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São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2003

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Pai de soldado morto quer saber "a verdade"

DE WASHINGTON

O mexicano Fernando Suárez, de Escondido, Califórnia, recebeu no final de março uma carta do governo americano com notícias de seu filho, Jesus, 30, que estava no golfo Pérsico desde 2002.
"O papel dizia simplesmente que meu filho estava morto, com um tiro na cabeça", disse Suárez à Folha. "Fiquei sabendo depois, por seus companheiros, que, na verdade, ele pisou em uma mina colocada pelos próprios americanos na noite anterior. Seu pelotão não foi avisado do perigo."
Suárez afirma estar "em busca da verdade" desde que seu filho, um capitão, morreu no Iraque.
"Sei que ele ficou esperando mais de duas horas, ainda vivo, por um helicóptero que o levasse para um hospital. Não quero que as famílias dos outros sofram o que eu e a minha mulher estamos sofrendo e chorando", disse Suárez ao justificar sua participação na campanha lançada ontem.
Susan Schuman, de Massachusetts, mãe do sargento Justin Schuman, 32, que está em Samarra (a 70 km de Bagdá) com outros 17 mil soldados americanos, é outra participante ativa.
"Hoje pela manhã soube das novas mortes no Iraque e ainda não consegui os nomes deles. Estou ansiosa, como todos os dias quando acordo", disse Susan.
Seu filho Justin é da Guarda Nacional americana, uma força responsável por responder a desastres naturais no país e a outras situações internas de emergência.
"Justin não tinha a menor idéia de que acabaria no Iraque, com treinamento precário para uma guerra. Ele dorme em um quarto mínimo, com outros cinco, e se alimenta de ração para soldados há mais de 130 dias", conta.
Susan diz que o filho vinha mandando e-mails frequentes até duas semanas, quando a comunicação foi interrompida. "Não sei onde ele está, se está ferido ou não. Ele sempre me falava de 30, 40 incidentes graves por semana que não aparecem nos jornais." O filho não teme retaliação pelo fato de a mãe falar contra a guerra? "Perguntei a ele antes de entrar nisso. Ele me disse que uma das justificavas que deram à guerra era a defesa da liberdade americana e que isso incluía o direito de eu falar o que bem entendesse sobre o que quisesse."
Larry Syverson, de Richmond, Virgínia, é pai de outros dois soldados. Bryce, 25, está em Bagdá, e Brandon, 31, é o comandante de um tanque em Tikrit.
Desde o início, Syverson protesta três vezes por semana contra a guerra com um cartaz em que mostra as fotos dos dois filhos.
"Eles não gostam disso. Meus filhos são soldados profissionais, só reclamam do calor. Mas eu sou o pai deles e sei que estão em uma zona de guerra. E eles não têm idéia do quanto isso me preocupa, dia e noite", afirma.
Normalmente, Syverson faz seu protesto solitário em frente à sede da Corte Federal da Virgínia.
Ontem, depois do lançamento da Bring Them Home Now (tragam-nos de volta agora, em inglês), em Washington, aproveitou para protestar durante duas horas em frente à Casa Branca. (FCz)


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