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ORIENTE MÉDIO
Para analista, intenção de Israel de "remover" o líder palestino o ajuda a recuperar o prestígio perdido
Ameaça israelense "ressuscita" Arafat
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de intelectuais e empresários palestinos chegou a
contatar Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, para que
ele convencesse Iasser Arafat a seguir seu exemplo: deixar o poder
antes do empalidecimento definitivo do prestígio político .
A iniciativa, revelada à Folha
por Riad Malki, diretor do Centro
Palestino para a Disseminação da
Democracia e do Desenvolvimento Comunitário, foi congelada a
partir da última quinta-feira, com
o novo fôlego interno que Arafat
ganhou após a decisão do governo israelense de "removê-lo".
Foi um dos efeitos perversos da
demonstração de força do premiê
Ariel Sharon, segundo um de seus
maiores e insuspeitos críticos.
Henry Siegman, por 16 anos presidente do Comitê Judaico Americano, é diretor de pesquisas sobre Oriente Médio do Council of
Foreign Relations (EUA). Uma de
suas afirmações à Folha:
"Livrar-se de Arafat não remove
nenhum dos impasses da região,
como o terrorismo, os assentamentos judaicos, Jerusalém e as
condições de criação de um Estado palestino". Caso Israel o expulse ou o elimine, "haverá entre os
palestinos uma profunda reação
de hostilidade a Israel, já que estará sendo atingido o seu símbolo
nacional personificado".
Arafat está longe de atravessar
seu período de maior prestígio.
Em parte porque uma parcela de
palestinos tem uma idéia plural
de sociedade civil e de Estado, que
não combina com a visão centralizada e construída na idéia de eficiência necessária para a reconquista da pátria.
Ou ainda porque fracassou o
projeto de criação de um Estado,
esboçado há dez anos nos Acordos de Oslo. Não só por culpa de
Israel e dos assentamentos judaicos em terras árabes (contra os
quais 89% dos palestinos hoje
aprovam atos terroristas), mas
também porque a lógica da paz
contradiz pelo menos 13 dos grupos políticos, religiosos ou milicianos confederados sob Arafat.
Um dos cenários modernizantes prevê a criação de partidos
(social-democrata, liberal, verde)
capazes de dialogar com grupos
que atuam fora do mundo árabe.
E evitar que o Estado palestino fique sujeito ao mesmo equilíbrio
interno de forças da OLP, da qual
Arafat foi, a partir de 1969, o terceiro presidente.
Operação complicada
Nobel da Paz em 1994, ao lado
dos israelenses Yitzak Rabin e
Shimon Peres, Arafat não suprimiu o terrorismo ou neutralizou
seus adversários do Hamas ou do
Jihad Islâmico. Como também
não conteve os terroristas do Fatah Tanzim, que lhe são organicamente mais próximos.
Tornar-se o mínimo denominador entre forças tão díspares é
sempre uma operação complicada. Arafat tende à ambiguidade.
Estudo acadêmico liberado anteontem pelo Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais,
baseado em Washington, considera autêntico um ofício endereçado em 2002 ao general palestino
Fouad Shoubaki, no qual as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa pedem o reembolso de despesas feitas para cometer um atentado.
Arafat está fisicamente isolado
desde dezembro de 2001 em Ramallah. Já atravessou outros períodos difíceis. Sua cabeça esteve a
prêmio na Jordânia, em 1969,
quando o rei Hussein, com o Setembro Negro, eliminou as lideranças palestinas que haviam
constituído um poder paralelo.
Em 1982 ele quase foi morto em
Beirute, quando os israelenses
ocuparam o sul do Líbano e cercaram a capital. Exilou-se na Tunísia. Deixou a diáspora em 1994,
quando se fixou em Gaza.
Oslo poderia ter permitido que
ele deixasse de ser soldado e se
transformasse em estadista, conforme raciocínio comum na época. Seu prestígio era maior ainda
que em 1974, quando, convidado
por embaixadores árabes e não-alinhados, discursou na ONU e
pela primeira vez mencionou a
possibilidade de paz.
"Os Sete Fôlegos de Arafat" é
uma tradução possível ao título
que dois franceses, Christophe
Boltanski e Jihan El Tahri, deram
a uma de suas biografias, publicada em 1997. Nela descrevem a impossibilidade dessa espécie de
versão árabe do bonapartismo,
reinando acima das facções e obtendo legitimidade de todas elas.
O livro, em meio a dezenas de
outros, hagiográficos ou detratores, revela mitos que Mohammed
Abdel Rahman Al Qudwa Al Husseini (nome original do líder palestino) fabricou sobre si mesmo.
Um exemplo: ele não nasceu em
Jerusalém. Nasceu no Cairo
(agosto de 1929), onde se formou
em engenharia, antes de se instalar como empresário no Kuait e se
tornar, nos anos 60, um militante
profissional.
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