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Otan não obtém mais tropas para Afeganistão
DA REDAÇÃO
Em reunião de emergência
ontem na Bélgica, os países-membros da Otan, a aliança militar ocidental, recusaram o pedido de enviar mais tropas para
o Afeganistão.
Comandantes das tropas britânicas, canadenses e holandesas haviam pedido um reforço
de 2.500 homens para lutar no
sul do país contra o grupo islâmico Taleban, derrubado do
poder pelos EUA em 2001.
Só nos oito primeiros meses
deste ano, houve 2.000 mortes
em confrontos no país - contra
1.500 em todo o ano passado.
Ontem, morreram mais 50.
Com soldados espalhados em
missões no Líbano, nos Bálcãs e
no Iraque, muitos países da
aliança se negam a enviar mais
tropas a um território violento
e instável. Atualmente, há cerca de 20 mil soldados liderados
pela Otan no país, além de 18
mil americanos sob comando
dos EUA.
Uma revolta que eclodiu
após um acidente de trânsito
envolvendo um veículo militar
norte-americano na capital,
Cabul, deixou 14 mortos e 140
feridos em maio -uma demonstração do ressentimento
de muitos locais com a presença estrangeira.
Para o antropólogo afegão
Nazif Shahrani, professor da
Universidade de Indiana, nos
EUA, "a existência de estruturas de poder que competem entre si no Afeganistão -da Embaixada dos EUA à ONU, das
ONGs ao regime fraco do presidente Hamid Karzai- só mantém o desperdício, o nepotismo
e a corrupção".
"Além de uma Constituição
cheia de furos, o governo fez
muito pouco para reconstruir
ou melhorar a economia na vida dos afegãos comuns. Viver
nas áreas rurais depende cada
vez mais do cultivo do ópio, sob
a ameaça de erradicação das
plantações pelos governos paralelos", afirmou Shahrani à
Folha.
Dependência do ópio
Com a economia em frangalhos e boa parte do país sem
energia ou com blecautes freqüentes, o Afeganistão está cada vez mais dependente do cultivo de ópio. Mais de 90% da
produção mundial do produto,
que serve de base para a heroína e a morfina, sai do país.
As exportações ilegais do
ópio equivalem a US$ 3 bilhões,
quase sete vezes mais que todas
as exportações legais do país,
que geram apenas US$ 471 milhões. Em 2006, a produção aumentou 59% em relação ao ano
passado.
As Províncias de maior produção são justamente Helmand e Nimroz, onde o Taleban é mais forte - acredita-se
que o dinheiro da venda do ópio
sustente o grupo islâmico.
"O presidente afegão, Hamid
Karzai, esperava muito mais
ajuda financeira e apoio político dos Estados Unidos", disse à
Folha o diretor do Instituto de
Estudos Afegãos nos Estados
Unidos, o afegão Rauf Roashan.
"Os recursos internacionais
não foram coordenados. Boa
parte deles vai para as necessidades administrativas e de segurança das ONGs presentes lá,
e não para a reconstrução da infra-estrutura."
Apoiado pelos EUA, Karzai
está no cargo há quatro anos e
meio. O país continua um dos
mais miseráveis do mundo - a
expectativa de vida é de 43 anos
de idade.
(RAUL JUSTE LORES, com agências internacionais)
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