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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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Colômbia apóia encontro no Brasil

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

A Colômbia vê com bons olhos a oferta do Brasil de sediar uma reunião entre a ONU e as Farc, mas quer que todos os esforços para reativar o processo de paz sejam conduzidos pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
É o que diz a ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Carolina Barco. "O Brasil está interessado em nos ajudar e reconhecemos esse interesse construtivo e válido", diz. "A intenção é que todos os esforços de paz estejam concentrados em uma ação da ONU." Leia entrevista feita por telefone, de Bogotá, anteontem.

Folha - Sob que condições a Colômbia aceitaria uma reunião entre a ONU e as Farc no Brasil?
Carolina Barco -
Em 7 de agosto de 2002, quando o presidente Alvaro Uribe tomou posse, ele pediu ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que, como representante da comunidade internacional, buscasse estabelecer um diálogo com as Farc, em coordenação com o governo colombiano. Recentemente, as Farc enviaram uma declaração dizendo-se dispostas a se reunir com a ONU. O governo brasileiro generosamente ofereceu seu território para essa possível reunião, que teria o apoio da Colômbia.

Folha - De que maneira o Brasil poderia ajudar na reativação do processo de paz colombiano?
Barco -
Desejamos que esse possível diálogo comece com uma aproximação entre a ONU e as Farc. O secretário-geral tem autoridade moral e experiência, e isso nos assegura que começaremos um processo de paz com toda a seriedade e a transparência.

Folha - O Brasil pode ajudar na negociação -ou mesmo na logística - de uma eventual troca de guerrilheiros detidos por pessoas sequestradas pelas Farc?
Barco -
O Brasil está interessado em nos ajudar e reconhecemos esse interesse construtivo e válido. Mas não quero me adiantar aos fatos. A intenção é que todos os esforços de paz estejam concentrados em uma ação da ONU.

Folha - Quais foram os erros cometidos na última negociação, durante o governo Pastrana?
Barco -
Não gostaria de qualificar como erros um processo que foi realizado com a maior boa-fé por parte do governo. Mas temos de aprender com as experiências. Na ocasião, foi criada uma zona desmilitarizada pensando-se que, dessa forma, seria possível avançar nas negociações. Mas o processo não trouxe frutos, e acabou abandonado por Pastrana.
O atual governo tem muito claro que uma zona desmilitarizada não é conveniente porque o Estado deve estar presente em todo o país. Também aprendemos que é preciso haver pontos de partida muito claros, que gostaríamos que o secretário-geral da ONU nos ajudasse a estabelecer.

Folha - Quais são eles?
Barco -
O fundamental é o fim das hostilidades. O governo e os colombianos não podem se envolver num processo de paz enquanto civis são atacados, pessoas são sequestradas.

Folha - O governo Uribe pediu ao governo brasileiro e a outros da região que declarassem as Farc uma organização terrorista?
Barco -
Sim, as Farc são uma organização terrorista. Não há outra qualificação para quem pratica atos vis como o de quarta-feira, quando mandaram a um povoado pobre um cavalo carregado de explosivos, que matou oito pessoas. Isso é terrorismo.

Folha - Mas a Colômbia pediu aos países, inclusive ao Brasil, que qualificassem as Farc como terroristas?
Barco -
Solicitamos, em diferentes âmbitos, que as Farc fossem declaradas terroristas. Assim fizeram o Canadá, a União Européia e os EUA. Em outros âmbitos, onde não existe esse tipo de classificação, o que se fez foi denunciar atos terroristas cometidos por eles.

Folha - O fato de o governo Lula não ter feito uma declaração explícita desagradou a Uribe?
Barco -
Entendemos que o presidente Lula não está de acordo com atos terroristas. Temos nos esforçado para tornar mais efetivos os instrumentos comuns para enfrentar o terrorismo e a droga. Estamos de mãos dadas.

Folha - O presidente Lula disse que, em sua conversa com o presidente Uribe, tentará convencê-lo a unir a Colômbia a um Mercosul expandido em vez de assinar um acordo bilateral com os EUA. Que resposta ele receberá?
Barco -
Para a Colômbia, o comércio é importante tanto com o Brasil e o Mercosul quanto com os EUA. Não se trata de eleger uma opção, pois os processos caminham de forma paralela.



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