São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

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Lula age para que nova cúpula da Unasul não termine em impasse

Presidente diz a Cristina, que será anfitriã de encontro, que quer ver foto de "busca de entendimento" entre Colômbia e vizinhos

Bogotá, porém, não tem a intenção de ceder quanto a acordo que permitirá a EUA usarem bases militares no país para combater tráfico

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Ao aceitar o convite para participar da cúpula extraordinária da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) no dia 28, em Bariloche, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou a anfitriã Cristina Kirchner que o encontro terá que ser muito bem preparado para que dele possa sair uma "boa foto".
Cristina telefonou a Lula anteontem. Oferecia Bariloche para a reunião, destinada a debater o uso de bases colombianas por militares americanos, com o que atingia dois objetivos simultâneos: supria a impossibilidade de se reunir no Equador, presidente de turno da Unasul, pela ausência de relações com a Colômbia, e usava uma boa vitrine para quebrar o medo dos turistas viajarem a essa estação de esqui por causa da gripe A (H1N1).
Lula respondeu que nada tinha a opor. Mas indagou: "Que foto vocês querem que saia da cúpula: a de um impasse ou a de uma busca de entendimento, mesmo que não seja total?".
Se a reunião fosse hoje, a foto seria do mais completo impasse, a julgar pelas contínuas declarações agressivas dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador) e pela posição do colombiano Álvaro Uribe, obtida pela Folha na Chancelaria colombiana.
"Não vamos dar explicações que representem qualquer condicionamento ao acordo com os EUA. Vamos seguir adiante com ele", ouviu a Folha da Chancelaria.
Mais: "Se vai se discutir a questão das bases, queremos discutir também o armamentismo de todos os países da região, a compra de armas e as relações com potências estrangeiras e o terrorismo".
Embora os colombianos tenham adotado a posição de não citar nominalmente presidentes estrangeiros, é óbvio que os comentários se referem principalmente aos acordos da Venezuela com a Rússia.
Em seus dez anos de presidência, Chávez comprou dos russos 24 caças-bombardeiros Sukhoi-30, 50 helicópteros MI-17, M-26 e M-35, 100 mil fuzis AK, entre outros armamentos, no valor total de US$ 3 bilhões.
Depois do anúncio do novo acordo Colômbia/EUA, o venezuelano apressou-se a anunciar que, no mês que vem, assinará com a Rússia "um importante acordo de armamentos para incrementar nossa capacidade operativa", conforme afirmou em entrevista a correspondentes estrangeiros.
Terminou com uma de suas habituais frases de efeito: "Graças a Deus, disse a Putin [Vladimir Putin, premiê russo]. Te agradeço porque, se não fosse pela Rússia, estaríamos quase desarmados, que é o que queria o império [os EUA]".
Nesse ambiente, a "foto" da nova cúpula seria um desastre, motivo pelo qual a diplomacia brasileira começou ontem mesmo a se movimentar para tentar aproximar posições. Lula condiciona a cúpula não apenas a uma "boa foto", mas a não permitir que Uribe seja levado ao banco dos réus.
O trabalho da diplomacia brasileira será, essencialmente, o de "viabilizar a Unasul", mesmo tendo consciência de que há dificuldades entre países-membros. "Se for para acrescentar turbulência, não é preciso fazer uma cúpula porque já há turbulência demais", diz Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático de Lula.


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