São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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PAZ SOB ATAQUE
EUA, ONU e países europeus pedem encontro entre israelenses e palestinos; Barak não crê em sua realização
Cresce pressão por cúpula Barak-Arafat

Reuters
Policiais israelenses observam grupo de palestinos durante oração ontem na Cidade Velha de Jerusalém; menores de 45 anos foram proibidos pela polícia de entrar ontem na Esplanada das Mesquitas


PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Diversos enfrentamentos tomaram conta de Gaza e da Cisjordânia enquanto os Estados Unidos, países europeus e a ONU (Organização das Nações Unidas) aumentavam a pressão sobre palestinos e israelenses para a realização de um encontro de cúpula hoje ou amanhã. O objetivo é tentar pôr fim ao ciclo de violência que envolveu a região nas duas últimas semanas, que já provocou a morte de cerca de cem pessoas, na maioria palestinos ou árabes israelenses.
A reunião, possivelmente no Egito, poderia contar com a participação de palestinos, israelenses, norte-americanos e egípcios. A Jordânia e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, também poderiam integrar a iniciativa para reativar o processo de paz, que enfrenta a pior crise desde 1993.
Até a noite de ontem, porém, ainda não havia um acordo para a realização da cúpula. Segundo Nabil Abu Rudeina, conselheiro do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, as condições para a realização da cúpula não estavam "reunidas".
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak, afirmou ontem à noite que também não acreditava na realização da cúpula. "Suponho que não haverá a cúpula porque não se podem aceitar as condições fixadas sob ameaça da violência", afirmou Barak. "Os norte-americanos e outros chegaram à conclusão de que é impossível aceitar a cada vez novas exigências de Arafat", acrescentou.
Os EUA haviam exortado o presidente Hosni Mubarak a patrocinar o encontro em Sharm al Sheikh (Egito) antes da reunião de cúpula árabe prevista para o dia 21 de outubro.
Apesar da aparente falta de disposição de israelenses e palestinos, Kofi Annan permanecia otimista e afirmou, após um encontro com Arafat em Gaza à noite, que esperava a realização da cúpula no Egito "em 48 horas".
O governo dos EUA aumentou a pressão pela cúpula, tentando reduzir os obstáculos à sua realização. "Nós não estamos estabelecendo nenhuma precondição para a realização da reunião", afirmou o porta-voz da Casa Branca Jake Siewert. Até então, os norte-americanos vinham pedindo que ambos os lados primeiro contivessem a violência para depois realizar o encontro.
Os líderes da UE (União Européia), que estão reunidos em Biarritz, na França, também fizeram um apelo pela realização de uma reunião de cúpula.
"É imperativo que cada um dê mostras de valentia política e de responsabilidade para que a razão vença o medo, o ódio e o extremismo antes de chegarmos a um ponto sem retorno", disse o presidente francês, Jacques Chirac, representando os 15 países da UE.
Pouco antes, o ministro espanhol de Relações Exteriores, Josep Piqué, havia dito que Arafat teria concordado com a realização do encontro. Segundo ele, o premiê espanhol, José María Aznar, telefonou na madrugada de ontem para Arafat para tentar convencê-lo a participar da cúpula. "A resposta foi afirmativa", disse.

Retorno às posições
Os palestinos querem que Israel retorne às posições que ocupava até dias atrás, antes de locomover tanques para a entrada de cidades da Cisjordânia. Tanto israelenses quanto palestinos afirmam ser a favor de um cessar-fogo, mas dizem que a decisão deve ser anunciada pelo outro lado.
Israel atacou anteontem alvos palestinos em Gaza e na Cisjordânia, incluindo um complexo residencial de Arafat, depois que uma multidão palestina linchou dois soldados israelenses que estavam sob guarda da polícia palestina em Ramallah.
Na cidade, cerca de 3.000 pessoas, que pediram uma "Intifada (levante popular) pela independência", participaram de um protesto organizado por diversos grupos palestinos ontem.
"Dizemos a Arafat que rejeitamos uma reunião de cúpula em Sharm al Sheikh", gritavam.
Em Jerusalém, palestinos foram proibidos de orar no Santuário Nobre (nome árabe, ou Monte do Templo, para os judeus). Centenas de policiais e soldados israelenses vigiaram as ruas da cidade.
Palestinos também foram às ruas em Belém e Hebron, onde soldados dispararam contra os manifestantes -ao menos um palestino morreu e dezenas ficaram feridos. Palestinos destruíram bares e hotéis em Gaza. A polícia disse que não conseguiu controlar os envolvidos. As estradas dos territórios de Gaza e Cisjordânia, ocupados desde 1967, continuaram bloqueadas ontem.
Arafat ordenou a prisão dos envolvidos no linchamento dos soldados israelenses anteontem, segundo o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Robin Cook. "Estamos conduzindo uma investigação bastante séria", disse Arafat. "Não nos esqueçamos de que 13 soldados nossos ficaram feridos quando os defendiam."

Governo de coalizão
Barak convidou o líder do partido conservador Likud, Ariel Sharon, a integrar o governo. Espera-se o anúncio de uma coalizão nos próximos dias.
Uma visita de Sharon ao local onde ficam as mesquitas do Domo da Rocha e de Al Aqsa detonou a atual onda de violência.



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