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RELIGIÃO
Abstenção de italianos em votação sobre lei de reprodução é triunfo de Bento 16 em sua 1ª ação abertamente política
Igreja obtém vitória em plebiscito na Itália
DA REDAÇÃO
A Igreja Católica conseguiu
uma importante vitória política
na Itália, com o fracasso do plebiscito para alterar a legislação do
país sobre reprodução assistida.
Numa campanha que teve o envolvimento direto do papa Bento
16 -a primeira vez em que ele interferiu pessoalmente em assuntos políticos da Itália-, a igreja
pediu que os italianos boicotassem a consulta popular realizada
no domingo e ontem. A exortação
da igreja foi bem-sucedida, dado
que a votação não alcançou a participação mínima de 50% mais
um dos eleitores registrados, o necessário para que fosse validada.
De acordo com dados do Ministério do Interior italiano, apenas
25,9% dos eleitores participaram.
No plebiscito, os italianos foram
chamados a votar "sim" ou "não"
para:
1) o relaxamento das restrições
legais às pesquisas clínicas e experimentais envolvendo embriões
humanos, que incluem a proibição do congelamento de embriões;
2) o relaxamento das restrições
à fertilização "in vitro", que, atualmente, só é permitida em casos de
esterilidade comprovada;
3) a derrubada da emenda que
garante aos embriões os mesmos
direitos dos nascidos;
4) a derrubada da proibição ao
uso, para a reprodução assistida,
de óvulos ou esperma que não sejam doados pelo casal.
Com o fracasso do plebiscito, a
legislação italiana para a regulamentação dos processos de fertilização permanece a mais restritiva
da Europa, o que a torna uma das
mais rigorosas do mundo.
Vida humana
A campanha do papa contra o
plebiscito foi posta em prática pelos bispos e pelos padres italianos
e é coerente com a condenação da
igreja à pesquisa com células-tronco embrionárias, pois o que
está em discussão é se o embrião
já constitui uma vida humana.
Dos vários argumentos utilizados por religiosos e cientistas na
discussão, entre os da igreja está o
de que a vida humana surge no
momento da concepção. Ou seja,
assim que o óvulo é fertilizado. Já
alguns cientistas e outros profissionais que defendem a pesquisa
com as células-tronco afirmam
que não é possível qualificar de
humana a vida do embrião antes
que se forme o sistema nervoso
-o que se dá cerca de 15 dias depois do início da gestação.
"Estou impressionado com a
maturidade do povo italiano",
disse o cardeal Camillo Ruini,
presidente da Conferência Episcopal Italiana. Mas não só a igreja
fez campanha contra a flexibilização da legislação. Essa era uma
bandeira também da direita italiana: "Junto com a igreja, nós conseguimos mobilizar os cidadãos",
disse o senador de centro-direita
Ricardo Pedrizzi.
O primeiro-ministro italiano,
Silvio Berlusconi, em cujo governo as leis foram elaboradas, não
se pronunciou durante a campanha. "Eu mantive o silêncio para
não dividir o país e criar um problema de consciência", disse Berlusconi. Assim como o primeiro-ministro, a maioria dos partidos
também não se pronunciou sobre
o assunto, o que pode ter feito os
eleitores se sentirem pouco estimulados a votar.
Um outro fator de desestímulo
teria sido o fato de as perguntas
feitas nas quatro cédulas terem
mantido os termos técnicos da legislação, o que dificultaria sua
compreensão.
Dos poucos italianos que foram
às urnas, a maioria votou "sim".
Com agências internacionais
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