São Paulo, quinta, 14 de maio de 1998

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INDONÉSIA
Presidente, no poder há 32 anos, antecipa volta de viagem após distúrbios que deixaram dez mortos no país
Suharto já admite deixar o poder

das agências internacionais

O presidente Suharto, da Indonésia, afirmou pela primeira vez que pode deixar o poder no país.
"Se eu não sou mais merecedor de confiança, me tornarei um sábio, lutarei para me aproximar de Deus", disse o presidente em visita ao Cairo, segundo o jornal "Jakarta Post". "Não usarei a força das armas", afirmou ele, segundo o jornal.
Suharto antecipou para hoje o retorno ao seu país depois de pelo menos dez pessoas terem morrido ontem em novos distúrbios na capital, Jacarta, em meio a manifestações contra o governo e a ataques e saques contra o comércio.
O presidente foi ao Egito para uma cúpula de países em desenvolvimento.
Após a divulgação das declarações de Suharto, a cotação da rupia subiu cerca de 10%. O mercado financeiro interpretou a possibilidade de renúncia como uma chance de encerrar a crise no país.
Residentes da capital afirmaram que nove pessoas, provavelmente de origem chinesa, foram mortas durante a noite por uma multidão de saqueadores. Os chineses, minoria étnica que domina o comércio na Indonésia, costumam ser bodes expiatórios em momentos de crise. Segundo testemunhas, os saques duraram diversas horas. Carros e lojas foram queimados.
Às portas da Universidade Trisakti, outro corpo podia ser visto depois de a polícia voltar a entrar em choque com milhares de estudantes que realizavam um ato pedindo reformas econômicas e o fim do regime do presidente Suharto, há 32 anos no poder.
Anteontem, no mesmo local, seis estudantes haviam sido mortos a tiros em meio a choques com as forças de segurança.
A instabilidade social na Indonésia, um arquipélago de 200 milhões de habitantes, estourou depois de a crise asiática ter atingido o país, no maior abalo econômico dos últimos 30 anos. Houve desvalorização da moeda, a rupia, e subiram o desemprego e a inflação.
Os estudantes têm liderado as manifestações contra o regime do presidente indonésio, iniciadas na metade de fevereiro.
Ontem, milhares deles entraram em choque com a polícia nas cidades de Yogyakarta e Bandung. Não há informações sobre vítimas. Em Surabaya, a polícia permitiu que 30 mil estudantes tomassem as ruas, evitando a violência.
Os EUA e a União Européia pediram que o governo indonésio pare de utilizar armas de fogo contra os protestos populares e passe a respeitar os direitos individuais.
"Repetimos o pedido para que as forças de segurança evitem usar a força", disse James Rubin, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.



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