São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006

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Otan não obtém mais tropas para Afeganistão

DA REDAÇÃO

Em reunião de emergência ontem na Bélgica, os países-membros da Otan, a aliança militar ocidental, recusaram o pedido de enviar mais tropas para o Afeganistão.
Comandantes das tropas britânicas, canadenses e holandesas haviam pedido um reforço de 2.500 homens para lutar no sul do país contra o grupo islâmico Taleban, derrubado do poder pelos EUA em 2001.
Só nos oito primeiros meses deste ano, houve 2.000 mortes em confrontos no país - contra 1.500 em todo o ano passado. Ontem, morreram mais 50.
Com soldados espalhados em missões no Líbano, nos Bálcãs e no Iraque, muitos países da aliança se negam a enviar mais tropas a um território violento e instável. Atualmente, há cerca de 20 mil soldados liderados pela Otan no país, além de 18 mil americanos sob comando dos EUA.
Uma revolta que eclodiu após um acidente de trânsito envolvendo um veículo militar norte-americano na capital, Cabul, deixou 14 mortos e 140 feridos em maio -uma demonstração do ressentimento de muitos locais com a presença estrangeira.
Para o antropólogo afegão Nazif Shahrani, professor da Universidade de Indiana, nos EUA, "a existência de estruturas de poder que competem entre si no Afeganistão -da Embaixada dos EUA à ONU, das ONGs ao regime fraco do presidente Hamid Karzai- só mantém o desperdício, o nepotismo e a corrupção".
"Além de uma Constituição cheia de furos, o governo fez muito pouco para reconstruir ou melhorar a economia na vida dos afegãos comuns. Viver nas áreas rurais depende cada vez mais do cultivo do ópio, sob a ameaça de erradicação das plantações pelos governos paralelos", afirmou Shahrani à Folha.

Dependência do ópio
Com a economia em frangalhos e boa parte do país sem energia ou com blecautes freqüentes, o Afeganistão está cada vez mais dependente do cultivo de ópio. Mais de 90% da produção mundial do produto, que serve de base para a heroína e a morfina, sai do país.
As exportações ilegais do ópio equivalem a US$ 3 bilhões, quase sete vezes mais que todas as exportações legais do país, que geram apenas US$ 471 milhões. Em 2006, a produção aumentou 59% em relação ao ano passado.
As Províncias de maior produção são justamente Helmand e Nimroz, onde o Taleban é mais forte - acredita-se que o dinheiro da venda do ópio sustente o grupo islâmico.
"O presidente afegão, Hamid Karzai, esperava muito mais ajuda financeira e apoio político dos Estados Unidos", disse à Folha o diretor do Instituto de Estudos Afegãos nos Estados Unidos, o afegão Rauf Roashan.
"Os recursos internacionais não foram coordenados. Boa parte deles vai para as necessidades administrativas e de segurança das ONGs presentes lá, e não para a reconstrução da infra-estrutura."
Apoiado pelos EUA, Karzai está no cargo há quatro anos e meio. O país continua um dos mais miseráveis do mundo - a expectativa de vida é de 43 anos de idade.
(RAUL JUSTE LORES, com agências internacionais)


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