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Acesso a mesquitas é restringido
DO ENVIADO ESPECIAL
"Como não posso entrar? Eu
vou rezar", argumenta o palestino
Mahmud, 19, diante da barreira
israelense a 30 metros da entrada
da Esplanada das Mesquitas, em
Jerusalém. Pouco depois, inconformado, ele ora diante de soldados e policiais na rua.
"Eles prometem liberdade de
acesso aos locais sagrados de todas as religiões, mas a minha não
faz parte dessa categoria", diz.
A situação estava tensa na cidade sagrada, como poderia se esperar numa sexta-feira, dia sensível
devido a sua importância para
muçulmanos e judeus.
Um dia após os ataques de Israel
a cidades palestinas em Gaza e na
Cisjordânia, em seguida ao linchamento de soldados israelenses
em Ramallah, havia um intenso
movimento de militares, em jipes,
cavalos ou a pé. Por toda a cidade,
viam-se também carros da ONU.
Mahmud não foi o único a se
prostrar fora da mesquita. Em diferentes pontos de Jerusalém
Oriental, centenas de muçulmanos participaram do alinhamento
tradicional e do movimento sincronizado que sucede ao apelo à
oração pelo "muezim" -aquele
que convoca as pessoas a rezar.
Muitos deles rezaram diante de
soldados e policiais israelenses,
como uma forma de desafiar a
proibição de ir às mesquitas de Al
Aqsa e do Domo da Rocha.
"Isso mostra que a oração não
será deixada de lado por causa de
proibições sem sentido. A convivência religiosa é possível, sem
dúvida, mas as forças israelenses
não estão permitindo isso", afirmou Faissal al Husseini, principal
líder palestino em Jerusalém.
Israel já havia proibido, "por
prazo indeterminado", a visita de
não-muçulmanos ao palco da
eclosão dos confrontos com os
palestinos, iniciados após a visita
do líder oposicionista Ariel Sharon ao local, em 28 de setembro.
Ontem, barrou também a entrada a muçulmanos, por "razões de
segurança". Acredita-se que o governo temia que os discursos proferidos após a oração islâmica inflamassem os ânimos e levassem a
novos confrontos.
Uma sexta-feira normal pode
reunir 100 mil muçulmanos nessa
área disputada de Jerusalém. Em
ocasiões especiais, esse número já
chegou a 500 mil. Ontem, apenas
cerca de 3.500 pessoas, especialmente idosos, receberam permissão para orar no local.
A cidade da paz (forma como
Jerusalém é conhecida em hebraico, "Ierushalaim", e em árabe, "Al
Quds Madinatu Salam"), ponto
de referência fundamental para as
três grandes religiões monoteístas, testemunhou diversos enfrentamentos ontem.
Várias pessoas que tentavam
avançar em direção às mesquitas
ficaram feridas. Os mais jovens
não aceitaram o veto a sua entrada e levaram golpes de cassetete.
Em algumas ocasiões, pessoas
lançaram pedras contra os soldados, e os choques se intensificaram. A violência se concentrou na
região próxima ao portão de Damasco, em Jerusalém Oriental,
onde se viam carros queimados.
Perto dali, no Café do Portão,
três turistas tomavam suco de romã enquanto soldados israelenses
pediam, em hebraico, refrigerantes ao dono da lanchonete, que
respondia em árabe e inglês.
O "Dia da Ira", convocado por
palestinos para protestar contra
Israel, também resultou em confrontos em cidades da Cisjordânia
e de Gaza, com ao menos 50 feridos. A Cidade Velha de Jerusalém
estava praticamente vazia.
"Não me lembro de ter visto essa área tão vazia nos últimos
anos", afirmou o palestino Issa,
que trabalha como guia explicando a trajetória de Jesus Cristo na
cidade sagrada.
Não havia quase ninguém nas
principais igrejas de Jerusalém
Oriental, incluindo a do Santo Sepulcro, onde, para os cristãos, Jesus foi crucificado e sepultado
temporariamente.
No Muro das Lamentações, local mais sagrado para o judaísmo,
o movimento era inferior ao que
se verifica durante o shabat (dia
sagrado judaico).
Israel considera Jerusalém sua
"capital eterna e indivisível", mas
é visível a diferença entre a parte
judaica e a árabe, onde o lixo demora para ser recolhido, buracos
nas ruas são comuns e reformas
de casas palestinas precisam de
autorização especial.
Os palestinos reivindicam a
porção oriental de Jerusalém como sua capital num futuro Estado
independente. Israel tomou essa
área em 1967 e depois a anexou
-sem reconhecimento internacional- ao seu território.
A disputa em torno da cidade
tem sido um dos principais empecilhos para um acordo de paz israelo-palestino.
(PDF)
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