São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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COMENTÁRIO

Nem mau, nem perigoso, nem invencível

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Em quase 20 anos, desde "Bad", de 1987, Michael Jackson produziu não mais do que cinco canções realmente boas. Uma delas é "Unbreakable", do disco "Invincible". "Você não pode me quebrar, pois eu sou inquebrável", ele canta. Elepode até ser inquebrável, invencível nos tribunais, mas quem ainda o conhece por Rei do Pop?
O apelido veio nos anos 80, década que pertenceu a Michael Jackson. Foi em 1982 que ele estourou com "Thriller", álbum que está beirando as 50 milhões de cópias -só nos EUA, foram 26 milhões, e está emparelhado com "Their Greatest Hits (1971-1975)", uma coletânea dos Eagles, na disputa de disco mais vendido da história do país. No total, Jackson já vendeu quase 60 milhões de álbuns apenas nos EUA.
"Thriller" -mas também "Bad"- trouxe antes beats e sacadas rítmicas que iriam fazer a fama de gente como Timbaland e Neptunes, os mais talentosos produtores de rap e r&b hoje. E anteciparia a atenção aos passinhos de dança, às coreografias que foram seguidas à risca por boy bands como New Kids on the Block e Backstreet Boys e girl bands como Destiny's Child e TLC.
A influência dele está aí, por todo o lado. Enquanto muito se fala da atual infantilização do universo do cantor, no início de sua carreira, com a experiência de seus cinco anos, Michael Jackson já subia ao palco como um veterano.
Em 1963, Jackson se juntaria aos irmãos no Jackson 5, e com a inconfundível voz, carregaria todos -inclusive o pai, que produzia a banda- a um impensado sucesso. "ABC", "The Love You Save", "I'll Be There"... Com pouco mais de dez anos, já teria garantido singles no primeiro posto da parada da "Billboard".
Após álbuns solo como "Got to Be There" (1972), "Music and Me" (73) e "Forever, Michael" (75), a primeira grande mudança na carreira e na vida de Jackson veio em 1977, com o encontro com Quincy Jones, que produziu "Off the Wall" (79). Amparado por baladas e funks como "Don't Stop till You Get Enough" e "She's Out of My Life", o disco vendeu 7 milhões de cópias. O "ABC" dos Jackson 5 ficava para trás.
A parceria com Jones chegou ao seu ponto máximo com "Thriller". "Beat It", "Billie Jean", "Human Nature", "Wanna Be Startin Somethin'", "The Girl Is Mine"... Praticamente todas as nove canções do álbum são hits.
É aqui que começa a massificação e a intensificação do marketing em torno de Jackson. O extenso vídeo de "Thriller", de 13 minutos e seus zumbis de olhos vermelhos, é considerado um marco no gênero. Com o passo "moonwalking" -que ele pegou emprestado, não foi invenção de Jackson-, criou mania universal em rodas de breaks. Não à toa recebeu o título de artista do milênio em premiação da MTV...
A partir daí, o universo infantil passou a aparecer mais e mais na música e na vida de Jackson. "Bad", seu último grande disco, já traz as baladas cansadas, açucaradas -algumas paranóicas- que acompanhariam o cantor posteriormente. Jackson envelhecia, e seus fãs também.
Os títulos dos discos de Jackson mostram, na cara, o antagonismo e o desespero do cantor após o sucesso de "Thriller". "Bad" não tinha nada de mau, e trazia, pela primeira vez, um Jackson de pele mais clara e de nariz mais fino. O insosso "Dangerous" (92) não tem nada de perigoso, enquanto "Invincible", de 2001 -quando os rumores das enormes dívidas do cantor tomavam o noticiário num pós-11 de Setembro-, é de uma época em que Jackson aparecia mais vulnerável.
Artista que sempre reclamou da perseguição à sua vida pessoal, restava a Jackson turbinar sua carreira com factóides. A campanha de marketing da coletânea "HIStory" (95) foi uma das mais monstruosas -em todos os sentidos- que já se viu no pop. Com mais de US$ 40 milhões, Jackson mandou construir cinco gigantescas estátuas de 18 m de altura -uma delas desfilou em cima de um barco pelo londrino Tâmisa.


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