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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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Campanha pode levar EUA para o meio de uma briga entre vizinhos

DO "FINANCIAL TIMES"

Quando as forças americanas invadiram Thuluiya nesta semana, na maior caçada ao que chamam de terroristas no Iraque desde o fim da guerra, atacaram um bastião da resistência -ou, simplesmente, deram de cara com uma rixa entre vizinhos.
Thuluiya, ao norte de Bagdá e às margens do Tigre, é um povoado de maioria sunita, habitado pela tribo Jbur, uma das maiores do Iraque. A 20 quilômetros dali, fica Balad, cidade de maioria xiita, com um histórico de conflitos com seus vizinhos sunitas.
Os xiitas são majoritários no Iraque, país que foi dominado pelos sunitas durante os 24 anos de regime do ditador Saddam Hussein, um sunita.
Nabil Daweesh Mohammed, ex-chefe de polícia e atual prefeito de Balad, assume prontamente o crédito por ajudar as forças americanas em Thuluiya. Ele acusa o xeque Jbur na cidade vizinha, Abdul Hamid Shweish, de liderar uma quadrilha de guerrilheiros do Baath, o partido ao qual pertencia Saddam Hussein, que estaria atacando os soldados americanos na região.
"O xeque Abdul Hamid é o principal baathista, o homem que controla a província. Não vá a Thuluiya a menos que você queira uma bala em seu carro: é o lugar mais perigoso do Iraque", diz Mohammed.
Aparentemente, as forças americanas decidiram que isso requeria uma resposta da parte das tropas de ocupação e atacaram as forças locais.

Ligação iraniana
Shweish, o suposto mentor dos "terroristas", se mostrou um homem gentil e hospitaleiro ansioso para limpar a reputação de sua tribo. Mas tudo o que fez foi acusar Mohammed.
"Os soldados americanos conseguiram informações e fontes em Balad. Isso está claro. E em Balad há agentes iranianos, da Corporação Badr [milícia apoiada pelo Irã em ação no Iraque]", disse Shweish.
O coronel Ron Thorsett, comandante da 308ª Brigada de Assuntos Civis do Exército americano, disse estar ciente da rixa entre Thuluiya e Balad.
Já o coronel Bill Macdonald, porta-voz da 4ª Divisão de Infantaria dos EUA, defende as informações coletadas pela inteligência americana.
"Temos soldados especialmente treinados que trabalham com a população local para coletar informações", disse o coronel americano. "E temos recursos para filtrar essas informações e tomar decisões. E, enfatizo, usamos mais do que apenas inteligência humana para identificar os alvos", acrescentou Macdonald.
Não seria a primeira vez, no entanto, que as forças dos EUA se deixariam levar por uma rixa local. Na campanha militar no Afeganistão, em 2001, as forças americanas confiavam em informações locais em sua caçada pela rede terrorista Al Qaeda, do saudita Osama bin Laden, que depois se mostraram nada além de rivalidades locais.


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