|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Hizbollah cria parque temático no Líbano
"Hizbollândia" é raro momento de abertura de sigiloso grupo xiita
Aberto há 3 meses, local
exibe um labirinto de túneis e trincheiras, armas e bunkers
"para toda a família"
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A MLEETA (LÍBANO)
Um parque temático "para
toda a família", em que as
atrações são lançadores de
foguetes, armas capturadas
do inimigo israelense e uma
rede de bunkers cavada numa montanha são a mais nova atração no sul do Líbano.
Aberto há três meses, o
complexo na região montanhosa de Mleeta é uma incomum demonstração de exibicionismo do grupo xiita Hizbollah, conhecido pelo sigilo
e pela clandestinidade.
Os visitantes são conduzidos por guias que contam
com indisfarçável orgulho a
história do bastião estratégico dos militantes xiitas até
2000, quando a montanha
estava na linha de frente da
área ocupada por Israel.
"É um programa para toda
a família, queremos que nossas crianças aprendam desde
cedo a história da resistência", diz Rami Hasan, administrador do parque.
Segundo ele, 580 mil pessoas já estiveram no parque
desde a inauguração. A
maioria é de xiitas da região,
mas o local também atrai sunitas, cristãos e até estrangeiros, que podem reservar
guias em inglês, alemão, italiano, francês e espanhol.
"HIZBOLLÂNDIA"
A "Hizbollândia", como
foi apelidada por adversários
do grupo, lembra outros parques temáticos na intenção
de dar ao visitante a sensação de estar no lugar dos personagens que viveram e vivem a história contada.
O trecho que mais faz sucesso é o labirinto de trincheiras e túneis cavados na
pedra pelos combatentes do
grupo nos anos 80, e que hoje é exibido como legado da
luta que levou à "liberação"
do sul do Líbano, com a retirada de Israel, há dez anos.
Terrorista para Israel e para alguns países do Ocidente,
o Hizbollah se consolidou como a principal força militar
do Líbano e ganhou aura mítica no mundo árabe por sobreviver à devastadora ofensiva israelense de 2006.
Crianças são levadas a admirar a caverna em que pregava Abbas Musawi, o líder
do grupo morto num bombardeio israelense em 1992.
Além do Corão e de dois fuzis, a gravação de suas pregações completa o cenário.
"Alá é grande! Alá é grande", grita o libanês Khalil, de
calça de ginástica e chinelos,
enquanto estimula os dois filhos a repetir a frase. "É importante eles verem que não
temos medo de Israel", diz.
O passeio começa com um
filme de sete minutos que
narra num tom épico e com
música em volumes ensurdecedores a história do grupo,
com direito a fartas cenas de
tanques israelenses sendo
explodidos e soldados inimigos chorando nos funerais de
colegas mortos.
Logo na entrada, uma cratera chamada de "abismo"
exibe a réplica de um tanque
israelense com um nó no cano, ao lado de covas com letras em hebraico.
ARMA DE PROPAGANDA
Construído a um custo de
US$ 4 milhões, o parque de
Mleeta é mais uma arma no
arsenal de propaganda do
Hizbollah, que tem um canal
de TV, uma rádio e um batalhão de porta-vozes.
Na guerra de nervos com
Israel, a "Hizbollândia" não
usa meias palavras. No hall
de exibição das armas capturadas do inimigo, um grande
painel mostra os alvos preferenciais do grupo xiita em Israel, incluindo Tel Aviv e o
reator nuclear de Dimona, no
distante deserto do Neguev.
No fim, o visitante pode levar um souvenir, como chaveiros com o rosto do líder do
grupo, Hassan Nasrallah, camisas com o logo do parque
ou vídeos com operações de
"martírio" contra Israel.
Os idealizadores da "Hizbollândia" já anunciam para
breve a ampliação do complexo turístico, com a construção de um hotel de luxo,
piscinas, área de camping e
um teleférico. Diversão garantida para a família exercitar junta a aversão a Israel.
Texto Anterior: Prefeito de Buenos Aires será alvo de CPI por espionagem Próximo Texto: Antiterror: Índia estuda banir BlackBerry e vigiar mensagens on-line Índice
|