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SERRA LEOA
Cerca de 2,3 milhões de eleitores escolherão o Parlamento e o presidente após uma década de sangrenta guerra civil
"Pior país do mundo" vai às urnas hoje em busca de paz
DA REDAÇÃO
Cerca de 2,3 milhões de eleitores vão às urnas hoje eleger o novo
Parlamento e o próximo presidente de Serra Leoa, trazendo esperança de estabilidade num país aterrorizado há mais de uma década por uma das guerras civis mais sangrentas da África.
"Um marco", disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Ele
pediu aos leoneses que "exercitem seu direito de voto num mesmo espírito de paz e tolerância".
As Nações Unidas tiveram um
papel fundamental na pacificação
do país do oeste da África: uma
intervenção de forças de paz lideradas por soldados do Reino Unido e da Nigéria, em 1999, impediu
a continuidade de uma situação
que beirava o caos total.
As atrocidades cometidas na luta fratricida e a desestruturação
econômica e social fizeram com
que a ONU classificasse Serra
Leoa como o pior país do mundo.
Os exemplos do radicalismo são
muitos. Por discordar dos resultados da última eleição, vencida em
1996 pelo presidente Ahmed Tejan Kabbah, a rebelde FRU (Frente Revolucionária Unida) cortava
as mãos dos eleitores de Kabbah e
deixava marcas a ferro e fogo nos
corpos dos "inimigos".
Hoje, o principal líder da FRU,
Foday Sankoh, está preso; segundo as tropas internacionais de
paz, quase 50 mil rebeldes foram
totalmente desarmados; e governo e ONU concordam na formação de um tribunal especial nos
mesmos moldes dos que julgam
as atrocidades cometidas em
Ruanda e na ex-Iugoslávia.
A Frente apóia Pallo Bangura,
um acadêmico conhecido no país
e figura política de prestígio. Bangura afirma que não tinha conhecimento das atrocidades cometidas pela FRU.
Kabbah é favorito para a reeleição e enfrenta oito adversários.
Seu principal opositor é Ernest
Koroma, líder do Congresso de
Todos os Povos, partido que hoje
está na oposição, mas que governou o país por 24 anos.
John Paul Koroma também é
candidato. Ele foi o chefe da junta
militar que trocou de lado algumas vezes durante a guerra civil,
ora apoiando Kabbah, ora
apoiando os rebeldes.
Se nenhum deles alcançar 55%
dos votos, um segundo turno deve ocorrer em 15 dias.
Os agora ex-rebeldes reclamam
que membros do governista Partido do Povo estão engajados numa campanha de intimidação
contra os candidatos da FRU. Enquanto isso, rumores circulam
em Freetown, a capital, de que os
ex-rebeldes vão voltar a cortar as
mãos dos eleitores adversários se
perderem nas urnas.
Apesar das acusações de lado a
lado, observadores internacionais
dizem que esperam apenas pequenos incidentes e, principalmente, problemas logísticos.
A guerra deixou a maior parte
do país sem eletricidade, sem comunicações telefônicas e com estradas quase intransitáveis. Em
algumas localidades, as urnas só
poderão chegar de helicóptero.
A segurança do pleito será feita
pelas tropas britânicas e da ONU.
Mas as experiências anteriores
levam muitos a não confiar tanto
na segurança prometida.
O leonês Sieh Mansaray, 49, teve
a sua mão direita decepada pelos
rebeldes em 1998. "A última vez
que tivemos eleições, todos pensaram que as coisas correriam
bem, mas a guerra recomeçou logo depois", afirmou.
Com agências internacionais
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