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Temor de desintegração diminui,
e cresce discurso pró-democracia
PATRICK E. TYLER
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ
Muitos especialistas temiam
que a derrubada do ditador Saddam Hussein pudesse desencadear históricas forças de desintegração no Iraque. Os influentes
sunitas seriam confrontados pela
maioria xiita, reprimida sob o regime sunita de Saddam, e os curdos enfrentariam turcomenos e
árabes no norte.
Sem o implacável controle de
Saddam, sem o homem forte das
tribos guerreiras sunitas do Iraque central, o país se desintegraria
e vizinhos com interesses próprios -Irã, Turquia e Síria- poderiam até travar guerras pelos
espólios. Mas, até agora, não há sinais de desintegração nacional
sob a ocupação anglo-britânica.
"Somos a favor de eleições democráticas", disse o xeque Majid
Hatem al Sayhoud, importante líder tribal xiita. Apesar de sermões
antidemocráticos e antiamericanos de alguns clérigos xiitas e ataques contra soldados dos EUA
aparentemente realizados por
simpatizantes de Saddam, o sentimento democrático está sendo
ecoado por aiatolás nas cidades
sagradas xiitas de Najaf e Karbala,
pelas elites sunitas de Bagdá e pelos líderes curdos do norte.
Numa terra devastada que viu
três guerras nas últimas duas décadas, um forte sentimento de
identidade -e unidade- nacional está surgindo.
Desde a queda do regime, o líder curdo Massoud Barzani foi a
Najaf -sua primeira visita desde
1967- para fazer uma aliança
com importantes aiatolás. Líderes
xiitas viajaram à cidade curda de
Erbil nesta semana para manifestarem um apoio conjunto à democracia e ao pluralismo. Para alguns iraquianos, isso ainda é uma
fundação frágil diante de poderosas forças de desintegração.
Especialistas crêem que pode
ser ingenuidade supor que líderes
curdos possam ir além de suas
tradições de chefes guerreiros,
que clérigos xiitas possam subordinar convenções medievais da lei
islâmica a conceitos ocidentais de
sociedade civil e que tribos sunitas possam aceitar um sistema no
qual todos sejam iguais perante a
lei. Mas líderes políticos iraquianos não estão só falando em democracia, mas pressionando
EUA e Reino Unido a acelerarem
o processo democrático.
Eles encontram resistência do
administrador da ocupação, o
americano Paul Bremer, porque
ele e seus conselheiros britânicos
crêem que levará meses, talvez
mais de um ano, até o país se
adaptar a um governo representativo. "Quando os historiadores
olharem para trás daqui a 50
anos", disse um alto funcionário
dos EUA, este momento de transição não será o foco. "Pode parecer muito importante agora, mas
o teste real será o processo constitucional que estabelecerá as primeiras eleições democráticas e o
primeiro governo democrático."
Ninguém no governo de ocupação consegue dizer quando serão
as eleições. E há o temor de agir
rápido demais porque o preço do
fracasso pode ser catastrófico para os iraquianos e para os governos Bush e Blair.
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