São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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CIA usa coerção contra Al Qaeda e teme exposição

DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

A CIA (agência de inteligência dos EUA) vem utilizando métodos de interrogatório coercivos contra um grupo seleto de líderes e agentes de alto nível da rede terrorista Al Qaeda. Eles vêm gerando na própria agência o temor crescente de que possam estar sendo cometidos abusos. A informação é de autoridades atuais e antigas de contraterrorismo.
Pelo menos um funcionário da agência sofreu medida disciplinar por ter ameaçado um detento com uma arma durante um interrogatório. No caso de Khalid Shaikh Mohammed, um detento de alto nível que, acredita-se, ajudou a planejar os ataques do 11 de Setembro, os interrogadores usaram bastante força, incluindo uma técnica conhecida como "water boarding", na qual o prisioneiro é amarrado, empurrado à força debaixo de água e levado a crer que pode morrer afogado.
Essas técnicas foram autorizadas por um conjunto de normas secretas para o interrogatório de prisioneiros de alto nível da Al Qaeda, nenhum dos quais, ao que se sabe, abrigados no Iraque, que foram ratificadas por pareceres legais secretos do Departamento da Justiça e da CIA. As regras estavam entre as primeiras adotadas após o 11 de Setembro para o tratamento de detentos e podem ter ajudado a criar em todo o governo a idéia nova de que os agentes passariam a gozar de liberdade maior para usar a força.
Os defensores da operação disseram que os métodos não chegam a constituir tortura, que não violam os estatutos americanos antitortura e que foram necessários para travar a guerra contra um inimigo nebuloso cuja força e cujas intenções só poderiam ser avaliados por meio de informações arrancadas de detentos avessos a cooperar. Os interrogadores tentavam descobrir se poderia haver outro ataque contra os EUA.
Os métodos empregados pela CIA são tão severos que altos funcionários do FBI (polícia federal) orientaram seus agentes a ficar de fora de muitos dos interrogatórios. Os funcionários do FBI avisaram o diretor do organismo, Robert S. Mueller, que as técnicas seriam proibidas e corriam o risco de comprometer seus agentes em processos criminais futuros.
Após o 11 do Setembro, o presidente George W. Bush assinou uma série de diretrizes autorizando a CIA a conduzir uma guerra oculta contra a Al Qaeda de Osama Bin Laden. As diretrizes autorizaram a CIA a matar ou capturar líderes da Al Qaeda, mas não está certo se a Casa Branca aprovou regras específicas.
A Casa Branca e a CIA se negaram a comentar o assunto.
O programa de detenção é o componente mais sigiloso de um regime amplo de detenção e interrogatório implantado após o 11 de Setembro e a Guerra do Afeganistão (2001) e que inclui as prisões administradas pelos militares no Iraque e em Guantánamo.
Agora a CIA teme que os inquéritos criminais e no Congresso sobre abusos cometidos em prisões do Pentágono possam levar a uma investigação do tratamento dado pela agência aos detentos da Al Qaeda. Até agora a CIA vem recusando a qualquer grupo independente acesso aos detentos de alto nível (de 12 a 20) que vêm sendo mantidos em sigilo rígido.
As táticas usadas simulam a tortura, mas, segundo autoridades, não devem causar ferimentos graves. Autoridades de contraterrorismo dizem que detentos também foram enviados a outros países, onde são convencidos de que podem ser executados, ou então ludibriados para acreditar que foram enviados a tais países. Alguns foram espancados e privados de comida, luz e remédios.
"Alguns envolvidos receiam que os EUA possam ter um presidente novo ou que o clima vigente mude e que então possam ser chamados à responsabilidade", comentou uma fonte. "Isso já está acontecendo, e em menos tempo do que se previa." A CIA abriu inquérito para apurar as mortes de três detentos de nível baixo no Iraque e no Afeganistão.


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