.
Langendam afirmou esperar que seu partido ganhe mais cadeiras no Parlamento. "Vinte é muito pouco. Queremos 40 ou 50 para que ninguém possa nos ignorar."
O LPF declarou que nomeará, após a eleição, um sucessor definitivo para Fortuyn. Landendam disse não ter interesse na política no longo prazo. "Eu odeio política. Só queria ajudar Pim. Agora preciso aguentar para assegurar que as eleições corram bem."



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