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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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Temor de desintegração diminui, e cresce discurso pró-democracia

PATRICK E. TYLER
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

Muitos especialistas temiam que a derrubada do ditador Saddam Hussein pudesse desencadear históricas forças de desintegração no Iraque. Os influentes sunitas seriam confrontados pela maioria xiita, reprimida sob o regime sunita de Saddam, e os curdos enfrentariam turcomenos e árabes no norte.
Sem o implacável controle de Saddam, sem o homem forte das tribos guerreiras sunitas do Iraque central, o país se desintegraria e vizinhos com interesses próprios -Irã, Turquia e Síria- poderiam até travar guerras pelos espólios. Mas, até agora, não há sinais de desintegração nacional sob a ocupação anglo-britânica.
"Somos a favor de eleições democráticas", disse o xeque Majid Hatem al Sayhoud, importante líder tribal xiita. Apesar de sermões antidemocráticos e antiamericanos de alguns clérigos xiitas e ataques contra soldados dos EUA aparentemente realizados por simpatizantes de Saddam, o sentimento democrático está sendo ecoado por aiatolás nas cidades sagradas xiitas de Najaf e Karbala, pelas elites sunitas de Bagdá e pelos líderes curdos do norte.
Numa terra devastada que viu três guerras nas últimas duas décadas, um forte sentimento de identidade -e unidade- nacional está surgindo.
Desde a queda do regime, o líder curdo Massoud Barzani foi a Najaf -sua primeira visita desde 1967- para fazer uma aliança com importantes aiatolás. Líderes xiitas viajaram à cidade curda de Erbil nesta semana para manifestarem um apoio conjunto à democracia e ao pluralismo. Para alguns iraquianos, isso ainda é uma fundação frágil diante de poderosas forças de desintegração.
Especialistas crêem que pode ser ingenuidade supor que líderes curdos possam ir além de suas tradições de chefes guerreiros, que clérigos xiitas possam subordinar convenções medievais da lei islâmica a conceitos ocidentais de sociedade civil e que tribos sunitas possam aceitar um sistema no qual todos sejam iguais perante a lei. Mas líderes políticos iraquianos não estão só falando em democracia, mas pressionando EUA e Reino Unido a acelerarem o processo democrático.
Eles encontram resistência do administrador da ocupação, o americano Paul Bremer, porque ele e seus conselheiros britânicos crêem que levará meses, talvez mais de um ano, até o país se adaptar a um governo representativo. "Quando os historiadores olharem para trás daqui a 50 anos", disse um alto funcionário dos EUA, este momento de transição não será o foco. "Pode parecer muito importante agora, mas o teste real será o processo constitucional que estabelecerá as primeiras eleições democráticas e o primeiro governo democrático."
Ninguém no governo de ocupação consegue dizer quando serão as eleições. E há o temor de agir rápido demais porque o preço do fracasso pode ser catastrófico para os iraquianos e para os governos Bush e Blair.


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