Texto Anterior | Índice
"Reunião não garantiu nem direito à alimentação", diz brasileiro
DA REDAÇÃO
A cúpula da ONU não conseguiu garantir o direito nem o acesso à alimentação para todos, afirma Flavio Luiz Schieck Valente, 53, que representou o Fórum
Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional em Roma.
Leia os principais trechos da entrevista que Valente, 53, concedeu
à Folha por e-mail.
(PDF)
Folha - O que o sr. achou da declaração final da cúpula?
Flavio Luiz Schieck Valente - A
declaração reforça a priorização
da engenharia genética e da biotecnologia como um dos mecanismos centrais de combate à fome, o que fortalece a posição das
multinacionais e reflete seu poder
sobre os organismos internacionais e os governos. Também continua a ênfase indiscriminada na
liberalização do comércio sem nenhuma medida que possa vir a garantir a capacidade dos países de
definir suas próprias políticas e
garantir o acesso a uma alimentação de qualidade para todos (segurança alimentar e nutricional e
o próprio direito à alimentação).
A declaração da sociedade civil
no plenário da FAO [Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação" enfatiza
o total repúdio à declaração oficial, que propõe o fortalecimento
da mesma "vontade política" que
vem causando a fome e a desnutrição, ao mesmo tempo em que
defende a soberania alimentar, o
direito humano à alimentação, a
saída da OMC [Organização
Mundial do Comércio" da área da
agricultura e a construção de um
mundo onde caibam muitos
mundos.
Folha - Com foram os debates em
torno do código de conduta sobre o
direito humano à alimentação?
Valente - Por pressão dos EUA e
do Reino Unido, o código de conduta foi reduzido a uma proposta
de um mero conjunto de orientações voluntárias para implementar o direito à alimentação.
Folha - Como o sr. vê a posição do
governo brasileiro no encontro?
Valente - O pronunciamento
oficial não acrescentou muita coisa ao documento apresentado. Ficou claro que o governo continua
a propor a liberalização total do
comércio agrícola por parte da
Europa e dos EUA sem propor alternativas reais para a consolidação do direito humano à alimentação para todos os brasileiros.
Folha - E o Conselho de Promoção
do Direito à Alimentação?
Valente - A proposta de criação
do Conselho Nacional de Promoção do Direito é um passo, mas,
no nosso entender, não está no eixo prioritário do governo atual,
na medida em que o chefe da delegação, ministro Pratini [Marcus
Vinicius Pratini de Moraes, ministro da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento] nem sequer estava informado sobre o mesmo.
Texto Anterior: ONU: Decepção marca fim da cúpula contra fome Índice
|