São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

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"Reunião não garantiu nem direito à alimentação", diz brasileiro

DA REDAÇÃO

A cúpula da ONU não conseguiu garantir o direito nem o acesso à alimentação para todos, afirma Flavio Luiz Schieck Valente, 53, que representou o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional em Roma.
Leia os principais trechos da entrevista que Valente, 53, concedeu à Folha por e-mail. (PDF)

Folha - O que o sr. achou da declaração final da cúpula?
Flavio Luiz Schieck Valente -
A declaração reforça a priorização da engenharia genética e da biotecnologia como um dos mecanismos centrais de combate à fome, o que fortalece a posição das multinacionais e reflete seu poder sobre os organismos internacionais e os governos. Também continua a ênfase indiscriminada na liberalização do comércio sem nenhuma medida que possa vir a garantir a capacidade dos países de definir suas próprias políticas e garantir o acesso a uma alimentação de qualidade para todos (segurança alimentar e nutricional e o próprio direito à alimentação).
A declaração da sociedade civil no plenário da FAO [Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação" enfatiza o total repúdio à declaração oficial, que propõe o fortalecimento da mesma "vontade política" que vem causando a fome e a desnutrição, ao mesmo tempo em que defende a soberania alimentar, o direito humano à alimentação, a saída da OMC [Organização Mundial do Comércio" da área da agricultura e a construção de um mundo onde caibam muitos mundos.

Folha - Com foram os debates em torno do código de conduta sobre o direito humano à alimentação?
Valente -
Por pressão dos EUA e do Reino Unido, o código de conduta foi reduzido a uma proposta de um mero conjunto de orientações voluntárias para implementar o direito à alimentação.

Folha - Como o sr. vê a posição do governo brasileiro no encontro?
Valente -
O pronunciamento oficial não acrescentou muita coisa ao documento apresentado. Ficou claro que o governo continua a propor a liberalização total do comércio agrícola por parte da Europa e dos EUA sem propor alternativas reais para a consolidação do direito humano à alimentação para todos os brasileiros.

Folha - E o Conselho de Promoção do Direito à Alimentação?
Valente -
A proposta de criação do Conselho Nacional de Promoção do Direito é um passo, mas, no nosso entender, não está no eixo prioritário do governo atual, na medida em que o chefe da delegação, ministro Pratini [Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] nem sequer estava informado sobre o mesmo.



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