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ARGENTINA
De 1998 a 2002, número de denúncias na capital subiu 41%; Kirchner joga capital político para tentar eleger seu candidato
Violência é tema central em eleição em Buenos Aires
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
Os dois candidatos que disputam hoje o segundo turno da eleição para a Prefeitura de Buenos
Aires, o atual prefeito Aníbal Ibarra -apoiado pelo presidente
Néstor Kirchner- e o presidente
do time de futebol Boca Juniors,
Maurício Macri, focalizaram suas
campanhas em um dos problemas mais graves atualmente na
capital argentina: a violência.
Ambos, segundo as últimas pesquisas, estão empatados tecnicamente. No primeiro turno, em 24
de agosto, Macri teve 37% dos votos, e Ibarra, 33,6%.
Ibarra, 45, que tenta se reeleger
pela aliança de centro-esquerda
Força Portenha, diz que pretende
reforçar o atual contingente de
policiais. "Mas a principal atuação vai ser na prevenção, aumentando o número de vagas nas escolas e criando condições para reduzir o desemprego", disse.
Macri, 45, candidato de centro-direita da sigla Compromisso para a Mudança, pretende criar uma
Polícia Metropolitana. "Vamos
reforçar as penas, acabar com a
oferta de sexo nas ruas e ser mais
rígidos com os bandidos", disse.
Os índices de violência se agravaram com a crise social no país.
Entre 1998 e 2002, o número de
denúncias recebidas por dia cresceu 41%. "O vínculo da distribuição de renda com a taxa de delitos
é cada vez mais forte", diz Eduardo Pompei, professor da UBA
(Universidade de Buenos Aires).
Há 20 anos, a classe média era
mais de 70% da população. Hoje é
menos de 30%. Segundo o Indec,
o instituto de estatísticas do país,
15% da população economicamente ativa está sem emprego.
Outros 18% são subempregados.
Pesquisa recente realizada pelo
Centro de Estudos Nova Maioria,
baseada em dados do Ministério
da Justiça, mostra que, nos últimos 11 anos, a criminalidade na
Argentina cresceu 166%.
Uma das medidas polêmicas
adotadas recentemente foi uma
"lei seca" na Província de Buenos
Aires, que determinou limitou a
venda de bebidas alcoólicas entre
22h e 6h a bares e restaurantes.
Kirchner e o FMI
A eleição para a vaga de prefeito
da capital se tornou também um
desafio pessoal para o presidente
Kirchner, que tem, na eleição, seu
primeiro grande teste político
após chegar à Presidência com
apenas 22,2% dos votos.
Isso aconteceu porque seu adversário no segundo turno da eleição presidencial em maio, o ex-presidente Carlos Menem, que
havia recebido 24,45% dos votos
no primeiro turno, desistiu ao
perceber que seria amplamente
derrotado na etapa final.
Desde então, Kirchner tornou-se bastante popular, mas a reeleição de Ibarra seria uma reafirmação de seu bom momento político. Segundo alguns analistas,
Ibarra poderá tirar vantagem da
recente vitória política do governo nas negociações de um novo
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Kirchner conseguiu excluir da
carta de intenções pontos que
eram exigência do Fundo e fechou um acordo mais favorável à
Argentina. Isso um dia após ter se
recusado a pagar uma parcela de
US$ 2,9 bilhões de sua dívida com
o organismo.
Na última quinta-feira, um dia
após o fechamento do acordo
com o FMI, Macri tentou neutralizar o impacto da notícia dizendo
não ser "um candidato de oposição ao governo federal" e prometendo estabelecer uma boa relação com o presidente. Até então, o
candidato se recusava a associar
sua imagem à do presidente.
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