|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula age para que nova cúpula da Unasul não termine em impasse
Presidente diz a Cristina, que será anfitriã de encontro, que quer ver foto de "busca de entendimento" entre Colômbia e vizinhos
Bogotá, porém, não tem a intenção de ceder quanto a acordo que permitirá a EUA usarem bases militares no país para combater tráfico
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Ao aceitar o convite para participar da cúpula extraordinária da Unasul (União de Nações
Sul-Americanas) no dia 28, em
Bariloche, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva alertou a
anfitriã Cristina Kirchner que
o encontro terá que ser muito
bem preparado para que dele
possa sair uma "boa foto".
Cristina telefonou a Lula anteontem. Oferecia Bariloche
para a reunião, destinada a debater o uso de bases colombianas por militares americanos,
com o que atingia dois objetivos simultâneos: supria a impossibilidade de se reunir no
Equador, presidente de turno
da Unasul, pela ausência de relações com a Colômbia, e usava
uma boa vitrine para quebrar o
medo dos turistas viajarem a
essa estação de esqui por causa
da gripe A (H1N1).
Lula respondeu que nada tinha a opor. Mas indagou: "Que
foto vocês querem que saia da
cúpula: a de um impasse ou a de
uma busca de entendimento,
mesmo que não seja total?".
Se a reunião fosse hoje, a foto
seria do mais completo impasse, a julgar pelas contínuas declarações agressivas dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Rafael Correa (Equador) e
pela posição do colombiano Álvaro Uribe, obtida pela Folha
na Chancelaria colombiana.
"Não vamos dar explicações
que representem qualquer
condicionamento ao acordo
com os EUA. Vamos seguir
adiante com ele", ouviu a Folha da Chancelaria.
Mais: "Se vai se discutir a
questão das bases, queremos
discutir também o armamentismo de todos os países da região, a compra de armas e as relações com potências estrangeiras e o terrorismo".
Embora os colombianos tenham adotado a posição de não
citar nominalmente presidentes estrangeiros, é óbvio que os
comentários se referem principalmente aos acordos da Venezuela com a Rússia.
Em seus dez anos de presidência, Chávez comprou dos
russos 24 caças-bombardeiros
Sukhoi-30, 50 helicópteros MI-17, M-26 e M-35, 100 mil fuzis
AK, entre outros armamentos,
no valor total de US$ 3 bilhões.
Depois do anúncio do novo
acordo Colômbia/EUA, o venezuelano apressou-se a anunciar
que, no mês que vem, assinará
com a Rússia "um importante
acordo de armamentos para incrementar nossa capacidade
operativa", conforme afirmou
em entrevista a correspondentes estrangeiros.
Terminou com uma de suas
habituais frases de efeito: "Graças a Deus, disse a Putin [Vladimir Putin, premiê russo]. Te
agradeço porque, se não fosse
pela Rússia, estaríamos quase
desarmados, que é o que queria
o império [os EUA]".
Nesse ambiente, a "foto" da
nova cúpula seria um desastre,
motivo pelo qual a diplomacia
brasileira começou ontem
mesmo a se movimentar para
tentar aproximar posições. Lula condiciona a cúpula não apenas a uma "boa foto", mas a não
permitir que Uribe seja levado
ao banco dos réus.
O trabalho da diplomacia
brasileira será, essencialmente,
o de "viabilizar a Unasul", mesmo tendo consciência de que há
dificuldades entre países-membros. "Se for para acrescentar turbulência, não é preciso fazer uma cúpula porque já
há turbulência demais", diz
Marco Aurélio Garcia, assessor
diplomático de Lula.
Texto Anterior: Sob críticas, Brasil estreita elo com Peru Próximo Texto: Pacto reduzirá efetivo militar, diz americano Índice
|