São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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ARGENTINA
Alvarez fez a declaração ao juiz do caso da compra de votos no Senado
Propina saiu do governo, diz ex-vice

GUSTAVO CHACRA
DE BUENOS AIRES

O ex-vice-presidente da Argentina Carlos "Chacho" Alvarez voltou a atacar o governo ontem, após ter dado uma trégua de um dia. Em depoimento ao juiz Carlos Liporaci, responsável pela investigação dos supostos subornos para a aprovação da reforma trabalhista no Senado, Alvarez disse que o dinheiro para o pagamento das propinas saiu "de dentro do governo" argentino.
Mas o ex-vice reconheceu que não tem provas. "Trata-se apenas de uma dedução lógica." E não foi apenas no depoimento que Alvarez investiu contra o governo, do qual faz parte -mesmo sem ser vice, ele continua a ser líder da Frepaso, um dos dois partidos que integram a Aliança (o outro é a União Cívica Radical, do presidente Fernando de la Rúa).
Antes do depoimento, deu declarações criticando a imobilidade do governo em relação à corrupção no Senado. "Nada mudou por enquanto", afirmou.

Ameaças
Alvarez e a Frepaso ameaçam deixar o governo caso o secretário de Inteligência, Fernando de Santibañes, suspeito de envolvimento nos supostos subornos no Senado, não seja afastado.
Mas o presidente, por enquanto, insiste em mantê-lo no cargo. Até a UCR já se mostrou favorável à saída de Santibañes. Apenas De la Rúa e seus assessores continuam bancando o secretário de Inteligência. A expectativa é que uma mudança aconteça apenas daqui a duas semanas.
Mas, caso mude de idéia, De la Rúa precisa tomar cuidado na hora de tomar a decisão, disse o ex-presidente da Argentina Carlos Menem (1989-99), atualmente líder do Partido Justicialista (oposição).
"O presidente poderá se enfraquecer muito politicamente caso ceda às pressões e demita o secretário de Inteligência", afirmou Menem.

Nova tática
O presidente, por sua vez, adotou uma nova tática de três pontos básicos para melhorar a sua imagem: mostrar-se fortalecido como chefe de governo, reiterar que a coalizão governamental Aliança não rachará e afirmar que país segue no caminho do crescimento econômico.
Pelo menos foi isso o que o presidente tentou fazer em entrevista coletiva para a imprensa estrangeira realizada ontem na Casa Rosada, sede do governo argentino, em Buenos Aires.
A frase "eu sou o presidente e mando no governo" foi dita três vezes pelo presidente durante a entrevista.
Sobre a Aliança, De la Rúa afirmou que chegou a ficar em dúvida sobre o futuro da coalizão no dia da renúncia do então vice-presidente Carlos "Chacho" Alvarez.
"Agora todos sabem que a Aliança será mantida. Ninguém da Frepaso deixou o governo após a renúncia de "Chacho". Todos continuam nos seus postos, inclusive a ministra do Desenvolvimento Social, Graciela Fernadez Meijide", disse o presidente.
Apesar das declarações de que a Frepaso segue firme no governo, foi notada a ausência de integrantes do partido entre os sete ministros e secretários de governo presentes à entrevista de De la Rúa. Não há mais nenhum frepasista em postos-chave do governo. A única que permanece é Meijide, mesmo assim em um ministério tido como secundário.



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