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Sob críticas, Brasil estreita elo com Peru
Chanceler Celso Amorim tem reunião com colega peruano hoje em Lima, preparatória para visita de Lula em novembro
Associação indígena acusa Petrobras de não consultar comunidades da selva em comitê da ONU; chanceler
peruano vê uso político
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O chanceler Celso Amorim
se reúne hoje em Lima com seu
colega peruano, José Antonio
García Belaunde, para assinar
uma série de acordos de cooperação, especialmente para a zona de fronteira, e para preparar
a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país andino
em novembro.
Na véspera da visita, a Agência de Cooperação Brasileira e a
contraparte peruana fecharam
convênio para melhorar a capacidade técnica da produção de
látex na fronteira e também do
processamento de castanha.
Amorim deve fechar hoje acordo de cooperação de eletrificação rural, por exemplo.
Enquanto os países aprofundam a agenda de parceria em
desenvolvimento social, a Aidesep, a principal associação
indígena da Amazônia peruana, critica o que hoje é o principal eixo da relação bilateral: a
ação conjunta em projetos de
integração física, geração de
energia e extração petrolífera.
A presidente interina da Aidesep, Daysi Zapata, discursou
ontem na Comissão da ONU
contra o Racismo, em Genebra,
acusando o governo Alan García, em associação com empresas estrangeiras, de explorar a
selva sem consultar as comunidades, como prevê convenção
adotada pelo país.
Entre outras multinacionais,
Zapata acusou a Petrobras, que
detém o direito de exploração
em cinco lotes no país, de atuar
em seu bloco 117, na fronteira
com a Colômbia, sem consultar
as comunidades indígenas.
Questionado sobre o tema, o
chanceler peruano respondeu:
"Eu ficaria surpreso se as consultas não houvessem sido feitas. Com a Aidesep, é preciso
cuidado, porque há um jogo político aí", disse à Folha.
A assessoria da Petrobras
não havia respondido até o fechamento desta edição. Em junho, a empresa havia informado que não faria atividades com
presença física ou mesmo sobrevoos na região até ser autorizada pelo governo peruano.
O presidente García trava arrastada queda de braço com a
associação indígena, que se diz
alijada dos projetos de desenvolvimento para a Amazônia.
Série de protestos de abril a
junho deste ano -que envolveu confrontos que deixou 34
mortos- obrigou Lima a recuar de um pacote de decretos
pró-investimentos na selva e
abrir diálogo com a Aidesep.
Mas a associação sustenta
que, enquanto a mesa de diálogo acontece, Lima dá por fechados acordos como o da brasileira Eletrobrás com o governo para construir hidrelétricas
no Peru -investimento estimado em US$ 16 bilhões. O
projeto da usina de Paquitzapango, que sofre resistência na
selva central, foi incluído nas
negociações com o governo.
O líder indígena Alberto Pizango, presidente da Aidesep
até ser asilado na Nicarágua em
junho, critica a hidrelétrica dizendo que ela faz parte do "pacote" brasileiro para o país.
Pizango segue influenciando
a crise, com entrevistas à imprensa peruana. García Belaunde disse ontem ter reclamado formalmente com o governo esquerdista nicaraguense pela questão. "Lamentavelmente, as autoridades da Nicarágua parecem não entender
quais as obrigações que têm os
asilados e o país que os recebe",
queixou-se.
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