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Ambiguidade marca relação entre PT e Farc
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Considerado pelas Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia) um antigo aliado no Brasil, o partido do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tem adotado
uma posição crítica, mas continua com um discurso ambíguo
em relação à guerrilha terrorista
-como mostra a participação do
PT na última reunião, em maio
passado, do Foro de São Paulo,
em Quito (Equador).
O Foro é uma organização de
partidos de esquerda latino-americanos idealizada pelo PT.
"O PT participa do Grupo de
Trabalho do Foro de São Paulo.
Houve uma reunião em que eu fui
representar o PT, e a delegação
colombiana, que foi uma delegação ampla, fez uma reunião onde
tratou do tema da guerra na Colômbia", disse Paulo Ferreira, secretário Nacional de Assuntos
Institucionais do PT, em entrevista à Folha, por telefone.
Apontado por um representante das Farc no Brasil como um elo
entre a guerrilha marxista e o PT,
Ferreira negou a ligação, atribuindo a citação do seu nome à participação do encontro em Quito. As
Farc costumam enviar representação para encontros do Foro.
Para Ferreira, a posição do PT
sobre o conflito colombiano é clara: "Nós divergimos da forma pela qual as Farc pensam o processo
de disputa política na Colômbia,
como também temos diferenças
políticas em relação à forma pela
qual o governo colombiano tem
encaminhado a questão da guerra, sem estabelecer pontes".
No documento aprovado em
Quito, entretanto, não há nenhuma crítica às Farc. Por outro lado,
o encontro, que teve a participação de organizações políticas de
14 países, critica indiretamente o
Plano Colômbia (ajuda militar
norte-americana):
"Coincide entre os participantes
a imensa preocupação a respeito
dos pronunciamentos ameaçadores, as manobras e as provocações
do governo dos Estados Unidos
com relação a Cuba, à Venezuela e
à Colômbia (...)", diz o documento, que chama o governo George
W. Bush de "ultradireitista".
O porta-voz e ex-negociador de
paz das Farc, Raúl Reyes, disse,
em entrevista à Folha no mês passado, que conheceu Lula anos antes de ele ser eleito presidente e
considera o PT um dos principais
contatos no Brasil. Ele também citou o frei Betto, assessor especial
de Lula, como um dos contatos
das Farc no país.
Procurado pela reportagem, frei
Betto informou, por meio de sua
assessoria, que desconhece Reyes
e que não mantém nenhum contato com as Farc.
Partido e governo
Questionado sobre se o PT participa das negociações sobre um
possível encontro entre a guerrilha colombiana e a ONU em território brasileiro, o secretário petista disse que não. "Nossa relação é
de debate e de política partidária,
ponto. Quando entra o negócio
de governos e Estados, há os ministérios, as assessorias", afirmou.
No início do ano, o governo Lula se recusou a classificar as Farc
de terroristas, como queria o presidente da Colômbia, o direitista
Álvaro Uribe, sob a alegação de
que o Brasil historicamente não
tem esse tipo de lista e de que uma
medida dessas inviabilizaria um
eventual papel de negociador.
Durante a campanha eleitoral
do ano passado, Lula procurou se
dissociar da imagem das Farc, criticando em diversos momentos a
guerrilha colombiana.
Simpatizante declarado das
Farc (leia texto nesta página), o
vereador do PT de Guarulhos, Edson Albertão, vê o partido dividido com relação à guerrilha:
"Óbvio que uma parte do PT
não concorda com as Farc, tem
uma visão social-democrata e
acredita em outros valores. Porém há uma parte do PT que acredita nas Farc -e é uma parte
também significativa", disse, em
entrevista à Folha.
Petistas não falam
Ferreira recomendou que a reportagem procurasse o deputado
federal Paulo Delgado (PT-MG),
membro da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, mas ele não atendeu aos pedidos de entrevista deixados com assessores e na caixa
de mensagem de seu celular.
A reportagem também tentou
entrevistar o senador Aloizio
Mercadante (PT-SP), secretário
de Relações Internacionais do
partido, mas ele não respondeu
aos pedidos de entrevista deixados com sua assessoria.
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