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ONU
Representações em Roma criticaram divergências e falta de medidas concretas para garantir direito a alimentação de qualidade
Decepção marca fim da cúpula contra fome
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
A Cúpula Mundial da Alimentação: Cinco Anos Depois, concluída ontem em Roma, após quatro
dias de trabalhos, obteve poucos
resultados concretos e provocou
decepção entre boa parte das representações na reunião, incluindo várias latino-americanas.
Convocada pela Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a
cúpula não contou com a presença de chefes de Estado e de governo dos países desenvolvidos, à exceção da Itália (a anfitriã) e da Espanha, que exerce a presidência
rotativa da União Européia. O
Reino Unido chegou a dizer que
não enviara uma delegação de alto nível porque não esperava que
a cúpula fosse bem-sucedida.
Para aproximadamente mil organizações não-governamentais
(ONGs) que colaboraram com o
encontro, incluindo movimentos
camponeses da América Latina, a
cúpula fracassou. "Não foi dado
nem um único passo adiante para
combater a fome", disseram, em
declaração conjunta, as ONGs.
Não foi aprovada nenhuma
"medida que possa vir a garantir a
capacidade dos países de definir
suas próprias políticas e garantir o
acesso a uma alimentação de qualidade para todos", disse Flavio
Luiz Schieck Valente, que representou o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional
em Roma (leia entrevista abaixo).
Pelo menos 800 milhões de pessoas -mais de 1 em cada 7-
passam fome ou não podem se
alimentar devidamente. A intenção anunciada da cúpula era buscar formas de salvar cerca de 400
milhões de pessoas da fome até o
final de 2015.
"A fome é, após o terrorismo,
ou, na verdade, ao lado do terrorismo, o problema mais grave que
a comunidade internacional enfrenta", disse o premiê da Itália,
Silvio Berlusconi, cujos assessores
fizeram articulações para finalizar
a cúpula mais cedo a fim de que
ele assistisse à partida entre Itália
e México pela Copa do Mundo.
Transgênicos
Os EUA persuadiram a ONU a
apoiar pesquisas com transgênicos, sugerindo que isso poderia
levar a uma "revolução verde",
com alimentos para todos, mas
ONGs descreveram o movimento
como "irresponsável".
Países em desenvolvimento
protestaram contra subsídios oferecidos a agricultores de nações
desenvolvidas. Diversos ministros da Agricultura da América
Latina, incluindo o brasileiro
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, criticaram a prática.
Washington manteve sua oposição ao direito global à alimentação, temendo que isso dificulte a
manutenção de embargos econômicos e permita a abertura de
processos por parte de países afetados pela fome. Os EUA aceitaram, porém, um estudo de dois
anos sobre o tema.
Kraisid Tontisirin, diretor da
Divisão de Nutrição e Alimentação da FAO, disse à Folha, por telefone, que, mais do que nunca, a
organização deve se apoiar na
ação de voluntários. "Com uma
forte mobilização social e o treinamento de voluntários, conseguimos progressos consideráveis
na Tailândia, por exemplo."
A cúpula revelou divergências
sobre como combater a fome, ceticismo e "falta de uma cultura de
solidariedade" (eufemismo usado
pelo papa), anunciando um mau
presságio para a cúpula mundial
sobre o desenvolvimento sustentável a ser realizada na África do
Sul, a partir de 26 de agosto.
Com agências internacionais
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