São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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ÍNDIA

Em vitória inesperada, Partido do Congresso obtém maioria no Parlamento e deve indicar Sonia Gandhi como primeira-ministra

Surpresa eleitoral devolve poder aos Gandhis

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro da Índia, Atal Behari Vajpayee, renunciou ontem após a surpreendente derrota de seu partido nas eleições parlamentares. Ele continuará no cargo até a definição de seu sucessor, que deverá ser a herdeira da dinastia Nehru-Gandhi, Sonia Gandhi.
Após oito anos na oposição, o Partido do Congresso volta ao poder pelas mãos de uma líder de 57 anos nascida na Itália.
"O povo deu seu veredicto. Eu o aceito. O meu partido pode ter perdido, mas a Índia venceu. Tenho, no entanto, a satisfação de ver que nosso país está agora mais próspero e forte do que quando vocês nos colocaram no governo", declarou Vajpayee, do Partido Bharatiya Janata (BJP).
A eleição, que aconteceu em cinco etapas entre os dias 20 de abril e 10 deste mês devido ao tamanho do eleitorado, levou às urnas 370 milhões de eleitores, com um índice elevado de abstenção (cerca de 45%). Com a apuração quase terminada, a coalizão liderada pelo Partido do Congresso e que também terá o apoio de um bloco de partidos de esquerda ocupará ao menos 278 das 543 cadeiras do Parlamento.
O BJP deve ficar com apenas 183 vagas. A coalizão liderada por Vajpayee perdeu um terço de seus deputados, incluindo a vaga ocupada pelo chanceler Yashwant Sinha.
O resultado, não previsto por analistas e pesquisas de opinião, foi uma larga rejeição da maioria indiana pobre e moradora das áreas rurais à política econômica do BJP, expressa no slogan de campanha "India shinning" (Índia luminosa). A confiança -ou arrogância, para muitos críticos- de Vajpayee e do BJP era tanta que eles decidiram antecipar a eleição em seis meses, acreditando que se beneficiariam, nas urnas, do bom desempenho econômico do governo.
Apesar de a economia estar vivendo um momento de grande expansão, com taxa de crescimento de 10,4% em 2003, a maioria da população sente-se excluídas desse boom -cerca de 300 milhões de indianos vivem com menos de um dólar por dia.
Não se espera, no entanto, que o governo do Partido do Congresso vá promover mudanças significativas na política de gradual liberalização da terceira maior economia da Ásia.
Aparentemente, os eleitores também deram ouvidos à mensagem de Gandhi em defesa de um país secular, em contraste com a posição marcadamente pró-hindu do BJP. Essa linha nacionalista-religiosa do partido de Vajpayee acabou deixando mais tensas as relações entre a maioria hindu (80%) e a minoria muçulmana (14%).
"O Partido do Congresso vai garantir que nosso país tenha um governo forte, estável e secular", afirmou Gandhi em rápido pronunciamento.
Um dos principais temas da campanha eleitoral foram as negociações de paz iniciadas por Vajpayee com o Paquistão. Os dois países, que têm armas nucleares, já travaram três guerras (1948, 1965 e 1971) -duas delas por divergências quanto à Caxemira.
A Índia, que domina 45% da Caxemira, considera a região de maioria muçulmana como parte de seu território. O Paquistão, que controla cerca de um terço da Caxemira, defende a proposta da ONU que pede a realização de um plebiscito.
Gandhi afirmou ontem que o processo não será interrompido. "Desde o começo nós apoiamos as iniciativas do primeiro-ministro junto ao Paquistão."
Tanto o governo do Paquistão quanto os separatistas da Caxemira manifestaram-se esperançosos na continuação das conversas de paz. "Esse processo não tem nada a ver com pessoas. Tem a ver com nações e povos", disse Rashid Ahmed, ministro da Informação paquistanês.


Com agências internacionais


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