São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

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ONU

Representações em Roma criticaram divergências e falta de medidas concretas para garantir direito a alimentação de qualidade

Decepção marca fim da cúpula contra fome

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

A Cúpula Mundial da Alimentação: Cinco Anos Depois, concluída ontem em Roma, após quatro dias de trabalhos, obteve poucos resultados concretos e provocou decepção entre boa parte das representações na reunião, incluindo várias latino-americanas.
Convocada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a cúpula não contou com a presença de chefes de Estado e de governo dos países desenvolvidos, à exceção da Itália (a anfitriã) e da Espanha, que exerce a presidência rotativa da União Européia. O Reino Unido chegou a dizer que não enviara uma delegação de alto nível porque não esperava que a cúpula fosse bem-sucedida.
Para aproximadamente mil organizações não-governamentais (ONGs) que colaboraram com o encontro, incluindo movimentos camponeses da América Latina, a cúpula fracassou. "Não foi dado nem um único passo adiante para combater a fome", disseram, em declaração conjunta, as ONGs.
Não foi aprovada nenhuma "medida que possa vir a garantir a capacidade dos países de definir suas próprias políticas e garantir o acesso a uma alimentação de qualidade para todos", disse Flavio Luiz Schieck Valente, que representou o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional em Roma (leia entrevista abaixo).
Pelo menos 800 milhões de pessoas -mais de 1 em cada 7- passam fome ou não podem se alimentar devidamente. A intenção anunciada da cúpula era buscar formas de salvar cerca de 400 milhões de pessoas da fome até o final de 2015.
"A fome é, após o terrorismo, ou, na verdade, ao lado do terrorismo, o problema mais grave que a comunidade internacional enfrenta", disse o premiê da Itália, Silvio Berlusconi, cujos assessores fizeram articulações para finalizar a cúpula mais cedo a fim de que ele assistisse à partida entre Itália e México pela Copa do Mundo.

Transgênicos
Os EUA persuadiram a ONU a apoiar pesquisas com transgênicos, sugerindo que isso poderia levar a uma "revolução verde", com alimentos para todos, mas ONGs descreveram o movimento como "irresponsável".
Países em desenvolvimento protestaram contra subsídios oferecidos a agricultores de nações desenvolvidas. Diversos ministros da Agricultura da América Latina, incluindo o brasileiro Marcus Vinicius Pratini de Moraes, criticaram a prática.
Washington manteve sua oposição ao direito global à alimentação, temendo que isso dificulte a manutenção de embargos econômicos e permita a abertura de processos por parte de países afetados pela fome. Os EUA aceitaram, porém, um estudo de dois anos sobre o tema.
Kraisid Tontisirin, diretor da Divisão de Nutrição e Alimentação da FAO, disse à Folha, por telefone, que, mais do que nunca, a organização deve se apoiar na ação de voluntários. "Com uma forte mobilização social e o treinamento de voluntários, conseguimos progressos consideráveis na Tailândia, por exemplo."
A cúpula revelou divergências sobre como combater a fome, ceticismo e "falta de uma cultura de solidariedade" (eufemismo usado pelo papa), anunciando um mau presságio para a cúpula mundial sobre o desenvolvimento sustentável a ser realizada na África do Sul, a partir de 26 de agosto.


Com agências internacionais


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