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EUROPA
Premiê só aceitará debater corte de desconto britânico se houver reforma da Política Agrícola Comum, que a França não admite
Blair ataca subsídio agrícola e dificulta acordo na UE
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A chance de que os 25 países-membros da União Européia cheguem a um acordo sobre o orçamento do bloco para o período
entre 2007 e 2013 ainda nesta semana, na cúpula dos dias 16 e 17,
ficou ainda mais reduzida ontem,
quando o premiê britânico, Tony
Blair, criticou duramente os subsídios agrícolas europeus. Estes
são defendidos pela França.
Em visita oficial a Moscou, Blair
afirmou que só aceitará uma redução do desconto de que gozam
os britânicos -de cerca de 4,6
bilhões anuais- em sua contribuição ao orçamento europeu
dentro de um "quadro abrangente" de reforma do orçamento da
UE, o que atingiria em cheio a Política Agrícola Comum (PAC).
"Não se pode discutir a existência do desconto britânico a menos
que isso seja feito num quadro
abrangente de debate sobre o
conjunto do financiamento da
UE, incluindo o fato de que 40%
de seu orçamento continua dedicado à agricultura. Não acredito
que, no início do século 21, um orçamento assim formulado seja a
melhor resposta para os problemas europeus", declarou Blair.
Na verdade, 42,6% do orçamento da UE, que gira em torno de
82 bilhões, é consumido pela
PAC. As diferentes formas de ajuda ao desenvolvimento regional
vêm em segundo lugar, com
36,4% do total, enquanto as chamadas políticas internas, que englobam pesquisa, segurança, cultura etc., ficam com 7,8%.
A França, que é a maior beneficiária da PAC, é, obviamente, contrária à sua reforma e argumenta
que seu financiamento para os
próximos anos foi acordado em
2002. Após deixar Moscou, Blair
foi a Berlim e ouviu do chanceler
(premiê) Gerhard Schröder que o
governo alemão "se sente compelido" a respeitar o acordo de 2002.
O chanceler pediu que os países-membros deixem para trás os "interesses nacionais" e pensem no
"momento político difícil que a
UE atravessa", abrindo caminho
para um acordo orçamentário.
Segundo Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch, um
instituto de pesquisas franco-alemão situado em Berlim, Schröder
e o presidente francês, Jacques
Chirac, chegaram a um acordo sobre a reforma do orçamento da
UE no último final de semana.
"Paris e Berlim acabarão cedendo um pouco se Blair também admitir abrir mão de parte dos benefícios que cabem aos britânicos. O
problema é que, até que cheguem
a essa conclusão lógica, os líderes
europeus poderão agravar a crise
que o bloco enfrenta. Aos problemas político-institucionais ligados à adoção da Constituição se
somará um bloqueio financeiro",
explicou à Folha Le Gloannec.
Ontem o membro britânico da
Comissão Européia (Executivo),
Peter Mandelson, afirmou que
Londres tem de preparar-se para
abrir mão de parte do desconto.
A proposta em debate, feita por
Luxemburgo, que ocupa a presidência rotativa da UE até o fim de
junho, prevê um orçamento de
1,07% do PIB europeu. A Comissão Européia pedira que ele fosse
de 1,14% do PIB para que os novos membros "não fossem penalizados por disputas nacionais".
A Espanha, hoje a maior favorecida pela ajuda da UE, disse que
aceitará perder parte dela em benefício dos novos membros. A
Itália afirmou, contudo, que vetará a proposta de Luxemburgo.
A cúpula desta semana será,
portanto, agitada. Afinal, além da
questão orçamentária, que tem de
ser decidida unanimemente, estará no centro da pauta o futuro da
Constituição, que foi rejeitada pela França e pela Holanda. Ontem a
Dinamarca disse que, a exemplo
do Reino Unido, poderá suspender seu plebiscito sobre a Carta.
Com agências internacionais
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