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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Manifestações favoráveis ao líder da Autoridade Nacional Palestina ocorrem na faixa de Gaza e na Cisjordânia

Palestinos admitem morrer por Arafat

Goran Tomasevic/Reuters
O líder palestino Iasser Arafat acena de seu quartel-general, na cidade de Ramallah, acompanhado de dois pacifistas israelenses


DA REDAÇÃO

Milhares de palestinos saíram às ruas ontem em cidades da Cisjordânia e da faixa de Gaza para protestar contra a decisão de Israel de "remover" o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat. Israel anunciou a decisão na quinta-feira passada, embora tenha afirmado que só pretende efetivá-la quando julgar adequado.
Perto de Hebron, na Cisjordânia, manifestantes palestinos jogaram pedras contra soldados israelenses, mas não houve registro de feridos.
Assim que ouviu o anúncio da decisão do governo de Israel, na quinta-feira, Randa Taher, 38, se encaminhou, juntamente com seus dois filhos, para ajudar a formar um escudo humano para proteger o líder da ANP.
"Serei parte de uma cadeia humana para defendê-lo", afirmou Taher nas proximidades da cidade de Ramallah, diante de uma pilha de carros esmagados por incursões do Exército de Israel. "Eles não podem expulsá-lo [Arafat]. Só o farão se passarem por cima de meu corpo."
Muitos palestinos afirmam que a decisão de Israel está servindo para aumentar a popularidade do presidente da ANP. "Ele representa nossa dignidade. Se ele se for, nossa dignidade vai com ele. Essa é a razão por que estou aqui", afirmou Halima Abu al Dahab, 63, de Jerusalém, que também se dispõe a se tornar um escudo humano para proteger Arafat.
Arafat apareceu ontem em uma janela de seu quartel-general, em Ramallah -onde está cercado por soldados israelenses há 21 meses- ao lado de dois pacifistas israelenses. O presidente da ANP fez o "V "da vitória e saudou centenas de estudantes reunidos para expressar sua solidariedade.
Dizendo-se comprometido com o plano de paz patrocinado pelos EUA, pela ONU, pela Rússia e pela União Européia, ele fez um apelo aos israelenses e afirmou que o objetivo de Israel é erradicar a autodeterminação dos palestinos e suas esperanças de independência.
"Eu apelo a vocês, o povo israelense, para que juntos consigamos fazer a paz... Tudo de que se precisa é a pressão da comunidade internacional sobre Israel para que pare com sua política", disse.
Mas Raanan Gissin, porta-voz do premiê israelense, Ariel Sharon, disse que, "enquanto Arafat estiver por perto, o processo de paz estará morto".
Ontem fez dez anos da assinatura dos acordos de Oslo, que concederam autonomia palestina limitada em algumas cidades da Cisjordânia e da faixa de Gaza e levou Arafat ao poder.
Arafat foi eleito presidente da ANP em 1996, em um pleito que teve supervisão internacional. Desde então, ele tem sido alvo de acusações de corrupção, e não apenas de grupos islâmicos rivais.
Israel tomou a decisão de "remover" Arafat após dois atentados cometidos por palestinos no início da semana passada e que deixaram 15 mortos. O governo de Sharon acusa Arafat de fomentar a violência, o que ele nega.
A decisão recebeu críticas de todo o mundo, inclusive dos EUA, o maior aliado de Israel, e da ONU.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse que a eventual expulsão de Arafat -uma das hipóteses de "remoção"- não ajudaria o processo de paz. O secretário, porém, evitou criticar Israel.
Já o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou que "seria pouco sábio expulsar Arafat".
Os palestinos pediram ao Conselho de Segurança da ONU que votasse contra a decisão tomada por Israel. Apesar da pressão da ANP para uma decisão rápida, o CS agendou para amanhã um debate aberto sobre a questão, depois que seus membros afirmaram que é preciso mais discussão.

Tiroteio
Um palestino de 85 anos morreu ontem em sua casa depois de ser atingido por uma bala perdida vinda de tiroteios entre soldados israelenses e palestinos, na cidade velha de Nablus (Cisjordânia).

Com agências internacionais


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