São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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DIPLOMACIA

Embaixador britânico deseja implantar sistema que certifique que soja produzida no Brasil respeita ambiente

Brasileiro barrado preocupa Reino Unido

VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO

Com a entrada da Polônia na União Européia, o Brasil passou a ocupar a posição de país com o maior número de pessoas barradas ao tentar entrar no Reino Unido. A afirmação é do novo embaixador britânico no Brasil, Peter Collecott, 53. Além desse tema, comércio e ambiente estão no centro das relações entre os dois países, na visão do diplomata britânico. Leia a seguir os principais trechos de entrevista concedida à Folha por Collecott.
 

Folha - Quando o sr. foi convidado para o cargo pelo chanceler Jack Straw o que foi que ele lhe disse? Quais seriam as prioridades?
Peter Collecott-
Já está bem claro no governo britânico que o Brasil será, ainda mais, um grande ator no cenário global. Em Londres me disseram: "você tem que perceber que a juventude britânica está muito interessada no Brasil", devido à música e aos filmes brasileiros. Temos interesse no meio ambiente, em um maior intercâmbio de pessoas. Compreendemos que o comércio não é uma via de mão única, freqüentemente são parcerias. Por exemplo, indústrias em que parte da tecnologia é fornecida pela empresa do Reino Unido. Há ainda interesse em investir em mineração e na indústria de petróleo.

Folha - O que pode ser feito quanto ao meio ambiente?
Collecott-
Queremos montar um esquema no qual os produtores de soja terão sua produção certificada se mostrarem que respeitaram as leis ambientais. É claro que tudo será feito em parceria com o governo brasileiro.

Folha - Qual a sua opinião sobre o recente acordo da OMC para a liberalização do comércio mundial?
Collecott-
Acho que o importante foi a determinação das bases para um acordo futuro, que esperamos leve a um desfecho positivo da Rodada Doha. Damos grande importância ao papel do Brasil nisso. Achamos que a criação do G-20, embora tenha causado um choque, teve um aspecto positivo.

Folha - A França várias vezes apoiou a criação de uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Já o Reino Unido não se manifestou com a mesma decisão, não é?
Collecott-
Quando o presidente Lula esteve em Londres, Tony Blair deixou claro seu apoio. Isso também foi dito publicamente, mas, você está certo, não houve um tremendo alarde. Mas acho que o governo brasileiro notou.

Folha - Há poucas semanas a Folha publicou uma reportagem sobre brasileiros que trabalham ilegalmente no Reino Unido. Isso é uma preocupação para o seu governo?
Collecott-
Naturalmente isso é uma causa de preocupação. Vemos com bons olhos o aumento do número de brasileiros que viajam para nosso país. Mas o fato é que o Brasil é o país que tem o maior número de pessoas com entrada negada. Há campanhas publicitárias para informar às pessoas o que elas têm que exibir para as autoridades. Os últimos dados que vimos sugerem que os números não estão caindo.

Folha - E se não caírem?
Collecott-
Em último caso, uma opção poderia ser pedir às pessoas que tirem visto antes de viajar ao Reino Unido. Espero que não chegue a isso.


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