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ELEIÇÃO NOS EUA
Crescimento do gasto do governo e restrição de liberdades desagradam tradicional base republicana
Direita também se preocupa com Bush
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Mesmo a direita americana, tradicional base do Partido Republicano, vem-se mostrando preocupada com medidas tomadas e defendidas pelo presidente George
W. Bush, de acordo com especialistas consultados pela Folha.
Os dois pontos que mais inquietam a direita são o déficit orçamentário projetado para 2004, de
US$ 521 bilhões -valor superior
ao PIB brasileiro de 2003-, e as
restrições às liberdades civis impostas desde o 11 de Setembro.
"Parte do déficit é explicável,
pois o 11 de Setembro provocou
uma queda na arrecadação do governo. Ademais, seus gastos subiram por causa do conflito no Afeganistão, da guerra ao terrorismo
e da invasão do Iraque", afirmou
Gary Bauer, presidente do "think
tank" conservador American Values (valores americanos) e uma
das figuras mais influentes da cena política dos EUA.
"É muito mais grave, contudo, o
fato de as despesas em setores não
ligados ao Departamento da Defesa ou ao da Segurança Interna
também terem sofrido uma elevação significativa. Isso causa forte
apreensão em muitos economistas conservadores. Creio que, se
reeleito, o presidente venha a fazer o possível para controlar o
crescimento do Orçamento."
Ana Isabel Eiras, analista sênior
de economia da Fundação Heritage, reputado centro de pesquisa
conservador, concorda com
Bauer. Para ela, o maior problema
do atual governo é "conseguir
conter os gastos públicos".
Retórica ortodoxa
"[Bill] Clinton obteve um superávit orçamentário de cerca de
US$ 230 bilhões em 2000. O governo Bush projeta um déficit de
mais de US$ 500 bilhões para este
ano. Houve uma enorme elevação
no gasto público. Mais problemático é o fato de, desde 2001, os gastos com a defesa e com a resposta
ao 11 de Setembro corresponderem só a 45% do aumento de despesas", argumenta Eiras.
"Nos últimos três anos, os gastos com o seguro-desemprego
cresceram 132% e atingiram US$
56 bilhões. Os com a educação tiveram aumento de 78% e são de
cerca de US$ 58 bilhões. Os programas de saúde ficaram 81%
mais caros, atingindo US$ 60 bilhões. E os subsídios agrícolas tiveram elevação de 76%, chegando
a US$ 23 bilhões. É irônico que
um governo republicano apresente esses resultados."
Na retórica, os republicanos são
conhecidos por defender menor
participação do Estado na economia. Já os democratas declaram-se a favor de que o governo atue
para diminuir os efeitos adversos
do mercado sobre o cidadãos.
Liberdade restrita
Trent England, analista de política legal da Fundação Heritage,
salientou ainda que, quase três
anos após o 11 de Setembro, as
restrições às liberdades civis se
tornaram impopulares até dentro
do Partido Republicano.
"Os republicanos querem defender o país e protegê-lo de novos ataques terroristas. Mas as
inúmeras restrições a direitos individuais introduzidas após os
atentados de 2001 começam a gerar mal-estar até entre aliados de
Bush. Com o tempo, esse quadro
terá de ser alterado, mas a proteção do território não poderá ser
negligenciada", analisou England.
No terreno dos "valores", o governo Bush também não vem
agradando totalmente à direita,
embora ele seja bastante conservador para padrões europeus.
"Alguns grupos religiosos conservadores crêem que Bush poderia ter sido mais ativo no debate
sobre a definição do casamento.
Nos próximos meses, veremos o
presidente mais eloqüente a respeito das questões do casamento
e dos homossexuais. Afinal, ele
sabe que não pode correr o risco
de afastar-se de sua base tradicional. Sua reeleição depende desses
votos", avaliou Bauer.
Com a questão iraquiana minando sua popularidade e com a
candidatura do democrata John
Kerry ganhando força, Bush terá
de afagar seu eleitorado conservador. Todavia terá de tomar cuidado para não fustigar o de centro,
que foi decisivo no pleito de 2000.
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