São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2010

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"Acordo é 1º gesto aos EUA, e Raúl espera resposta", diz jornalista

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O acordo para a libertação de prisioneiros políticos é o primeiro gesto conciliador de Raúl Castro aos EUA, e o dirigente de Cuba alimenta a esperança de que o governo Barack Obama corresponda. Quem diz é o jornalista e escritor americano Jon Lee Anderson, autor de "Che -Uma Biografia" (Objetiva), que às vezes reporta sobre a ilha de Fidel Castro para a revista "New Yorker". Ele prepara novo livro sobre Cuba, mas prefere não falar sobre isso até sua publicação. "Sou supersticioso."

Folha - Como avalia o anúncio das libertações em Cuba? E o papel da Igreja Católica?
Jon Lee Anderson
- A libertação de prisioneiros é importante e promissora por razões humanitárias, diplomáticas e políticas. Não importa que outros cálculos possam ter sido feitos, Raúl Castro está fazendo o primeiro movimento, para o qual espera um gesto recíproco dos EUA -como disse em 2008, quando falou de "gesto por gesto", no caso dos prisioneiros.
Sobre o papel da igreja, é a segunda vez em anos recentes que os Castro transformam a igreja em intermediário. É seguro dizer que a igreja seguirá tendo importante papel no tema e em outros.

Obama estará disposto a gastar capital político num ano eleitoral para responder? Ou vai apenas torcer para tudo ir bem no projeto para liberar viagens de americanos à ilha, que tramita no Congresso?
Apostaria que ele vai adotar a última opção. Mas seria bom vê-lo fazer algo "recíproco e dramático" para ajudar a apertar o "reset".
À exceção de levantar o embargo, o que é altamente improvável, ele poderia soltar os "cinco cubanos" -os espiões cubanos que estão em cadeias americanas desde que foram presos em 98.

Fidel apareceu publicamente duas vezes em uma semana. Como ler a coincidência dos eventos com as liberações? O sr. acha que o Castro mais velho é o freio das supostas mudanças desejadas por Raúl?
Para mim, isso mostra os irmãos mais ou menos de acordo e acomodados em seus novos papéis: Raúl é o pragmático, o mão na massa e administrador da ilha, e Fidel é o oráculo. Pode haver diferenças, mas duvido que veremos os irmãos lavando roupa suja publicamente enquanto Fidel estiver vivo.


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