São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2010

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ANÁLISE SOLTURAS EM CUBA

A ilha deu um passo, mas faltam os mais importantes

É preciso ver se as libertações prenunciarão mais mudanças

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

A melhor avaliação do significado mais profundo da libertação de presos políticos em marcha em Cuba foi feita no jornal espanhol "El País" pelo dissidente talvez mais relevante, Héctor Palacios:
"É o passo mais sério que deu o governo nos últimos 50 anos, em busca da concórdia nacional, e pode abrir uma nova etapa".
Palacios é um dos membros mais famosos do chamado Grupo dos 75, exatamente os que estão sendo libertados. Foi condenado em 2003 a 25 anos de cadeia, mas foi solto por razões de saúde. Exilou-se na Espanha, voltou em 2008 e desde então lidera uma importante plataforma oposicionista do país.
Palacios pode ter autoridade para prever uma "nova etapa", mas é conveniente esperar para ver se a libertação de presos é de fato o início de mudanças que vão além dos direitos humanos.

REFORMAS
Por muito relevantes que sejam, Julia Sweig, diretora de Estudos Latino-Americanos do Council on Foreign Relations, diz que, "apesar dos recentes holofotes, dissidentes e presos políticos não estão no centro de um debate bastante substancial que ocorre hoje [em Cuba]".
O que de fato preocupa os cubanos são as "reformas do Estado, social, institucional, educacional e econômicas atualmente à mesa de discussões", diz Sweig.
A implementação de tais reformas e o tempo para isso é que determinará se se trata de nova etapa ou só de mais uma onda de libertações de prisioneiros políticos. Seria a quinta desde 1984.
O que talvez diferencie o momento atual dos anteriores é que a libertação agora se dá em uma moldura de diálogo com atores internos (a igreja) e externos (a Espanha, falando em nome da UE), na primeira vez que Cuba aceita o que antes chamava de "ingerência".


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