|
Próximo Texto | Índice
ARGENTINA
Para 74% dos moradores de Buenos Aires, Justiça do país deve julgar crimes do regime militar (1976-83)
Prisão de Videla revive ressentimentos
AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires
A prisão do ex-general Jorge Rafael Videla, 73, efetuada na última
semana, fez a Argentina voltar a
encarar o passado e reviveu os ressentimentos contra o regime militar (1976-83) e as memórias de
quem foi reprimido.
A maioria dos habitantes de
Buenos Aires (74%) defende que
as acusações contra os militares
sejam julgadas e os culpados sejam
castigados, segundo pesquisa da
consultoria política Graciela Romer & Associados.
"O regime foi tão sinistro que as
cicatrizes volta e meia se abrem
nesse país", afirma a psicóloga
Beatriz Castiglioni, 50.
Beatriz esteve presa por 17 dias,
em maio de 1977, nas instalações
militares de Campo de Maio (oeste
da Grande Buenos Aires). Estava
grávida de oito meses e conheceu
outras mulheres na mesma condição no cativeiro.
Entre elas, a médica Silvia Quintela, hoje desaparecida, mulher de
Abel Madariaga, 47. Eles são os supostos pais de Pablo Bianco, 21,
um dos menores que o governo de
Videla teria sequestrado.
O ex-general, que presidiu a Argentina de 1976 a 81, está preso de
forma preventiva desde a última
terça-feira, acusado de ser o responsável pelo sequestro e substituição de identidade de Pablo e
mais quatro menores.
O juiz Roberto Marquevich, responsável pelos processos, disse
que define nesta semana a "situação processual" de Videla, que se
negou a depor e quer ser julgado
pela Justiça militar.
Pesquisa
De acordo com pesquisa comandada pela cientista política Graciela Romer, dias antes da prisão de
Videla, somente 17% dos portenhos preferem esquecer o que
ocorreu durante o regime militar.
O restante não opinou.
O perfil do entrevistado que reivindica a punição é jovem (entre
18 e 29 anos), eleitor da Alianza
(frente de oposição ao presidente
Carlos Menem) e de classe baixa.
"As pessoas questionam os atos
do governo militar porque existe
na sociedade um clamor por Justiça", disse Romer.
"O atual descrédito da Justiça
cria um desejo de que se faça as
coisas corretamente."
Pesquisa realizada pelo Centro
de Estudos União para a Nova
Maioria, dirigido pelo cientista
político Rosendo Fraga, mostra
que o Poder Judiciário tem imagem positiva para 5% dos portenhos. Dos entrevistados, 59% opinaram ter uma imagem negativa
do Judiciário.
Na semana passada, a imprensa
argentina especulou que a prisão
de Videla foi uma manobra política do governo para melhorar sua
imagem, principalmente no exterior, quando o presidente Menem
tenta na Justiça obter autorização
para concorrer a um terceiro mandato.
O governo negou, e o juiz Roberto Marquevich, responsável pelo
processo, considerou a idéia uma
falta de respeito.
"A prisão não tem impacto na
política partidária. O governo não
se beneficiará", disse Romer.
Próximo Texto | Índice
|