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ESTATÍSTICA INCÔMODA
Estudo britânico conclui que esse é o índice médio de discrepância paterna em testes de DNA
Um em cada 25 pais cria filho de outro
JEREMY LAURANCE
DO "INDEPENDENT"
Um surto de paranóia masculina é uma conseqüência possível do anúncio da descoberta de
que um em cada 25 pais pode,
sem sabê-lo, estar criando um filho que não é seu.
Uma revisão dos estudos de
perfis de DNA, a prova máxima
da relação genética, mostra que
o índice de chamada "discrepância paterna" -o que acontece quando o homem testado não
é o pai biológico da criança-
varia de 1% a 30%.
Pesquisadores do Centro de
Saúde Pública da Universidade
John Moores, de Liverpool, disseram que o índice médio é de
3,7%, o que significa que quase
um em cada 25 pais testados
descobre que não é o verdadeiro
pai do filho que considera seu.
A revelação pode ser devastadora para as famílias, mas suas
implicações ainda não foram
compreendidas, segundo os autores do estudo publicado no
"Journal of Epidemiology and
Communal Health". Cerca de
um terço das gravidezes no Reino Unido não são planejadas, e
uma em cada cinco mulheres
que mantêm um relacionamento amoroso de longo prazo já teve um caso com outra pessoa.
Os pesquisadores dizem que a
proporção de famílias afetadas
será muito superior a uma em
cada 25, já que, para cada "falso
pai" identificado pelos exames,
há um pai biológico verdadeiro
em outro lugar, possivelmente
com outra família própria.
O uso de exames de DNA vem
aumentando rapidamente, e os
sistemas judiciário e de saúde
dependem deles para procedimentos tais como a doação de
órgãos e a identificação de criminosos. Em alguns casos, como a
identificação de vítimas de desastres, já aconteceu de exames
de DNA terem inesperadamente
trazido à tona uma identidade
biológica diferente daquela sugerida pelos objetos pessoais,
roupas e cartões de crédito das
pessoas testadas -uma surpresa que só intensifica a dor dos familiares sobreviventes.
O professor Mark Bellis, autor
principal do estudo, comentou:
"Sabemos que a infidelidade separa as famílias. Vinte por cento
dos divórcios envolvem alegações de infidelidade por parte de
um dos parceiros ou de ambos.
Há, também, questões relativas à
saúde mental do pai ou da pessoa que pensou ser pai, além da
mulher e do filho".
"Cada vez mais pessoas vêm se
submetendo a esses exames e
correm o risco de receber informações fundamentais, sobre
elas próprias ou sobre seus parentes mais próximos, para as
quais não estão preparadas. Ainda não analisamos as conseqüências da revelação ou não
dessas informações às partes interessadas", completou.
O impacto do exame de paternidade ficou claro durante o
rompimento público entre o ex-secretário do Interior britânico
David Blunkett e sua antiga namorada Kimberly Quinn, após
ele pedir para ter contato com
uma criança que era sua filha, fato revelado por exames de DNA.
Na Alemanha, três irmãos publicaram um livro neste ano
após terem feito testes e provado
serem filhos do aviador americano Charles Lindbergh (1902-74),
que se notabilizou por ter feito o
primeiro vôo solitário atravessando o Atlântico sem escalas.
Várias telenovelas britânicas,
entre elas "Brookside", que se
passa em Liverpool, incluem ou
incluíram tramas relativas a disputas de paternidade, e a Comissão de Genética Humana expressou preocupação quando os
resultados de exames de paternidade foram divulgados ao vivo
no programa "Trisha", da ITV.
O teste de DNA pode ser feito
com um fio de cabelo ou com esfregaços bucais. Pode ser realizado por agências comerciais, com
material enviado pelo correio.
Alguns países estudam a possibilidade de proibir o exame genético de crianças sem o consentimento de pai e mãe.
"Eu sabia"
Ian Gould provou que não era
o pai do filho de sua antiga
amante -após pagar pensão
alimentícia por 13 anos. Ele foi
citado num processo de paternidade na década de 1980, antes do
surgimento dos exames de
DNA. Seu grupo sanguíneo era o
mesmo da criança, o que lhe dava 35% de chances de ser o pai.
Depois de Gould pagar 8 mil libras em pensões por um filho
com o qual não tinha contato,
em 1994 o CSA (órgão que faz a
análise de pedidos de pensão alimentícia) exigiu que a pensão
semanal que ele pagava fosse aumentada de 12 libras para 85 libras. Gould se recusou, alegando
não ser o pai da criança. Um exame de DNA provou que ele e o
garoto não tinham parentesco.
O CSA lhe devolveu o dinheiro
pago desde 1994, mas não o que
ele gastou antes disso.
Gould disse: "Tinha a certeza
íntima de que Craig não era meu
filho. Em alguns momentos, tem
sido de cortar o coração. Quando tinha 11 anos, ele bateu à nossa porta e disse que queria me
conhecer. A mãe havia colocado
na cabeça dele a idéia de que éramos pai e filho. O CSA simplesmente não queria me ouvir."
Tradução de Clara Allain
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