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Brasil propicia inovação, diz estudioso
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para o alemão Frank Usarski,
doutor em ciência da religião pela
Universidade de Hannover e professor do departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP, o surgimento constante de novas religiões sempre existiu, mas
está se tornando mais visível. "A
única coisa que mudou nas últimas décadas é o processo de globalização, que agora nos confronta com grupos religiosos de muitas partes do mundo", diz.
Usarski diz que o Brasil, em que
a liberdade religiosa está garantida até na Constituição, é um país
bastante propício para o surgimento de novas religiões: "A pessoa pode abrir uma igreja pentecostal em qualquer lugar, sem ter
formação teológica. Isso contribui para uma certa criatividade".
Entre as religiões surgidas no
Brasil que apresentam doutrinas
singulares, diferentes das da
maioria dos grupos derivados do
cristianismo, ele aponta a Igreja
do Santo Daime, "um fenômeno
nacional, que já foi exportado para outros países". E, dentro do
Santo Daime, destaca a linha umbandaime, que, como o nome sugere, promove uma fusão com
elementos da religião africana.
"Esse ecletismo é característica
marcante da prática do Santo
Daime", afirma Gê Marques, 48,
comandante da Igreja Reino do
Sol, de Parelheiros (zona sul), vinculada à tradição do Santo Daime.
"O Santo Daime se define como
espírita e bebe um pouco das tradições de pajelança, com aspectos
do cristianismo primitivo."
Há cerca de dois anos e meio a
Reino do Sol começou a realizar
os rituais de umbandaime. No
início com apenas 20 participantes, as "giras" já atraem cerca de
150 pessoas.
"No Santo Daime, o ponto central da prática ritual é a consagração de uma bebida, que chamamos de daime [também conhecida como ayahuasca, que tem poderes alucinógenos]. A ingestão
dessa bebida tem como objetivo
te colocar em contato com esse
universo sutil onde nossos guias
espirituais se apresentam e vivemos os insights que indicam os
tópicos de nossa alma que precisam ser trabalhados", diz Marques. "Num desses insights, descobri minha ligação com a umbanda, quando tive uma manifestação mediúnica. A partir daí, foram anos de manifestações, no
início um pouco caóticas, e de estudos para a compreensão do
acontecimento."
Marques conta que então decidiu criar dentro da Reino do Sol
um espaço para as outras pessoas
que também passassem por essas
experiências. "Às vezes as pessoas
incorporam em momentos inadequados. A pessoa não consegue
não incorporar. Ela precisa chegar num nível em que controle o
seu aparelho [corpo]."
Nas giras, os praticantes fazem a
consagração (ingestão) do daime
e, vestindo roupas brancas, como
na umbanda, cantam e fazem orações, com o acompanhamento de
atabaques. Em seguida, "abrem a
banca" (quando começam as incorporações).
"A bebida proporciona uma
sensibilidade diferente daquela de
quem trabalha na umbanda. O
grau de sensibilização é muito
maior. A bebida traz junto as "mirações", que são as imagens que
esclarecem parte do que está
acontecendo naquele instante.".
Por enquanto, a umbandaime
não chega a ser uma nova religião.
Mas o próprio Marques reconhece que ela pode tornar-se independente no futuro. "Funciona
como uma linha auxiliar, subordinada ao Santo Daime. Mas é impossível prever a forma como se
desenvolverá", afirma. (VP)
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