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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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ARGENTINA

De 1998 a 2002, número de denúncias na capital subiu 41%; Kirchner joga capital político para tentar eleger seu candidato

Violência é tema central em eleição em Buenos Aires

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

Os dois candidatos que disputam hoje o segundo turno da eleição para a Prefeitura de Buenos Aires, o atual prefeito Aníbal Ibarra -apoiado pelo presidente Néstor Kirchner- e o presidente do time de futebol Boca Juniors, Maurício Macri, focalizaram suas campanhas em um dos problemas mais graves atualmente na capital argentina: a violência.
Ambos, segundo as últimas pesquisas, estão empatados tecnicamente. No primeiro turno, em 24 de agosto, Macri teve 37% dos votos, e Ibarra, 33,6%.
Ibarra, 45, que tenta se reeleger pela aliança de centro-esquerda Força Portenha, diz que pretende reforçar o atual contingente de policiais. "Mas a principal atuação vai ser na prevenção, aumentando o número de vagas nas escolas e criando condições para reduzir o desemprego", disse.
Macri, 45, candidato de centro-direita da sigla Compromisso para a Mudança, pretende criar uma Polícia Metropolitana. "Vamos reforçar as penas, acabar com a oferta de sexo nas ruas e ser mais rígidos com os bandidos", disse.
Os índices de violência se agravaram com a crise social no país. Entre 1998 e 2002, o número de denúncias recebidas por dia cresceu 41%. "O vínculo da distribuição de renda com a taxa de delitos é cada vez mais forte", diz Eduardo Pompei, professor da UBA (Universidade de Buenos Aires).
Há 20 anos, a classe média era mais de 70% da população. Hoje é menos de 30%. Segundo o Indec, o instituto de estatísticas do país, 15% da população economicamente ativa está sem emprego. Outros 18% são subempregados.
Pesquisa recente realizada pelo Centro de Estudos Nova Maioria, baseada em dados do Ministério da Justiça, mostra que, nos últimos 11 anos, a criminalidade na Argentina cresceu 166%.
Uma das medidas polêmicas adotadas recentemente foi uma "lei seca" na Província de Buenos Aires, que determinou limitou a venda de bebidas alcoólicas entre 22h e 6h a bares e restaurantes.

Kirchner e o FMI
A eleição para a vaga de prefeito da capital se tornou também um desafio pessoal para o presidente Kirchner, que tem, na eleição, seu primeiro grande teste político após chegar à Presidência com apenas 22,2% dos votos.
Isso aconteceu porque seu adversário no segundo turno da eleição presidencial em maio, o ex-presidente Carlos Menem, que havia recebido 24,45% dos votos no primeiro turno, desistiu ao perceber que seria amplamente derrotado na etapa final.
Desde então, Kirchner tornou-se bastante popular, mas a reeleição de Ibarra seria uma reafirmação de seu bom momento político. Segundo alguns analistas, Ibarra poderá tirar vantagem da recente vitória política do governo nas negociações de um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Kirchner conseguiu excluir da carta de intenções pontos que eram exigência do Fundo e fechou um acordo mais favorável à Argentina. Isso um dia após ter se recusado a pagar uma parcela de US$ 2,9 bilhões de sua dívida com o organismo.
Na última quinta-feira, um dia após o fechamento do acordo com o FMI, Macri tentou neutralizar o impacto da notícia dizendo não ser "um candidato de oposição ao governo federal" e prometendo estabelecer uma boa relação com o presidente. Até então, o candidato se recusava a associar sua imagem à do presidente.



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