São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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SERRA LEOA

Cerca de 2,3 milhões de eleitores escolherão o Parlamento e o presidente após uma década de sangrenta guerra civil

"Pior país do mundo" vai às urnas hoje em busca de paz

DA REDAÇÃO

Cerca de 2,3 milhões de eleitores vão às urnas hoje eleger o novo Parlamento e o próximo presidente de Serra Leoa, trazendo esperança de estabilidade num país aterrorizado há mais de uma década por uma das guerras civis mais sangrentas da África.
"Um marco", disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Ele pediu aos leoneses que "exercitem seu direito de voto num mesmo espírito de paz e tolerância".
As Nações Unidas tiveram um papel fundamental na pacificação do país do oeste da África: uma intervenção de forças de paz lideradas por soldados do Reino Unido e da Nigéria, em 1999, impediu a continuidade de uma situação que beirava o caos total.
As atrocidades cometidas na luta fratricida e a desestruturação econômica e social fizeram com que a ONU classificasse Serra Leoa como o pior país do mundo.
Os exemplos do radicalismo são muitos. Por discordar dos resultados da última eleição, vencida em 1996 pelo presidente Ahmed Tejan Kabbah, a rebelde FRU (Frente Revolucionária Unida) cortava as mãos dos eleitores de Kabbah e deixava marcas a ferro e fogo nos corpos dos "inimigos".
Hoje, o principal líder da FRU, Foday Sankoh, está preso; segundo as tropas internacionais de paz, quase 50 mil rebeldes foram totalmente desarmados; e governo e ONU concordam na formação de um tribunal especial nos mesmos moldes dos que julgam as atrocidades cometidas em Ruanda e na ex-Iugoslávia.
A Frente apóia Pallo Bangura, um acadêmico conhecido no país e figura política de prestígio. Bangura afirma que não tinha conhecimento das atrocidades cometidas pela FRU.
Kabbah é favorito para a reeleição e enfrenta oito adversários. Seu principal opositor é Ernest Koroma, líder do Congresso de Todos os Povos, partido que hoje está na oposição, mas que governou o país por 24 anos.
John Paul Koroma também é candidato. Ele foi o chefe da junta militar que trocou de lado algumas vezes durante a guerra civil, ora apoiando Kabbah, ora apoiando os rebeldes.
Se nenhum deles alcançar 55% dos votos, um segundo turno deve ocorrer em 15 dias.
Os agora ex-rebeldes reclamam que membros do governista Partido do Povo estão engajados numa campanha de intimidação contra os candidatos da FRU. Enquanto isso, rumores circulam em Freetown, a capital, de que os ex-rebeldes vão voltar a cortar as mãos dos eleitores adversários se perderem nas urnas.
Apesar das acusações de lado a lado, observadores internacionais dizem que esperam apenas pequenos incidentes e, principalmente, problemas logísticos.
A guerra deixou a maior parte do país sem eletricidade, sem comunicações telefônicas e com estradas quase intransitáveis. Em algumas localidades, as urnas só poderão chegar de helicóptero.
A segurança do pleito será feita pelas tropas britânicas e da ONU.
Mas as experiências anteriores levam muitos a não confiar tanto na segurança prometida.
O leonês Sieh Mansaray, 49, teve a sua mão direita decepada pelos rebeldes em 1998. "A última vez que tivemos eleições, todos pensaram que as coisas correriam bem, mas a guerra recomeçou logo depois", afirmou.


Com agências internacionais

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