São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Sob críticas, Brasil estreita elo com Peru

Chanceler Celso Amorim tem reunião com colega peruano hoje em Lima, preparatória para visita de Lula em novembro

Associação indígena acusa Petrobras de não consultar comunidades da selva em comitê da ONU; chanceler peruano vê uso político

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O chanceler Celso Amorim se reúne hoje em Lima com seu colega peruano, José Antonio García Belaunde, para assinar uma série de acordos de cooperação, especialmente para a zona de fronteira, e para preparar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país andino em novembro.
Na véspera da visita, a Agência de Cooperação Brasileira e a contraparte peruana fecharam convênio para melhorar a capacidade técnica da produção de látex na fronteira e também do processamento de castanha. Amorim deve fechar hoje acordo de cooperação de eletrificação rural, por exemplo.
Enquanto os países aprofundam a agenda de parceria em desenvolvimento social, a Aidesep, a principal associação indígena da Amazônia peruana, critica o que hoje é o principal eixo da relação bilateral: a ação conjunta em projetos de integração física, geração de energia e extração petrolífera.
A presidente interina da Aidesep, Daysi Zapata, discursou ontem na Comissão da ONU contra o Racismo, em Genebra, acusando o governo Alan García, em associação com empresas estrangeiras, de explorar a selva sem consultar as comunidades, como prevê convenção adotada pelo país.
Entre outras multinacionais, Zapata acusou a Petrobras, que detém o direito de exploração em cinco lotes no país, de atuar em seu bloco 117, na fronteira com a Colômbia, sem consultar as comunidades indígenas.
Questionado sobre o tema, o chanceler peruano respondeu: "Eu ficaria surpreso se as consultas não houvessem sido feitas. Com a Aidesep, é preciso cuidado, porque há um jogo político aí", disse à Folha.
A assessoria da Petrobras não havia respondido até o fechamento desta edição. Em junho, a empresa havia informado que não faria atividades com presença física ou mesmo sobrevoos na região até ser autorizada pelo governo peruano.
O presidente García trava arrastada queda de braço com a associação indígena, que se diz alijada dos projetos de desenvolvimento para a Amazônia.
Série de protestos de abril a junho deste ano -que envolveu confrontos que deixou 34 mortos- obrigou Lima a recuar de um pacote de decretos pró-investimentos na selva e abrir diálogo com a Aidesep.
Mas a associação sustenta que, enquanto a mesa de diálogo acontece, Lima dá por fechados acordos como o da brasileira Eletrobrás com o governo para construir hidrelétricas no Peru -investimento estimado em US$ 16 bilhões. O projeto da usina de Paquitzapango, que sofre resistência na selva central, foi incluído nas negociações com o governo.
O líder indígena Alberto Pizango, presidente da Aidesep até ser asilado na Nicarágua em junho, critica a hidrelétrica dizendo que ela faz parte do "pacote" brasileiro para o país.
Pizango segue influenciando a crise, com entrevistas à imprensa peruana. García Belaunde disse ontem ter reclamado formalmente com o governo esquerdista nicaraguense pela questão. "Lamentavelmente, as autoridades da Nicarágua parecem não entender quais as obrigações que têm os asilados e o país que os recebe", queixou-se.


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