São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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EUROPA

Premiê só aceitará debater corte de desconto britânico se houver reforma da Política Agrícola Comum, que a França não admite

Blair ataca subsídio agrícola e dificulta acordo na UE

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A chance de que os 25 países-membros da União Européia cheguem a um acordo sobre o orçamento do bloco para o período entre 2007 e 2013 ainda nesta semana, na cúpula dos dias 16 e 17, ficou ainda mais reduzida ontem, quando o premiê britânico, Tony Blair, criticou duramente os subsídios agrícolas europeus. Estes são defendidos pela França.
Em visita oficial a Moscou, Blair afirmou que só aceitará uma redução do desconto de que gozam os britânicos -de cerca de 4,6 bilhões anuais- em sua contribuição ao orçamento europeu dentro de um "quadro abrangente" de reforma do orçamento da UE, o que atingiria em cheio a Política Agrícola Comum (PAC).
"Não se pode discutir a existência do desconto britânico a menos que isso seja feito num quadro abrangente de debate sobre o conjunto do financiamento da UE, incluindo o fato de que 40% de seu orçamento continua dedicado à agricultura. Não acredito que, no início do século 21, um orçamento assim formulado seja a melhor resposta para os problemas europeus", declarou Blair.
Na verdade, 42,6% do orçamento da UE, que gira em torno de 82 bilhões, é consumido pela PAC. As diferentes formas de ajuda ao desenvolvimento regional vêm em segundo lugar, com 36,4% do total, enquanto as chamadas políticas internas, que englobam pesquisa, segurança, cultura etc., ficam com 7,8%.
A França, que é a maior beneficiária da PAC, é, obviamente, contrária à sua reforma e argumenta que seu financiamento para os próximos anos foi acordado em 2002. Após deixar Moscou, Blair foi a Berlim e ouviu do chanceler (premiê) Gerhard Schröder que o governo alemão "se sente compelido" a respeitar o acordo de 2002.
O chanceler pediu que os países-membros deixem para trás os "interesses nacionais" e pensem no "momento político difícil que a UE atravessa", abrindo caminho para um acordo orçamentário.
Segundo Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas franco-alemão situado em Berlim, Schröder e o presidente francês, Jacques Chirac, chegaram a um acordo sobre a reforma do orçamento da UE no último final de semana.
"Paris e Berlim acabarão cedendo um pouco se Blair também admitir abrir mão de parte dos benefícios que cabem aos britânicos. O problema é que, até que cheguem a essa conclusão lógica, os líderes europeus poderão agravar a crise que o bloco enfrenta. Aos problemas político-institucionais ligados à adoção da Constituição se somará um bloqueio financeiro", explicou à Folha Le Gloannec.
Ontem o membro britânico da Comissão Européia (Executivo), Peter Mandelson, afirmou que Londres tem de preparar-se para abrir mão de parte do desconto.
A proposta em debate, feita por Luxemburgo, que ocupa a presidência rotativa da UE até o fim de junho, prevê um orçamento de 1,07% do PIB europeu. A Comissão Européia pedira que ele fosse de 1,14% do PIB para que os novos membros "não fossem penalizados por disputas nacionais".
A Espanha, hoje a maior favorecida pela ajuda da UE, disse que aceitará perder parte dela em benefício dos novos membros. A Itália afirmou, contudo, que vetará a proposta de Luxemburgo.
A cúpula desta semana será, portanto, agitada. Afinal, além da questão orçamentária, que tem de ser decidida unanimemente, estará no centro da pauta o futuro da Constituição, que foi rejeitada pela França e pela Holanda. Ontem a Dinamarca disse que, a exemplo do Reino Unido, poderá suspender seu plebiscito sobre a Carta.


Com agências internacionais

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